A falsa pressuposição da igualdade dos afetos – por Liliana de Oliveira
Sempre que perguntamos aos nossos pais se amam os filhos do mesmo modo, todos respondem categoricamente que sim, que amam todos igualmente. Fingimos acreditar porque estamos dentro de uma cultura que entende que a noção de justiça está ligada à igualdade. Por isso, entendemos que distribuir os bens e os afetos de modo igualitário parecer ser o mais justo. Afinal, como lidaríamos com um pai ou uma mãe que afirma amar de modo desigual ou diferente? Certamente perguntaríamos na sequência como é essa diferença e se ela pressupõe alguma preferência.
Sentimos a diferença dos laços de afeto cotidianamente. Por vezes nos sentimos preferidos, outras vezes reconhecemos a preferência dos pais por um ou outro irmão. Sabemos que pessoas diferentes, estabelecem relações diferentes. Sabemos que não temos como amar pessoas diferentes do mesmo modo. Mas, então, por que essa insistência na pressuposição da igualdade dos afetos?
A pressuposição da igualdade dos afetos não aparece apenas nas relações entre pais e filhos mas atravessa as relações afetivas de modo geral. Há namorados enciumados que exigem que fotos, cartas, contatos e todo e qualquer vestígio da relação anterior seja apagado. Como se o ato de se desfazer disso fosse capaz de desfazer ou apagar aquilo que um dia existiu. Ou então, como se ter amado alguém um dia inviabilizasse amar um outro. Temos medo da demonstração de afeto a um outro, pois tememos perder o amor daquele que amamos. Aprendemos a acreditar na igualdade e na exclusividade do amor.
Se pensarmos um pouco, veremos que nenhuma relação substitui outra. Nenhuma relação pode ser comparada a outra, assim como nenhuma pessoa possa ser comparada a outra. Isso tudo porque não há igualdade na distribuição dos afetos. Tudo porque somos seres relacionais, afetivos, sexuais, que sentem diferente, pensam diferente, amam diferente e que colocados numa relação afetiva agem diferente. Aquilo que estabelecemos com alguém, o que conversamos, amamos, ouvimos, sentimos é irrepetível e insubstituível. Pensando assim, não temos por que ter ciúmes dos nossos amores ou dos nossos irmãos porque aquilo que um dia tiveram conosco, jamais terão com um outro.
Por isso entendo uma mãe quando perde o filho e que sempre sentirá a ausência daquele filho. Nenhum filho substitui outro, assim como nenhum amor substitui outro. Uma mãe segue vivendo porque tem outros filhos ou outros afetos que lhe ajudam a perceber que há muita vida pra viver. Mas será sempre uma vida marcada pela ausência do quarto vazio do filho que não volta mais.
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