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Primeiro e último – por Bianca Zasso

biancaO fim do mundo. Nossos avós já temiam e tem muita gente jovem torcendo para que ele não chegue. O Sr. Cinema adora brincar com a destruição do planeta, isso porque o término do universo rende nos mais diversos gêneros e dá asas para criações insólitas. Ondas gigantes, alienígenas vingativos, frio, fogo e zumbis foram alguns dos responsáveis pelo encerramento dos nosso planetinha e heróis dos mais diversos tipos no salvaram na telona.

É comum que o tema esteja ligado a produções grandiosas e que dão preferência aos efeitos especiais, resultando em roteiros com poucos diálogos. Logo algo que mexe com os nervos até dos mais céticos costuma ganhar leituras cinematográficas com mais interesse nas cenas de multidão do que na complexa tarefa de se despedir da vida com hora marcada.

A diretora Lorene Scafaria também fez um filme sobre os últimos dias da terra. Na trama, um meteoro se aproxima e vai acabar com a população inteira. A história não é nova, mas Scafaria não está interessada em explicar porque o fim está chegando. Seu filme é de amor. Os Beatles e as princesas da Disney já nos ensinaram que precisamos dele para nossa felicidade ser completa. Mas em Procura-se um amigo para o fim do mundo, não temos um casal fazendo juras intermináveis nem aproveitando seus últimos momentos de existência em alguma ilha paradisíaca.

Como costuma acontecer na vida real, os protagonistas sofrem da angústia de perceberem que chegarão ao fim sem ter amado de verdade. De um lado temos o monótono Dodge, que vê sua mulher abandoná-lo ao saber da chegada do meteoro e está disposto a esperar a grande hora deitado em seu sofá. Do outro, a sonhadora Penny que divide seu amor entre os discos de vinil e um que outro namorado complicado. O encontro dos dois faz com que partam em uma jornada que eles não sabem onde vai dar. Querem a família por perto, querem dizer o que nunca disseram, querem tentar mudar o modo como levaram suas vidas.

E eles não estão sozinhos. Uma das primeiras cenas do longa mostra uma festa onde quem não bebia enche a cara, veste o que bem entender sem se preocupar com a opinião alheia e experimenta drogas mesmo tendo passado a vida toda se mostrando contra. Afinal, vai acabar, não é mesmo? Parece não haver lugar para a paz e o silêncio nos dias finais. É preciso aproveitar ao máximo, viver tudo que podia durar uma vida inteira em poucas horas. Uma amostra de como a frustração com a própria realidade ainda é algo presente.

Procura-se um amigo para o fim do mundo tem protagonistas simpáticos, interpretados por Steve Carell (ótimo inclusive nas cenas mais dramáticas) e Keira Knightley, que prova que seu rostinho não combina só com mocinhas de época. Ela convence como a garota atrapalhada que acha que reencontrar os pais antes de morrer vai lhe trazer conforto.

O tal meteoro é coadjuvante, um pretexto para fazer os personagens mudarem de lugar e darem às mãos em busca de algum sentido. Ele sempre encabulado e temeroso, ela sempre tornando cada vitória uma festa.  O famoso “os opostos se atraem” pode parecer fórmula falida, mas funciona. Colocar frente a frente duas mentalidades diversas sempre causa faíscas. De briga e de desejo. Isso porque as dúvidas continuam, os erros não podem ser riscados do passado, mas nada nos impede de, no último minuto, viver algo intenso.

Felicidade plena não existe, mas as pequenas doses que ganhamos ao longo da vida são saborosas. Mais um motivo para desejar o felizes para sempre mesmo com um meteoro a caminho. Se dura meio século ou algumas horas, é sempre amor. E fim.

Procura-se um amor para o fim do mundo (Seeking a Friend for the End of the World)

Ano: 2012

Direção: Lorene Scafaria

Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix

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