Os coadjuvantes – por Bianca Zasso
Um bom ator é capaz de grandes proezas. Há os que mudam cabelo, engordam, emagrecem, vão fundo na pesquisa de seus personagens. Mas e quando esse ator tem um rosto tão poderoso e marcante que é capaz de hipnotizar o público sem precisar de nenhuma maquiagem? Quem pode ter essa resposta é Jack Nicholson, que há algumas décadas se faz presente nas telas nos mais diversos personagens sem precisar deixar de lado seu sorriso amalucado e olhar travesso.
Ele já foi policial, mafioso, marido complicado, escritor malvado, o Coringa do Batman, Don Juan infartado, enfim, são muitos Jacks. Sua fama de ser tão doidão fora dos sets quanto alguns de seus personagens, o tornou a face da loucura em Hollywood. Por mais que o seu “doido” mais famoso não tenha nenhum distúrbio mental.
Um estranho no ninho, grande trabalho do diretor Milos Forman, garantiu um Oscar de melhor ator para Nicholson. No filme, ele interpreta McMurphy, um presidiário que finge ter problemas mentais para escapar da cadeia e que acaba numa clínica comandada por uma enfermeira linha dura, a temida Ratched.
As ideias mirabolantes do protagonista rendem cenas inesquecíveis, já que Nicholson consegue um clima de improviso, mesmo que se note a batuta certeira de Milos Forman. Porém, por mais que McMurphy seja o fio condutor da revolução dentro da clínica, é nos seus companheiros de quarto (e de cena) que residem os melhores momentos da película.
Os coadjuvantes, que em algumas produções costumam funcionarem apenas como uma escada para o ator principal brilhar, em Um estranho no ninho são os que presenteiam o espectador com aulas sobre caracterização. Danny DeVito está brilhante como Martini, o mais infantil dos pacientes de Ratched, que o trata como um bebê, no bom e no mal sentido. Ainda temos um jovem Christopher Lloyd interpretando o desconfiado Taber e o saudoso Vincent Schiavelli numa caracterização incrível como o observador Fredrickson.
O homenzinho dourado de coadjuvante acabou nas mãos de Brad Dourif, que interpretou o romântico Billy Bibbit, mas poderia ter sido dividido entre todos os parceiros de Nicholson no filme. Um grupo que, mais que preencher espaços e diálogos, ajudou a criar um ambiente cênico intenso para contar a história inspirada no ótimo livro de Ken Kesey.
Os leitores que já assistiram ao filme devem estar pensando que a colunista esqueceu de um integrante importante. Fiquem tranquilos, não esqueci. Apenas deixei o melhor para o final. Se o rosto expressivo de Nicholson é uma imagem icônica de O estranho no ninho, a fuga de Chefe, interpretado por Will Sampson, é uma das cenas finais mais emocionantes da década de 70.
Figura constante em faroestes por sua descendência indígena, Sampson surge em quieto em seu canto, quase imperceptível não fosse sua altura, para crescer ao longo da trama e tornar-se o premiado com a redenção. Um pequeno detalhe, aquele brilhante discreto que torna a joia mais bela. Nosso amigo Jack continuou uma estrela. Mas sem o brilho do talento comedido e inteligente de Will Sampson e companhia limitada, seu personagem seria apenas mais um, sozinho e esquecível, como tantos por aí.
Um estranho no ninho (One Flew Over the Cuckoo’s Nest)
Ano: 1975
Direção: Milos Forman
Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix
* DICA DA BIA: Esta que vos escreve vai estrear hoje, quinta-feira, um quadro no programa Studio Cultural, na TV Unifra. Não percam, é às 19h30, no canal 15 da Net.
* DICA DA BIA 2: Domingo, dia 13, o canal a cabo Space vai prestar uma homenagem ao cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, no dia do seu aniversário de 80 anos. O especial Mojica 80 vai ao ar à partir das 19h15, com exibição de todos os episódio da série Zé do Caixão e a estreia do último longa com direção de Mojica, As fábulas negras. Não percam!
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