Universitários precisam de socorro – por Carlos Costabeber
Herdei do meu pai a paixão pelo magistério, e mesmo estando aposentado da UFSM, não recuso nenhum convite para palestrar. E foi o que aconteceu recentemente no Curso de Agronomia, quando conversei com os alunos do Prof. Enio Marchesan.
Comecei afirmando que eles são extremamente solitários, pois não têm a quem recorrer nos momentos decisivos da vida. Nós, pais, estamos defasados, e só sabemos dizer: “a vida é tua, meu filho”. Já os professores, por mais experiência que tenham, não conseguem elucidar todas as dúvidas pessoais e profissionais dos seus alunos. A solidão é a única certeza que eles tem!
Depois perguntei o que eles planejavam ser daqui a 10 anos. Ninguém soube responder! E esse foi o mote para mostrar que os jovens “vivem numa redoma”, desconhecendo o que acontece no lado de fora das universidades. É incrível que, num processo tão acentuado de mudanças, a gurizada viva em outra realidade. Como acadêmicos, a maioria está na zona de conforto, achando que o mercado de trabalho os receberá de braços abertos. Puro engano!
Isso mostra como é baixa a interação entre a academia e o mercado de trabalho. Sinto isso, sempre que levo minha experiência como pai, professor e empresário para dentro das salas de aula. Por isso, sugiro que os Coordenadores de Cursos procurem se aproximar do público externo, para que seus alunos possam interagir com o expertise aqui de fora.
Se soma a esse quadro a necessidade do ensino prático. Os alunos se formam com bom conhecimento teórico, mas deficientes na prática profissional. Uns mais, outros menos, mostrando a necessidade dos professores suprirem o currículo com a experiência disponível fora dos muros da universidade. O valor do diploma depende cada vez menos da teoria.
Outro bom exemplo é a baixa fluência em inglês. Como é que são tão negligentes com o seu futuro? Nesse mundo globalizado, o inglês é qualificação obrigatória em qualquer entrevista de emprego ou para estágios no exterior. Os professores devem cobrar isso dos seus alunos.
Poderia me estender sobre o drama que aflige milhares de universitários, pois a conclusão, infelizmente, é uma só: os jovens, mesmo silentes e constrangidos, anseiam por socorro. Nós, professores, pais e empresários, temos a obrigação em tirá-los da incerteza, da angústia, da solidão. São o maior patrimônio da nação, e sonham em ser grandes profissionais.
Se os pais estão defasados e os professores não dão conta de resolver as dúvidas dos alunos, dado o ambiente acentuado de mudanças, exigir da piazada planejamento para 10 anos é demais.
Além disto, muitos cursos não tem como interagir com a "expertise" aqui de fora simplesmente porque ela não existe. A "fauna" das empresas da aldeia é limitada. Bastante limitada. Diversamente da Serra e grande POA, é difícil estudar e conseguir um estágio decente. Extensão também é complicado, nem todas as áreas se prestam para a atividade.
Inglês não é novidade. Algumas universidades européias, em alguns cursos exigiam pontuação mínima no TOEFL como requisito para o diploma. Em terras tupiniquins acharam que era suficiente acrescentar uma ou duas cadeiras de "inglês instrumental" no currículo.
Aí vem o que não foi dito e nem escrito. FGV RJ, cujo curso de direito é bastante avançado nas suas propostas, tem uma disciplina optativa chamada "Programação de Computadores para Advogados". Num mundo onde a tecnologia está cada vez mais presente, grassa o analfabetismo tecnológico entre os egressos da universidade.