Veja degradada. De factóide em factóide, CPI. Mas não para investigar a revista
Já está disponível o 18º artigo-reportagem da série escrita por Luis Nassif, em que ele mostra como Veja, a maior revista do país se transformou em qualquer coisa parecida com lixo editorial. Com manipulação das informações (quando não a própria invenção), para atender a interesses que não o do leitor. Quem sabe dos seus dirigentes, ou da própria empresa que a edita.
Neste último texto, uma história interessante: como a revista mais lida do País conseguiu até gerar uma CPI no Congresso. Um verdadeiro factóide. Mas que conseguiu atingir o principal objetivo: impedir que uma Comissão Parlamentar de Inquérito investigasse a própria revista e seus controladores, que fizeram um negócio no mínimo nebuloso, com a participação de suspeitos investidores internacionais. Confira:
O último factóide
No capítulo O Estilo Veja de Jornalismo mostrei os princípios de atuação ficcional da revista e algumas análises de caso – como a material fantasiosa sobre o estouro do câmbio em 1999.
Não poucas vezes, a revista “criou” notícias meramente recorrendo a um recurso que, em jornalismo, se chama vulgarmente de cozidão – isto é, um apanhado de fatos velhos, já divulgados, mas apresentados como novidade.
Durante a campanha do “mensalão” e depois dela, poucas vezes se viu tamanha quantidade de factóides criados por uma única publicação. Mais surpreendente é que cada matéria, por mais inverossímil que fosse, acaba recebendo ampla repercussão dos demais veículos da grande mídia – com a irracionalidade e falta de critérios típicos do chamado “efeito-manada”.
O último factóide da revista, aquele em que aparentemente fez cair a ficha da mídia em relação ao festival de ficções da revista, envolveu diretamente o Supremo Tribunal Federal (STF).
Foi a matéria A sombra do estado policial, de Policarpo Júnior, capa da edição de 22 de agosto de 2007 (clique aqui), ainda dentro do clima conspiratório herdado da campanha eleitoral.
Como sempre, capa, manchete, submanchete, tudo recendia a conspiração:
Medo no Supremo
Ministros do Supremo reagem à suspeita de grampo na mais alta corte de Justiça do país.
Ninguém mais na mídia tinha percebido qualquer sinal de “medo” do Supremo, ou de generalização das escutas atingindo os Ministros. Aliás, os últimos abusos contra juízes haviam partido da própria revista e do próprio autor da reportagem, no falso dossiê contra o então presidente do Superior Tribunal de Justiça Edson Vidigal – abordado no capítulo O dossiê falso.
Não se sabia ao certo qual a intenção da matéria. Seguramente, uma tentativa canhestra de se aproximar do Supremo, utilizando a moeda de troca da qual a revista sempre usou e abusou: a visibilidade, a apologia, pegando no centro de uma das fraquezas humanas, a vaidade.
Podia ser a Abril querendo se aproximar do STF (em função da expectativa de uma eventual CPI da Abril), ou se sentindo objeto de investigação da Polícia Federal, ou algo relacionado com as pendengas entre Daniel Dantas e a PF; ou mesmo como forma de coação indireta aos membros do STF, que estavam prestes a julgar os acusados pelo “mensalão”.
Que era um factóide, não havia dúvida.
Na abertura, forçava um lide, dentro do estilo tatibitate-recitativo (sim, beira o inacreditável) de Mario Sabino, em cima dos levantamentos de Policarpo.
É a primeira vez que, sob um regime democrático, os integrantes do Supremo Tribunal Federal se insurgem contra suspeitas de práticas típicas de regimes autoritários: as escutas telefônicas clandestinas. Sim, beira o inacreditável, mas os integrantes da mais alta corte judiciária do país suspeitam que…
EM TEMPO: o caso Veja, tratado com grande talento, e muita informação, por Nassif já provocou ao menos uma reação da Editora Abril, que resolveu processar o jornalista. E também o chamado núcleo de comando da redação, Eurípedes Alcântara, Mário Sabino e Lauro Jardim. Em contrapartida, se expande na internet uma grande rede em torno do jornalista. São pelo menos 800 sítios (inclusive este, nem tão modesto) reproduzindo o trabalho. E mais: se você clicar veja no Google, por exemplo, encontrará com destaque, logo no comecinho, a série de artigos-reportagens de Nassif. Portanto, há uma clara adesão à leitura por parte dos internautas. Assim, de um lado, solidariedade ao excelente trabalho de Nassif. De outro, novos fatos. E, sobretudo, a disseminação do trabalho, algo que, modestamente, também estou fazendo por aqui.
EM TEMPO (2): é incrível que, embora fato da maior relevância, a mídia grandona (e a que se acha) está simplesmente ignorando o assunto, por mais rumoroso que é. Faz sentido, não?
SUGESTÃO DE LEITURA – Não deixe conferir aqui a íntegra do texto O último factóide. No mesmo endereço você encontra todos os outros 17 capítulos já escritos por Luis Nassif, e que correspondem (com os que ainda virão) num verdadeiro inventário de uma revista que já foi a de maior credibilidade do país e hoje é um simulacro, para dizer o mínimo.
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