O material produzido pela assessoria de imprensa da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm) dispensa comentários adicionais. Ele é, em si mesmo, fundamental para a compreensão de um tempo cinza do País de uma forma geral e da Universidade em particular – no que toca a direitos singelos da democracia, fraudada em nome do combate a algo que não estava nem perto dos horizontes brasileiros.
Dito isto, ao trabalho, de resto excepcional, com a entrevista feita por Fritz Nunes (autor do texto final), Ivan Lautert e Rafael Balbueno (que fez também as fotos), com o médico, professor e político Eduardo Rolim. Há, lá no linque que você pode acessar no final da nota, também uma gravação em vídeo que vale muito a pena conferir. Acompanhe:
“Eduardo Rolim fala sobre ditadura e a UFSM…
…Durante a ditadura civil militar que mandou no Brasil entre os anos de 1964 e 1984, ele foi um dos dois expurgados do quadro de professores da UFSM. Eduardo Martins de Oliveira Rolim era professor do curso de Medicina da UFSM e também vereador pelo antigo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), então liderado por João Goulart e Leonel Brizola.
E é justamente o fato de pertencer à sigla que já havia coordenado a Campanha da Legalidade, em 1961, e que propugnava reformas de base no país, que acabou rendendo a ele a exclusão da docência na UFSM, em 1964. Dois anos depois, em 10 de novembro de 1966, acabou também tendo seu mandado parlamentar cassado, com a consequente perda de direitos políticos.
Eduardo Rolim, como é mais conhecido, tanto politicamente como em seu consultório de cardiologia, era concursado desde o ano de 1959, ano em que se elegeu pela primeira vez como vereador de Santa Maria. Em 1963, reelegeu-se vereador e a trajetória política vinha em ascensão. Foi candidato a deputado federal em 1966 e a cassação o abateu em pleno voo, cinco dias antes do pleito, frustrando a carreira política de um jovem de 36 anos.
Rolim só veio a ser reintegrado aos quadros da UFSM em 1987, no período em que o país vivia o debate da Constituinte. Depois de reassumir a docência, Eduardo Rolim acabou indo para a direção do Hospital Universitário, e, no ano de 1994, se aposentou.
No momento em que a universidade começa a viver a experiência de uma Comissão da Verdade – primeira reunião oficial deve acontecer até o final da primeira quinzena de julho- a assessoria de imprensa da Sedufsm realiza uma entrevista com o médico e professor aposentado, Eduardo Rolim.
Em seu depoimento, que durou cerca de uma hora, e foi gravado em vídeo, Rolim fala sobre como era descrito pelo Inquérito Policial Militar (IPM) da época, que o qualificava, entre outras coisas, de “petebista extremado, cripto-comunista” e até de “inocente útil”. O professor relata ainda que, após ter sido banido da UFSM, foi proibido de entrar na instituição e, inclusive, não recebeu a autorização pelo reitor de então, professor José Mariano da Rocha Filho, de receber a toga para participar da homenagem que receberia dos alunos do curso de Medicina que se formaram no ano de 1964…
…Sedufsm- Professor, como se deu o expurgo na UFSM?
Rolim– O expurgo era um ato unilateral, mas que eu não sabia qual o nível de que partia essa exclusão. Mas devia ser de níveis inferiores dos escalões da República. Por que, por exemplo, eu era médico de carreira do IPASE (Instituto de Pensões e Assistência aos Servidores do Estado, órgão federal) e era credenciado também para atender o IAPB (bancários). Na época não era unificada a previdência, eram vários institutos. Então, dos bancários, eu recebi o comunicado de um interventor, que eu não estava mais credenciado a atender aos bancários. Do IPASE, eu continuei atendendo até 1966, quando eu perdi meus direitos políticos. Aí o IPASE me comunicou que eu estava fora. E da UFSM, até nem recebi papel nenhum. O Paulo Lauda, que era prefeito na época, foi cassado, no Ato Institucional nº 01, e ele foi afastado da UFSM. Já eu, que era vereador, mas não fui cassado naquele momento, fui junto na leva (dos expurgados).
Sedufsm- Mas como o sr. pode ter sido afastado sem receber um comunicado oficial?
Rolim– Não. Eu digo que fui afastado por uma decisão que eu não sei de onde foi. Talvez tenha sido até do reitor da universidade (José Mariano da Rocha Filho). Um troço totalmente arbitrário e sem fundamentação nenhuma. Naquela época tinham quatro professores com mandato eletivo. Era o Paulo Lauda, prefeito, o Waldir Mozzaquatro, que inclusive era presidente da Câmara de Vereadores e depois recebeu a prefeitura quando o Lauda foi cassado, o Dr. Artur Marques Pfeiffer e eu. E somente eu, além do Lauda, fui expurgado…”
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Excelente matéria da SEDUFSM. Parabéns aos profissionais que realizaram o trabalho.
Mas não faltará alguém, aqui mesmo neste sítio, que a critique, assim como já criticaram a Comissão da Verdade da UFSM.