Todas juntas em um só ser – por Bianca Zasso
Esta colunista acredita que a poesia explica a vida muito mais que a ciência. Já diria Walt Whitman: “Eu me contradigo? Pois muito bem, eu me contradigo. Sou amplo, contenho multidões.” Por mais que todos sejamos habitados por vários tipos, há uma profissão que necessita que sejamos mais povoados. Ser ator exige que se tenha material para poder dar vida aos mais diversos personagens. No último sábado, 2015 aprontou mais uma das suas e nos levou uma mulher que continha em si várias moças, todas inebriantes.
Marília Pêra nos deixou aos 72 anos e merece a maior das fontes ao ser descrita como uma atriz. Num tempo onde muitas mocinhas querem seguir a carreira artística simplesmente para serem mocinhas de novela e “trabalharem na televisão”, o rigor de Marília perante à profissão devia ser mais inspirador. Nenhum pingo de arrogância, uma fragilidade que ela assumia sem neuras e uma dedicação imensa do primeiro ao último trabalho. Versátil, convencia na pele de divas elegantes como Coco Chanel e Maria Callas e também como a sofrida prostituta Sueli no clássico Pixote, a Lei do mais fraco, de Hector Babenco.
Nos últimos anos, dava formas cambaleantes para Darlene Glória, sua personagem na série Pé na Cova, exibida pela Globo. Tudo isso sem medo. Drama ou comédia, arte ou puro entretenimento. A voz limpa e certeira, fruto de seu lado cantora, aliado ao corpo de bailarina que ela mantinha mesmo diagnosticada com câncer, colaboraram para seu título de dama, que ela carregava sem abalo.
Antes do glamour, Marília queria ser uma operária de seu ofício. Uma das melhores. Seu brilho era exigido dentro dos palcos, não fora dele. Talvez seja um dos motivos por enxergarmos com tanta precisão a sua luz quando ela recebia os fãs nos camarins. Quando é natural, não precisa de flash.
Difícil encerrar um texto sobre uma das minhas atrizes preferidas. Além de ter feito papéis que marcaram minha vida, também merece o meu aplauso por ser verdadeira, apaixonada pela arte da interpretação e não pelo tapete vermelho. A saudade não vai passar. Vamos torcer para que outras Marílias cheguem ao mundo. Com multidões dentro de si.
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