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Novela de cinema – por Bianca Zasso

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Sabe quem matou Odete Roitman? Se não, talvez sua mãe, seu tio e seu avô saibam. E qual a flor que faz o fantasma do fotógrafo Jorge Tadeu aparecer? Nem desconfia? Seu vizinho pode lhe explicar. Isso porque esses são apenas alguns mistérios que fizeram uma boa parte da população brasileira parar em frente à TV.

Por mais que falem das interpretações exageradas e do roteiro explicadinho nos mínimos detalhes, novela ainda é o veículo mais próximo das pessoas para o entretenimento. O prezado leitor deve estar querendo dar o fora, já que essa é uma coluna de cinema. Mas, ultimamente, tem novela fazendo papel de cinema na nossa telinha.

Velho Chico, novela das nove da Rede Globo, é um programa com assinatura. Luiz Fernando Carvalho já havia deixado o recado de que não era apenas um diretor de núcleo, mas um criador de universos lá nos anos, com O rei do gado. Depois vieram séries de um primor visual e texto poético como Capitu e A pedra do reino.

Sim, ele levou Machado de Assis e uma das obras mais longas e complexas de Ariano Suassuna para o horário nobre. Seu último feito havia sido uma pequena doçura disfarçada de novela das 6, Meu pedacinho de chão. Mas foi rápido. Agora Carvalho encara um longuíssima metragem disfarçado de trama preferida dos brasileiros.

Quem liga a TV se depara com uma fotografia amarelo ouro, bem ao gosto do sol quente do sertão. Quem está em cena é Rodrigo Santoro, mas poderia ser Charles Bronson. Como não lembrar da obra-prima do italiano Sergio Leone, Era uma vez no oeste? Figurinos suntuosos e criativos também passeiam pelas cenas, não só para dar beleza, mas para ajudar a contar a história da família Sá Ribeiro e sua eterna luta pelo poder. É uma comunidade às margens do rio São Francisco, mas poderia ser a máfia ítalo-americana. A montagem em paralelo mostrando um casamento e um assassinato bebeu na fonte do clássico absoluto O poderoso chefão, de Coppola.

E entre um romance e outro, necessário para manter uma novela no ar, Carvalho vai temperando seu banquete com muitas outras influências, sem medo de ousar ou de parecer confuso. Uma de suas “ousadias” surpreendeu o público que se acomodou com o padrão Globo: o suor dos atores, mostrado sem pudor, incomodou alguns espectadores. Queridos, a vida é suada. A arte também, apesar de alguns diretores tentarem provar o contrário.

Quem não teve uma formação cinematográfica, ou mesmo acabou esquecendo algumas referências obtidas na telona, pode pensar que Velho Chico é apenas uma novela suntuosa, uma embalagem elaborada para uma trama como muitas já mostradas. Mas vale a pena ficar de olho e se deliciar com as belezas que Luiz Fernando Carvalho tem colocado no ar, fantasiadas de capítulos. É puro encanto. E, quem sabe, pode ser a porta de entrada para que o público volte aos cinemas.

P.S. Recomendo a quem quiser ir mais além, Lavoura Arcaica, longa-metragem de Carvalho inspirado na obra do escritor Raduan Nassar.

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