A política como um campo educativo – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa
Todo grande pensador, no seu tempo e contexto, coloca seu conhecimento e seus esforços de reflexão no intuito de procurar soluções para as demandas dos problemas concretos que sua sociedade e seu tempo histórico irão, necessariamente, gerar. A Filosofia, a Sociologia e a Teoria Política possuem sua gênese e devir histórico nessa práxis humana de produção de formas de vida cada vez mais qualificada.
Platão, em seu livro VII da República, produz, no meu entender, um dos mais belos textos como produto de seu exercício intelectual para explicar seu universo temporal, a natureza e a função do conhecimento como instrumento de decodificação das relações sociais que denominou de “A Alegoria da Caverna”. A grande metáfora criada por Platão tem a função política e epistemológica (aqui penso que é um marco histórico para Filosofia) de explicar que nem tudo aquilo que “achamos” que vemos na realidade social sem a aplicação efetiva do esforço do pensamento é real, filosófico e politicamente “verdadeiro”.
A Alegoria de Platão é tão universal que ainda podemos utilizá-la para explicar o complexo e contraditório mundo de nossa conjuntura política atual. Nas eleições majoritárias de 2014, aqui no rio Grande do Sul, o hoje Governador José Ivo Sartori ganhou as eleições “vendendo” a imagem do homem simples, ingênuo, bonachão e sincero. Sartori, um profissional da política, dizia que era para votar no “gringo” e que seu partido político seria o Rio Grande.
É o discurso retórico e demagógico de um político que fez história na política profissional, mas para ganhar a eleição contribui, de forma cabal, para deseducar politicamente a população e aumentar o desgosto do cidadão para com o exercício necessário da política partidária em nosso contexto de uma Democracia Representativa. José Ivo Sartori presta um desserviço para o avanço dos espaços de exercício democrático e mente descaradamente para obter êxito em seu projeto de vida e, mesmo negando, seu partido vai usufruir as benesses ideológicas e seu exercício do poder.
Quem conhece e faz uso da Teoria Política para explicar a vida social sabe que a mercadoria que estavam jogando no mercado das trocas (o gringo bonachão, puro e ingênuo) era na verdade o pacote político e ideológico de um projeto de sociedade e de poder. Um projeto político neoliberal que, à custa do sofrimento dos trabalhadores, quer implementar, no Rio Grande do Sul, a máxima do Estado Mínimo para a classe trabalhadora e o máximo de privilégios para a classe empresarial.
No jogo de cena político, o governador tem insistido no discurso da crise econômica para justificar a total falta de um projeto de estabelecimento de políticas públicas que atendam de forma qualificada a população. Como um verdadeiro político que possui como ideologia o projeto neoliberal, o governador Sartori já anunciou que a única saída para nosso Estado é a venda de Estatais, leiloar o patrimônio público e sucatear os serviços na esfera da Educação, Saúde e Segurança Pública. Estamos vivendo um corte astronômico de verbas nessas áreas essenciais.
O gringo bonachão, e seu projeto ideológico, veio na verdade para dar mais privilégios aos mais abastados e desqualificar as políticas públicas que atendem a classe trabalhadora e todos os excluídos pelas políticas egoístas do neoliberalismo. O homem que tem como partido o Rio Grande pensa que a saída é seccionar salário de trabalhadores, não repassar verbas para a Saúde Pública, vender nossos bens públicos e aumentar impostos para um povo que já está para lá de calejado com o custo de vida.
Como podemos educar politicamente nossa população se um agente da política profissional nega, descaradamente, sua história na vida partidária. Platão, e sua Alegoria da Caverna, se instituem como obra prima para desvelar e explicar essa conjuntura política. Temos que nos aprofundar cada vez mais no conhecimento da Teoria política, da sociologia e da Filosofia para que tenhamos condições de denunciar e combater as práticas políticas que usam, de forma escrachada, da demagogia e da mentira para conquistar o poder e usufruir ideologicamente de seus privilégios.
Uma população que possui os serviços essenciais atendidos e tenha uma educação de qualidade não se deixa enganar por discursos políticos simplistas e, o pior ainda, objetivam fazer a população de marionetes e bobos. Temos que ter muito claro que o exercício da Democracia não é, apenas, a escolha de uma elite dominante em eleições periódicas, isto sim, a construção de espaços de participação para a definição e controle das políticas públicas que nos propiciem uma vida com qualidade social e o exercício solidário na práxis da política. Não existe sociedade sem a práxis da política, pois todos os interesses humanos são defendidos e consolidados nessa esfera da vida humana.
Um povo educado e com uma definição clara de sua concepção de mundo e ideologia contribui para a consolidação dos partidos que fazem um embate benéfico e salutar na e pela polis. Um cidadão esclarecido não pode deixar se perpetuar a rima entre mentira e política. Outro grande pensador chamado Aristóteles dizia que a Política é a Ciência das Ciências, pois é ela que vai definir o que todas as outras ciências devem fazer.
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