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O material abaixo foi enviado pelo Esperança/Cooesperança, uma das ideias de Dom Ivo Lorscheiter, e que até hoje é um dos baluartes da economia solidária em Santa Maria. Ele foi enviado pela coordenadora do projeto, Irmã Lourdes Dill. Acompanhe, na íntegra:
“Dom José Ivo Lorscheiter ( * São Sebastião do Caí, 7 de dezembro de 1927 e + Santa Maria, 5 de março de 2007) foi o sexto bispo de Santa Maria.
Nasceu numa família simples e religiosa de origem alemã, tendo um irmão padre e vários familiares religiosos, dentre os quais seu primo Dom Aloísio Cardeal Lorscheider.
Dom Ivo foi o último bispo brasileiro nomeado pelo papa Paulo VI, ainda durante o Concílio Vaticano II, em 1965. Presidiu a CNBB durante o período mais obscuro do Regime Militar Brasileiro, entre 1965 e meados da década de 1970.
PENSAMENTOS
- A Igreja é povo unido e participativo. Ela não pode ser feita de membros que estão lá só de nome, sem consciência da missão e tarefa que lhes é peculiar.
- Cada um na Igreja tem a sua tarefa, a sua vocação. Nela não há possibilidade de haver membros passivos.
- A Igreja do Brasil é uma das Igrejas mais significativas no conjunto das Igrejas no mundo, até pelo número de membros a ela pertencentes.
- Cada pessoa, em cada nível da Igreja, deve cumprir aquilo que ela é capaz e não deve o nível superior abafar ou querer resolver aquilo que o nível anterior pode, por si, resolver. Cada um deve fazer o que pode fazer, sem precisar, no caso da Igreja, apelar para um Bispo ou a Santa Sé. Isso no Brasil sempre foi colocado em prática na doutrina e na pastoral.
- O objetivo da Assembléia de Medellín era a aplicação dos documentos conciliares na América Latina.
- Medellín ajudou todo o clero, todos os religiosos e todos os leigos a perceberem o quanto o Concílio foi importante para a América Latina e o mundo todo.
- No Brasil os Bispos ficaram muito felizes com o documento de Medellín, mas no regime militar, então vigente, os militares não gostaram e começaram a perseguir esse documento chamando-o de subversivo.
- Depois do Concílio, como episcopado, tínhamos muito ardor pastoral no Brasil e nosso espírito se fez presente nas conferências gerais latino-americanas. Dentro do Brasil nós tivemos bons resultados disso tudo.
- Numa das nossas assembléias gerais,quando eu era presidente da CNBB, veio de Roma, uma carta do Papa João Paulo II (trazida pessoalmente pelo cardeal Gantin).Ele me pediu para ler a carta a todos os Bispos. Na medida em que eu a lia o ambiente entre os Bispos ia se transformando. Em cada frase do Papa que eu lia aumentava a alegria dos Bispos e se transformavam os seus rostos. Quando eu terminei os Bispos bateram palmas por muito tempo.
- E o Papa dizia: “Tenho que dar parabéns à igreja do Brasil pelo bem que ela fez à Igreja com a teologia da libertação. Se ela não tivesse surgido teria que ser criada. E disse ainda: a teologia da libertação não só é útil, como também necessária.
Para nós foi muito importante, porque a Congregação para a Doutrina da Fé havia eito vários documentos sobre a T.L. Com a carta do Papa tudo teve um fez desfecho.
- Quando terminou o meu período de presidente da CNBB, um Bispo brasileiro que estava em Roma perguntou ao Papa: – Agora que terminou o mandato dos Lorscheiter na presidência da CNBB, o que o Papa gostaria de dizer para o Brasil sobre isso? E João Paulo II respondeu: – “Diga aos Bispos brasileiros que o Papa ficou muito contente com a direção dos Lorscheiter na CNBB. Eles fizeram o que nós queríamos que eles fizessem. Eles faziam seus contatos com a Santa Sé e seus dicastérios, eles não vinham aqui para elogiar o Papa, porque o Papa não precisa disso, mas eles nos faziam ver o que poderia haver de dúvidas ou pedidos e se nos faziam bem conscientes do que ocorria no Brasil e assim pudemos ajudar melhor a igreja do Brasil.
- Para mim o Papa Paulo VI é a figura mais impressionante desta série dos últimos Papas. Era um homem muito fino, muito delicado nos seus pensamentos e no seu jeito. Ele continuou o Concílio e levou-o a bom termo. Era um homem muito introspectivo e eu penso que ele merece realmente o chamamento de mártir da verdade, da verdadeira renovação da Igreja. Ele sofreu bastante.
- Com o papa Luciani (João Paulo I)- Ele me convidou para almoçar logo depois da sua eleição. Ficamos juntos duas horas e ele falou o tempo todo. Então eu vi que figura esse homem seria como Papa. Ele até me disse o seguinte: – “O Paulo Paulo VI agendou a Conferência de Puebla e eu a reconfirmei. Querem que eu vá lá mas eu não vou! Não vou porque o governo mexicano, que é anticlerical quer que eu vá para propagar que é simpático à Igreja. Mas eu não me sirvo para isso, para adular governos. E não vou, também, porque não me sinto em dia com a teologia latino americana e eu não quero estragar nada. Fico em casa e vou estudar melhor as coisas.”
- O Papa Wojtyla foi um homem de definições claras. Ele me falou um dia que para ele o Papa deveria ser o grande pregador no mundo e para isso não poderia ficar só em Roma. Disse ainda que, se fosse por gosto pessoal, ficaria em casa, pois era mais contemplativo do que se imaginava.
