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Por favor, devolvam o meu rádio! – por Márcio Grings

marcioHoje vou escrever descaradamente em primeira pessoa. E faço isso pelo fato de estar dando opinião sobre algo que move a minha vida desde muito cedo: o rádio. Falo do rádio, o aparelho mesmo, estilo clássico, no meu caso um modelo prateado baleado, e do rádio como veículo, onde desde 1994 atuo de forma regular. Quando eu era garoto, lá no início dos anos 1980, lembro de carregar aquele aparelho por vários lugares da casa, quase sempre caçando uma música ou outra, vagando entre as estações na tentativa de encontrar alguma banda ou artista que curtisse. Lembro de certa vez que ouvi “So Far Away”, do Dire Straits, tocando praticamente simultaneamente em duas frequências. Fiquei impressionado com o poder de um hit. Ouvir música sempre me transportou para lugares confortáveis.

Sacando o que saía daquela caixa prateada, ficava imaginando que um dia poderia realizar aquele trabalho, como locutor e apresentador. Como realmente acabei fazendo. Trabalhei em quatro rádios. Fui feliz na maioria das vezes. Acredito que nasci pra estar à frente de um microfone desanunciando um bloco musical e falando sobre as histórias de canções e seus protagonistas.

Há tempos assistimos uma banalização nas programações das rádios FMs, isso é algo que me entristece. Sempre achei que rádio – em primeiro lugar – é uma plataforma de conhecimento, de informação e de conteúdo qualificado. Um dos principais objetivos desses profissionais é ser referência em todos esses quesitos. Só que quando nos detemos a acompanhar aquilo que é veiculado nas programações das rádios atualmente, percebe-se uma total mediocrização, seja na grade musical ou até mesmo na forma de comunicar utilizada pelos profissionais do meio. Lamentável.

Se tomarmos por base Santa Maria, o que mais escuto dos amigos são coisas do tipo: “não ouço mais rádio FM”. E dá-lhe Spotify, música via streaming e alternativas do gênero. Em suma, via dial, falando de rock e POP, na forma convencional de ouvirmos esse veículo tão importante para a cultura mundial, aqui em nossa cidade, há poucas alternativas. Ainda na Região Central, lembro da sensação esquisita que bateu em muitos ouvintes com o final da Itapema. Recentemente, em Porto Alegre, a extinção da Ipanema FM promoveu uma vibe ruim muito semelhante.

E eis que parece que surge uma luz no fim do túnel. A Unisinos FM dá pinta de querer ocupar definitivamente o vácuo deixado pela Ipanema. A rádio está se preparando para chegar a Porto Alegre, isso logo após o aumento de sua potência ser autorizado. Com a novidade, a emissora passará seu alcance de 24 municípios para um total de 42. E depois de anunciar a contratação de Alemão Vitor Hugo, chegou a vez de Katia Suman voltar à Frequência Modulada via dial 103,3. A novidade fica por conta da parceria montada entre a rádio digital Elétrica e a Unisinos FM. O Programa Talk Rádio, que Katia apresenta na Elétrica, seguirá sendo transmitido via web e agora também no FM. O emparceiramento inicia durante a Feira do Livro de Porto Alegre. Para deleite de seus fãs, Katia Suman estará no ar entre 12 e 13h.

E parafraseando um texto que li essa semana sobre o Netflix, dá pra dizer que também nas rádios de hoje, não é apenas o modelo de negócio baseado em talk shows ridículos e programas como Pretinho Básico, da Atlântida, que afastam certas pessoas do veículo, mas uma total falta de preocupação na excelência do conteúdo. Rádio FM não é só um lugar aonde se ouvem piadas sem graça e música de má qualidade. Bom, meu filho de 15 anos pensa exatamente assim, e infelizmente não posso culpá-lo.

Veículos como a Rádio Gáucha são reféns de seu gigantismo, na tentativa de agradar um público médio, e de assediar patrocinadores, recheiam sua programação com notícias sobre futebol. E aí coletiva de técnico pode derrubar a programação normal.

Por isso, as webs vem com tudo, oferecendo via aplicativos, note e PCs, uma forma de enterrar definitivamente aquele pobre aparelho de rádio da minha infância. E que posso ser incluído nessa trupe de coveiros que assestam suas pás de cal. Tenho a sensação estranha que não há mais espaços no mercado para caras como eu. Vejam vocês, virei um dinossauro.

Porém, iniciativas como essa da Unisinos soam como luz no fim do túnel, dropes de lucidez que podem sugerir que ainda não será dessa vez que assistiremos a derrocada da rádio convencional FM. Continuo acreditando que há espaço nas rádios para programação musical de qualidade aliada a informação. Sim, eu ainda acredito.

E por aqui, alguém se habilita a dar esse peitaço?

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Um Comentário

  1. É exatamente o que penso. Sou órfão da extinta Ipanema FM e raramente escuto rádio via celular. Parece que a Unisinos FM está ocupando espaço deixado, inclusive fazendo parte do dial do meu carro.

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