POLÍTICA. Ibsen vê Dilma sem paciência para o jogo político, mas não há razão para “pregar impeachment”
Há dois gaúchos em condições de dizer (e provavelmente só eles) que são sobreviventes do bombardeio midiático. Ambos sofreram muito com isso e acabaram se afastando da política. Um, José Paulo Bisol (que muitos processos venceu), se aposentou. Outro, inclusive porque mais jovem e talhado, talvez, para o embate direto, retornou e, como suplente de deputado estadual, assume papel preponderante no PMDB do Rio Grande do Sul. É Ibsen Pinheiro, que foi afastado da Câmara dos Deputados, alvo injusto da ex-revista Veja.
Nunca perdeu, é bom que se diga, o respeito dos gaúchos e, especialmente da classe política. Até por isso, vale a pena conferir o excelente material publicado originalmente pelo jornal eletrônico Sul21, com uma entrevista que vale a pena ler, pela lucidez (não é preciso concordar com o que ele diz – e o próprio editor tem suas ressalvas) com que se manifesta acerca da conjuntura. A reportagem é assinada por Jaqueline Silveira. A foto é da Agência de Notícias da Assembleia Legislativa. Acompanhe:
“‘Eu não vejo hoje justificativa para pregação do impeachment
Comandante do processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor como presidente da Câmara de Deputados na época, em 1992, o hoje deputado estadual Ibsen Pinheiro (PMDB) avalia o momento político do país e a tentativa de destituir a presidente Dilma Rousseff. Na opinião do peemedebista, não há, atualmente, condições para a “pregação do impeachment”, nem renúncia ou cassação do mandato da chefe do país. Jornalista e ex-promotor de Justiça, Ibsen também falou sobre o papel do PMDB no governo federal, que ele definiu como “periférico” e criticou a minirreforma política aprovada pela Câmara dos Deputados por priorizar temas que não considera relevantes e não mexer no grande problema: o sistema eleitoral.
Integrante do grupo de transição do governo José Ivo Sartori (PMDB) e deputado da base aliada, Ibsen avaliou também a atuação do companheiro de partido à frente do Piratini e defendeu “medidas amargas” e que contrariam interesses para o Estado superar a crise financeira. Entre elas, o peemedebista defendeu aumento do ICMs e privatizações de estatais, como Corag e Cesa. Abaixo, confira os principais trechos da entrevista concedida ao Sul21:
Sul21 – Pela sua experiência no processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor, como o senhor avalia o momento político do país? O pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff pode prosperar?
Ibsen Pinheiro – Eu vou começar por uma análise genérica, que eu acho que é o cenário: o nosso país está vivendo uma crise econômica e financeira, parte do reflexo das dificuldades mundiais que produzem efeitos aqui, e parte resultante dos nossos próprios erros. Nos últimos anos, a máquina pública no Brasil ganhou um custo e perdeu em eficiência, então nós temos dois elementos negativos que se conjugam: uma crise econômica e financeira e a incapacidade do poder público de fazer as intervenções necessárias, porque uma crise econômica e financeira um país supera com políticas públicas, políticas de controle de despesas, aumento de receita e a busca do crescimento econômico, que é sempre um programa de prazo mais longo.
Por essas razões, compreendo o esforço do governo federal no ajuste fiscal, embora não tendo sido um eleitor da presidente, eu apoio o esforço para o controle das contas. Acho, no entanto, que as dificuldades econômicas e políticas também sofrem uma análise político-partidária. Eu acho que falar em impeachment ou em cassação judicial por anulação de mandato ou de diploma, ou mesmo falar em decisão do Tribunal de Contas para afastar a presidente da República, nem definiria como pregação golpista porque não tem eficácia como pregação, não sensibiliza ninguém. Por quê? Porque uma solução radical e dramática como o afastamento do presidente da República ou qualquer mudança no regime político do país, ou qualquer licenciamento ou renúncia, ou impeachment, qualquer dessas circunstâncias, ela depende de uma conjugação de fatores políticos que não está presente. Nós não estamos numa crise política, nós estamos numa crise econômica e financeira e também numa crise administrativa pela incapacidade da União federal e também dos Estados, especialmente o nosso, de ter uma intervenção saneadora na dificuldade. Considero que essas circunstâncias constituem um potencial perigoso, mas não vejo, no momento de hoje, qualquer providência legitimada nesse sentido…”
PARA LER A ÍNTEGRA, CLIQUE AQUI.
Dilma nunca tinha concorrido a cargo nenhum. Foi vendida como a "mãe do PAC", a gerentona. Apesar de quase todos os políticos, principalmente de esquerda, sentirem uma certa ojeriza pelos "técnicos". Basta "vontade política" dizem eles. Mesmo quando não há recursos. Dá no que dá.
Voltando a vaca fria, Dilma não tem tarimba para a política. Nem carisma. E para dizer que é "técnica", falta muito feijão com arroz.