Santa Maria

OPINIÃO. “Não há paz, enquanto não houver justiça!”

kiss selo 2Fui me dar conta depois, eram 4 e qualquer coisa da manhã, o horário do seguinte diálogo.

“- Alô!

– Claudemir, aqui é a Lislaine. Tu pode vir ao hospital?

– Claro, Lis, mas o que houve?

– Tem centenas de pessoas aqui na frente, e a gente não está conseguindo dar conta. Precisamos de ti para nos ajudar.

– Sim, mas…

– Claudemir, houve um incêndio na Kiss. Parece que morreram mais de 20 e não para de chegar pessoas aqui.

– Ok, não te preocupa. Estou aí em 10 minutos”.

Com o perdão do depoimento pessoal, mas foi assim, num telefonema da colega Lislaine, assistente social do Hospital de Caridade, que tomei conhecimento, na madrugada de 27 de janeiro do ano passado, 2013, daquela que seria a maior tragédia da história de Santa Maria e do Estado, e que mataria 242 jovens, ferindo centenas de outros – muitos com sequelas das quais ninguém ousa dizer que se livrarão.

Dentes escovados, jeans, camiseta e sandálias no corpo, demorei mesmo os 10 minutos anunciados. E parti, saberia depois, para uma jornada que me faria praticamente “morar” no HC por duas semanas. Mais que isso, porém, o que importa é que, dos mortos acumulados numa sala do Pronto Socorro, pois assim lá chegaram, às dezenas de feridos que seriam atendidos com invulgar denodo, atenção e carinho por profissionais em serviço e aqueles muitos que voluntariamente lá foram, da equipe de hospital ou não, sobra a inevitável constatação: praticamente nada aconteceu, em termos de responsabilização para esse que foi, sim, um MASSACRE. Pior: corre a sensação de que nada ou quase nada acontecerá.

Não tenho nenhuma dúvida, e nem sequer estou preocupado com provas e outros quetais de natureza processual ou legal: quem esteve no Hospital de Caridade naquele dia, como eu, ou no CDM e outros hospitais, como muitos outros, sabe do que se está escrevendo aqui. Houve um CRIME HEDIONDO. Que teve como vítimas criaturas sem culpa. Exceto a de querer divertir-se, como qualquer um que tenha a idade deles, na casa dos 20 anos, mais ou menos.

Há, sim, culpados. Privados. E Públicos. Em esferas diferentes, e talvez com gradações diversas. E culpas que foram devidamente apuradas, muitas delas. E cuja responsabilização se viu frustrada por filigranas – palavra suave para o que cada um pode concluir.

Lembro, nesse momento, do “seu Tonito”. Um veterano jornalista já no início dos anos 90, que conheci em Canoas. Ele me ensinou uma lição de vida, afora oferecer seus conhecimentos na profissão.

Logo ao ser apresentado, usei meu bordão habitual: “tudo em paz, seu Tonito?”.

Ao que, me respondeu: “não, meu filho, não. Não haverá paz, enquanto não houver Justiça”.

Foi a primeira vez que tomei conhecimento da expressão. Jamais esqueci. Mas há quem não entenda isso até hoje.

EM TEMPO: esta também foi a frase usada, no sábado, pelo presidente da Associação dos Familiares das Vítimas da Tragédia, o empresário Adherbal Ferreira. Que tem toda razão. Ponto.

EM TEMPO (2): o selo que ilustra esta nota é excerto de uma foto tirada pelo editor no dia 17 de maio passado, na Praça Saldanha Marinho. Ele persistirá, indefinidamente, nas notas referentes à tragédia. É compromisso do sítio.

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6 Comentários

  1. Resumir tudo a ataques politicos é de uma baixeza incrivel. Fácil reduzir e não avaliar o que aconteceu e ver estes familiares e sua dor, depois que Schirmer disse que ninguem que ELE queria ver tudo esclarecido consegui medir a “grandeza” de nosso prefeito egocentrico.

  2. Nada será como antes. Nas famílias enlutadas, na cidade, nos bancos universitários ou por onde mais ecoem os lamentos e respinguem as lágrimas desse massacre. Por mais que os soldados do desenvolvimento apregoem que é preciso acabar com o luto,não há como. Mas,por favor, percebam que a cidade não parou não.Que os enlutados não pararam a cidade. Apenas encontraram força e sobre-força para manter viva a necessidade de que respostas fossem dadas,em todas as esferas,inclusive judiciais. Apenas buscam JUSTIÇA para seus meninos e meninas que foram engolidos por esse lodo de ganância e jeitinhos. Inocentemente. Pouquissimos dias após a tragédia, a cidade voltou a caminhar. Os familiares, arrasados, não deixaram de abrir as cortinas de suas casas.Tropegos,com os olhos marejados, foram ao trabalho. Seu Adherbal,uma semana depois,buscava agrupar pessoas em uma associação, para confortar, para dividir dores, para lutar. E assim foi.Surgiram outros movimentos com a mesma essência. E continuam por aí. Podemos vê-los em suas atividades. Não os conheço pessoalmente,mas nos corações e mentes do Adherbal, do Ildo Toniolo, do Flavio, da sra. Beuren, do Paulo Flores, pais e mães de janeiro, JUSTIÇA não combina com vingança. Seus filhos valem mais do que interesses polítiqueiros e comerciais. Que se proteja os que dormem com os anjos e não os que se escondem em gabinetes. Desculpem se me alonguei,mas … Abraço.Claudemir, e parabéns pela luta e coragem. Precisamos disso.

  3. Claudemir
    Tive a chance de dizer isto, talvez com diferença de algumas palavras, na tribuna da Câmara de Vereadores quando alí estive por alguns dias no ano passado.
    Não adianta falar em a cidade retomar seu rumo, voltar a sorrir, ou seja lá o que for, enquanto o caso não ficar bem explicado e esclarecido. Com as devidas responsabilizações.
    Mas, e isto se percebe até em comentários aqui no site, há mentes pequenas e outras com interesses bem determinados, que insistem em querer dar um tom político partidário a qualquer tentativa de cobrança aos responsáveis. Foi assim que a prefeitura saiu ilesa até agora. Não pode haver manifestação de rua, pois já colocam o caso como de política partidária por um dos inúmeros manifestantes ser de algum partido. Como se isto fosse crime e o cidadão filiado a partido perdesse seu direito à cidadania.
    Enquanto isto persistir, ficará a sensação de que esta grande tragédia não nos deixará legado que impeça novas mortes e nossa cidade poderá se tornar a capital mundial da impunidade. Claro, tudo isto, na minha modesta opinião.

  4. Em 2013 não estávamos em Santa Maria, meu sogro havia falecido, quando ao acordarmos recebemos a notícia, num primeiro momento me forcei a acreditar que tinha sido um engano de quem passava a mesma, mas com as atualizações me obriguei a levantar e conferir aquele “pesadelo”, que infelizmente não foi possível acordar. Me entristece ver a indiferença de algumas pessoas, não consigo conter a emoção quando leio e escuto relatos sobre o assunto. Que tenham muita força. Meu respeito e solidariedade a todos.

  5. Concordo que tem que ter justiça, mais a pergunta qual o motivo que só tem um lado culpado, vamos tirar a blindagem e pegar todos dos em quem doer.

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