O Náufrago & a Mulher Oceano – por Márcio Grings

Não quero nem saber:

Sei o que pretendo & vou sim emoldurar teu corpo entre os meus lençóis d’água / E assim, permitireis que tu me costures com tuas pernas & me jogue submisso rumo ao sul das tuas profundezas oceânicas / Quem sabe, despretensiosamente possa empalidecer o teu rosto com o rubro tom de uma benesse / Alguém precisa enviesar a ordem das coisas & dar um basta no movimento das marés / O ritmo que escolhemos está longe de ser o desenho que pintamos / É bem assim, aceite ou açoite…

Depois de absorvida a beleza submersa / Nesse barco que afunda a olhos vistos / Orquestremos os cardumes a tocarem a noite todo um concerto inédito / Afinal, precisamos de ritmos frenéticos para celebrar o nosso encontro a mil léguas submarinas / Isso ainda antes da passagem de som / Enquanto abro uma garrafa de vinho batizando-a na guarda do palco improvisado.

Deixa eu me espatifar igual aos cacos de vidro junto ao convés / E quando o líquido escorrer pela tua boca / Não há vacilo que desengate o fugidio que insiste a ir embora / Tudo será em vão / Quem somos para nos opormos à força da gravidade de nós mesmos?

Depois de cortada a fita inaugural / Tu protagonizas um novo desfile com teu transparente robe japonês adornado com algas marinhas / Sim, como toda essa classe & indecência, não tem outra – eu aceito ser coadjuvante desde que tu me permitas ser o teu olheiro oficial.

Vem e me desafias a atravessar a ponte sobre as águas lamacentas / Daí, então, eu seguro firme na tua mão & te levo ao outro lado em completa segurança.

Quem poderia imaginar a longevidade etérea desse sinônimo improvável como tempestades de vento / Tal como Arthur & Katrina / Furacões iletrados pintando as cinzas com cinza & os vermelhos com vermelho / O céu & os azuis da tua boca são o mar que eu quero me perder / Tu decifras os códigos inenarráveis da minha alma & eu executo o nosso plano de fuga rumo o centro do que importa.