COMÉRCIO. Novo presidente da CDL, Ewerton Falk acredita no sucesso das lojas abertas aos domingos

Por MARCOS FONSECA

Santa-mariense há muito tempo longe da terra natal, Ewerton Falk retornou ao Coração do Estado há três anos para reconstruir sua vida. Suas raízes na Cidade Universitária pesaram na escolha. Formado em Economia, ele optou em trocar o emprego como representante de duas multinacionais do setor de tintas no Sul do Rio Grande do Sul para encarar o desafio de ser empresário em Santa Maria.

Falk tem 47 anos e, desde 2012, comanda duas lojas de tintas na cidade. Revende por aqui as mesmas marcas para as quais trabalhou por 15 anos em Pelotas e região. Com MBA em Gestão Empresarial e prestes a concluir mestrado em Políticas Sociais na Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Falk decidiu assumir mais do que um compromisso pessoal ao vir de mala e cuia para Santa Maria. Ele deseja ajudar sua cidade a crescer e se desenvolver. Como? Com a união de forças do setor varejista, ele responde.

Uma das maneiras de contribuir para o crescimento do comércio local será por meio da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Em um jantar na noite desta quarta-feira, 8, no restaurante Les Quatre Saisons, Falk assumiu oficialmente a presidência da entidade pelo período de 2015 a 2017. Ele sucede Jacques Eskenazi Neto.

Em entrevista a este site concedida quarta-feira, poucas horas antes da solenidade de posse, Falk falou sobre a desafiante proposta da CDL e do Sindicato dos Lojistas (Sindilojas) de abrir o comércio de rua um domingo por mês em Santa Maria, o chamado projeto Soma, que começa já neste domingo, 12. A meta é reforçar o setor varejista em um momento de crise, e evitar desemprego.

Ele aborda, também, a crise na economia nacional e a união entre os lojistas para se fortalecer e crescer. O empresário toca em outro ponto, ainda que sem se aprofundar na questão, sobre a necessidade de Santa Maria ter “lideranças efetivas” para defender as causas locais.

Falk revela, ainda, que, para investir na abertura de uma loja de tintas, o melhor teria sido ficar em Pelotas, onde o mercado é mais pujante. Porém, ele acredita no potencial da terra. “Para mim, o maior sentimento que temos de ter em Santa Maria é que as vaidades sejam colocadas de lado”, observa o novo presidente da CDL.

Leia a seguir, em tópicos, alguns trechos da entrevista:

Lojas abertas aos domingos

Segundo Ewerton Falk, o nome do projeto, Soma, foi dado exatamente porque ele busca unir forças. Primeiro, o desafio será criar a cultura das compras no comércio de rua aos domingos. E não apenas o cliente precisa mudar seu comportamento. Os próprios comerciantes devem estar conscientes da necessidade de tornar o domingo um dia útil para o comércio. Uma das resistências, no momento, são os donos de bares. Falk acredita que o projeto levará um ano, no mínimo, para dar retorno. Os resultados não serão apenas lucro para o comércio. O setor de turismo também será beneficiado com a vinda de consumidores de fora da cidade.

Segurança aos lojistas e consumidores

As lojas do Calçadão e das ruas centrais de Santa Maria devem abrir neste domingo, 12, entre 13h e 18h. Como a iniciativa é por adesão, o lojista que não quiser abrir, não será obrigado a funcionar. A proposta visa aos pequenos e médios empresários, já que grandes redes de varejo, como Renner e Riachuelo, já abrem as portas aos domingos no Centro.

Uma das preocupações de Falk é com a segurança. Nesse sentido, a CDL e o Sindilojas receberam o apoio da Brigada Militar, que reforçará o policiamento no Centro nos domingos de lojas abertas. “Se eu não tivesse o apoio deles (Brigada), era inviável abrir”, admite.

Domingo de lazer ou trabalho?

Conforme o presidente da CDL, o projeto Soma exigirá que as pessoas “mudem seus paradigmas”. Falk reconhece que retirar um pai de família de casa aos domingos para trabalhar precisa ser visto “não como castigo e, sim, como uma atitude nobre pela sociedade”. “Pela minha formação, eu quero trazer esse lado muito humano das relações. A gente não abdica do resultado do negócio, mas não impede que tenhamos um olhar humanista e sociológico das relações”, afirma.

Disputa com as grandes redes

Uma das metas das entidades do comércio é fortalecer os pequenos comerciantes, para que possam concorrer com as grandes redes de varejo. Nesse ponto, o pensamento de Falk é diferente do que ocorre no setor de supermercados, que há sete anos não abrem aos domingos em Santa Maria. “Não temos de lutar para a Renner não abrir, temos de lutar para abrir de igual para igual com eles”, diz. “E nós vamos ser grandes de que forma? Nos unindo”, acrescenta.

A adesão dos comerciantes

Falk admite que está preparado para não ter surpresas negativas neste primeiro domingo de lojas abertas. A adesão à proposta pode ser pequena. Uma pesquisa feita em março revelou que apenas 25% dos comerciantes do Centro eram favoráveis à abertura aos domingos. Segundo o presidente da CDL, esse resultado, que poderia pôr em cheque a proposta, se deu porque os empresários ainda não conheciam o projeto.

Depois de explicar a iniciativa aos associados, Falk assegura que uma pesquisa mostrou que mais da metade (65%) dos comerciantes passaram a topar a ideia da abertura. “A gente sabe que nosso maior desafio é que o lojista de Santa Maria compre a ideia da viabilidade. Nós vamos preservar, não vamos nos entregar”.

Os supermercados voltarão a abrir?

As negociações entre a CDL e o Sindilojas com os supermercadistas de Santa Maria estão ocorrendo. A intenção é que os mercados também voltem a abrir aos domingos. Mas Falk antecipa que, se isso ocorrer, vai demorar. A convenção trabalhista que decidiu manter as portas fechadas tem validade até metade de 2016. Até lá, não há expectativa que os santa-marienses voltem a comprar nos supermercados aos domingos.

A crise econômica

Que existe uma crise econômica no Brasil, hoje, não há dúvida. Os números mostram isso: inflação acima de 8% em 12 meses, taxa de juro do cheque especial batendo no maior nível desde 1995 e desemprego em alta. O presidente da CDL também repete o discurso de que Santa Maria é um caso à parte, já que aqui grande parte do dinheiro que circula no comércio vem dos salários do setor público. Ele diz que outra vantagem local é poder atrair consumidores de cidades da região. Para dar lastro à economia local, Falk defende o fortalecimento do comércio santa-mariense. A abertura de um curso de tecnólogo de gestão de varejo está nos planos das entidades.