- Nas duas visitas que João Paulo II fez ao Brasil, eu estive todos os dias com ele e vi o quanto ele rezava nessas viagens. Ele me disse quando vinha ao Brasil: Dom Ivo,eu seio quanto devo cuidar muito no que vou e no que não vou dizer no seu pais. Eu quero ajudar positivamente os Bispos do Brasil e a Igreja brasileira e não criar problemas”.
- Pessoalmente eu gostaria que nossa Igreja fosse sempre mais corajosa em projetar, realizar o seu futuro.
- Eu gostaria que fôssemos, como Igreja, superando sempre mais o escândalo a fome e da miséria no Brasil.
- Quanto ao ministério de Pedro, eu gostaria de citar as palavras do Papa João Paulo II, muito surpreendentes, na encíclica sobre a unidade cristã “Para que todos sejam um”. Ele fez um pedido ou uma pergunta a todas as comunidades cristãs: “Eu gostaria de pedir a todos os grupos e comunidades eclesiais,q eu digam para nós, em Roma, digam para o Papa, qual é o modo que eles gostariam de ver e sugerir o exercício do trabalho do Papa na Igreja, o trabalho de ser primaz dessa Igreja!”
- Eu perguntei la´ em Roma se estavam chegando respostas ao pedido feito pelo Papa às comunidades cristãs. Então me responderam: – Tem vindo em grande quantidade, umas com respostas benévolas e outras mais duras. Estamos catalogando e ordenando todo esse grande material. Depois, na hora certa, nós iremos publicar e responder aos que mandaram as suas sugestões…
- Quanto à inculturação diria: hoje o Evangelho precisa inculturar-se especialmente na cultura urbana para que a Igreja deixe de ser uma Igreja rural.
- Não creio que a Igreja seja exagerada em se envolver com os problemas sociais do povo. Nós devemos ser voltados para uma pastoral integral, como foi a prática de Cristo: Ele pregou o reino dos céus com toda a clareza mas ele também fez com muito ardor o trabalho para resolver os problemas sociais de seu tempo… providenciou pães, curou doentes, ressurgiu mortos. A pastoral de cristo é integral, globalizada, e nós devemos fazer o mesmo.
- Nós vivemos na história e por isso a nossa Igreja não deve ter medo de sentir-se chamada e exposta às mudanças que se realizam na história.
- Eu creio que nós católicos, cristãos, deveríamos estudar mais o Islamismo. Temos entre nós um conceito bastante severo sobre o Islamismo. Ele tem, é claro uma espécie de mistura de política e de religião. Devemos procurar entender positivamente os valores do Islamismo.
- O Estado é uma entidade leiga e não religiosa. Mas, para ser verdadeiramente democrático, é preciso reconhecer que a religião é importante. O Estado não pode dirigir a religião, mas também não pode impedir a religião de existir. Deve querer o progresso das instituições religiosas que vão fazer o bem para toda a cidadania.
- Eu rezo por mim mesmo…para rezar com mais intimidade e mais intensidade e escutar a Deus. E rezo por todos os seres humanos, especialmente por aqueles que estão sob o meu cuidado pastoral.
- Quanto mais eu faço os seres humanos presentes na minha oração a Deus, tanto mais eu sei que estou rezando de maneira correta.
- Os Monges Cartuxos que temos na diocese, disseram aos nossos Padres Diocesanos: Voces Padres da vida ativa rezam e devem rezar muito. Nos, os monges cartuxos, também devemos rezar muito, às vezes mais que vocês. Vocês falam aos seres humanos sobre Deus. Esse é o trabalho de Vocês. Nós falamos a Deus do seres humanos, nós fazemos os seres humanos presentes diante de Deus.
- Estou cada vez mais convencido de que o cooperativismo, entre os abusos exploratórios do capitalismo e o abafamento exercido sobre a humanidade pelo coletivismo, seria o sistema salutar e progressista.
- Nós não queremos ver pessoas desanimadas, não queremos iludir ninguém não queremos criar falsas expectativas, mas sim a esperança verdadeira.
- Rezar não é insistir em pedidos para Deus, Deus já sabe das nossas necessidades e é tão bom que vai cuidando de tudo para nos
- Rezar só é autêntico quando essa palavra significa identificar-se com Deus.
- O ser humano vai ser feliz e realizado se ele descobrir e aceitar as verdades que ele não pode e não deve modificar.
- Podemos não mudar o mundo, mas vamos fazer a diferença mudando o mundo de alguém.
- Ninguém pode dizer que é cristão se não é ecumênico.
- Vamos fazer. O Dinheiro vem!
- Coragem é uma palavra que deve sempre nos dar inspiração e fortaleza. Quem é desanimado não serve para viver e nem é capaz de viver direito.
- Coragem está ligada à esperança porque esperança é aquela virtude que nos condeuz para frente.
- . A distribuição de terras, ao contrário do que possam pensar os empresários rurais, não favorece o comunismo, mas barra o caminho dele.
- (Condecoração não aceita) – Depois da transição, quando entrou o Presidente civil José Sarney, um dos primeiros atos que quis fazer foi condecorar os Bispos da Igreja e a CNBB. Convidou a mim, dom Luciano e dom Hélder. E eu disse a dom Luciano: eu não vou receber essa medalha. Se você quiser ir vá mas eu não me presto para isso. De fato não fui. Eles não me mandaram medalha. Mas um tempo depois o Sarney me encontrou em uma cerimônia e disse-me: Será que já acabou nossa mútua raiva? E eu disse-lhe:
– Bem, Sr. Presidente, eu não tenho raiva do senhor. Eu só não queria aceitar aquele gesto naquela hora. E ficou nisso[i].
[i] Dom José Ivo Lorscheiter – O Bispo da Esperança, escrito por Sergio Augusto Belmonte e Eugênia Mariano da Rocha Barichello. Ed. Pallotti, RS, 2004, pg. 47-48).
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