Diva eterna – por Bianca Zasso
Que atire o primeiro pote de creme a mulher que nunca ficou preocupada ao encontrar uma nova ruga no rosto. Até a menos vaidosa das criaturas já perdeu alguns segundos observando a própria pele. Num mundo onde juventude virou um desejo e não apenas uma fase da vida, aparentar ser mais novo é considerado uma qualidade.
Se para os simples mortais é assim, imagine para quem passou a vida sendo observada pelos mais diversos ângulos. Atrizes que foram ícones de beleza aos 20 e poucos anos sabem que aos 50 e muitos serão cobradas para continuarem estonteantes. Para conseguir este objetivo, muitas deixam de lado o bom senso e resolvem, aos quase 60 voltar a ter a carinha que apresentavam aos 18. Nunca dá certo.
Esta obsessão pelos traços de diva em todos os tempos da vida, nos faz lembrar Norma Desmond, a protagonista de Crepúsculo dos deuses, filme do diretor Billy Wilder que é uma aula sobre como é difícil para algumas estrelas deixar de serem o centro das atenções. Mas mestre Wilder parece gostar do tema e fez uma de suas melhores obras levando-o ao extremo.
Fedora é um filme sobre uma mulher dominada pelo próprio rosto belo. A atriz que dá nome ao longa foi uma estrela na era de ouro de Hollywood, onde uma atriz conhecida era tão importante quanto um bom roteiro. Ao abandonar sua carreira de modo misterioso, ela isola-se em uma ilha grega e tem como companhia apenas seus empregados e a Condessa Sobryanski, que não permitem quem ninguém se aproxime da atriz.
É neste cenário que surge o produtor Barry Detweiler, interpretado por William Holden. Seu desejo: convencer Fedora a aceitar o papel de Anna Karenina no novo filme que ele está preparando. Barry é contemporâneo de Fedora, mas sua capacidade de adaptação aos novos tempos do cinema é bem maior já que, mesmo afastada das telas, a estrela ainda se porta como se estivesse no auge.
Suas exigências ainda são a de uma mulher que fez fama num período onde a fotografia e o figurino eram pensados para valorizar a atriz e não somente a personagem. Barry é o que chamamos de produtor independente, uma figura que estava surgindo em Hollywood. Com o declínio dos grandes estúdios e, em seguida, do star system, fazer cinema exigia força de vontade. A esperança de Barry é que a presença de Fedora seja o pontapé inicial para a realização de seu filme.
Além de apresentar a nova realidade do mundo da Sétima Arte, Fedora traça um retrato de alguém que quer parar o tempo. Não existe vergonha maior para a protagonista do que aparecer diante dos fãs sem o esplendor que a fez famosa. Mas nunca seremos os mesmos. As marcas do tempo, sejam elas visíveis ou não, surgem e precisamos lidar com elas. Menos Fedora. Da metade para o fim, o filme de Wilder ganha ares fantasmagóricos, bem ao gosto da mulher “sem-idade” que o conduz. Como pode uma mulher de quase 70 anos estar tão intocada pelos anos? É o mistério que devemos descobrir.
Produzido na Europa, Fedora marcou a volta de Billy Wilder aos seus bons tempos. Descontente com os projetos que lhe eram oferecidos nos Estados Unidos, o polonês que fugiu da guerra para fazer alguns dos grandes clássicos do cinema mundial, encontrou em Fedora o caminho para exercer seu trabalho como nos áureos tempos. Talvez por estar atrás das câmeras, a preocupação de Wilder com as rugas tenha sido quase nula. Pois ao contrário da cútis das moças que habitaram os sonhos de muitos, talento não envelhece.
Fedora
Ano: 1978
Direção: Billy Wilder
Disponível em DVD pela Versátil Home Video, com exclusividade para a Livraria Cultura
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