Por FELIPE MATOSO (texto) e ANTONIO CRUZ (foto Agência Brasil), no G1, o portal das Organizações Globo
A um dia da votação no plenário da Câmara dos Deputados, governo e oposição ainda travam uma batalha junto a parlamentares indecisos com o objetivo de garantir os votos necessários tanto para barrar o processo de impeachment quanto para garantir que o pedido de afastamento da presidente Dilma Rousseff seja aceito.
Desde as últimas semanas tanto o Palácio do Planalto quanto a oposição têm intensificado o corpo a corpo com os parlamentares. Oficialmente, os dois lados dizem ter o número de votos necessário – para que o impeachment seja aceito pela Câmara, é preciso que 342 deputados votem favoravelmente; para barrar o processo, o governo precisa garantir 172 votos.
A presidente Dilma Rousseff, por exemplo, chegou a cancelar sua participação em um ato na manhã deste sábado com movimentos sociais contrários ao impeachment, que se autodeclaram “Movimentos Populares pela Democracia e Contra o Golpe”, para receber parlamentes no Palácio da Alvorada, residência oficial, e articular votos para derrotar o processo de afastamento.
À frente do posto de articulador informal do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em Brasília desde o início da semana, representou Dilma no evento. Assim como os ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), os mais próximos da presidente na Esplanada, Lula tem conversado diariamente com parlamentares e dirigentes partidários para convencê-los a votar contra o impeachment.
“É claro que o nosso foco agora é conquistar os votos dos indecisos. E a nossa avaliação é positiva com a onda de indecisos que, gradativamente, tem se consolidado do nosso lado. Claro que este foco é também o foco da oposição, é uma pressão que eles também estão fazendo. Agora, o argumento é deixar nítido para os parlamentares e para toda a sociedade que impeachment sem crime de responsabilidade é golpe”, declarou ao G1 o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA).
Votos pró-impeachment
Um dos principais aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e um dos articuladores da oposição em busca de votos pelo impeachment, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) disse ao G1 que o foco da oposição nessa “reta final” do processo é a busca por votos de deputados indecisos. Segundo ele, é preciso procurar “um a um”.
“E este processo de convencimento vai até o último instante, até mesmo no momento da votação. Vamos atrás dos indecisos até a última hora. Nosso principal argumento é mostrar a eles que não dá mais, que mesmo que ela [Dilma] ganhe, isso será um caos para o país. Como ela vai governar sem ter maioria? Não vai passar um projeto. O melhor é buscar os indecisos agora e pedir o apoio deles ao impeachment para começarmos a dar esperança ao Brasil”, disse Paulinho.
Em meio à estratégia da oposição de conseguir apoio pelo impeachment, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) ofereceu um almoço na tarde deste sábado a parlamentares e representantes de movimentos favoráveis ao afastamento da presidente.
Temer
Em seu momento mais afastado de Dilma e mais próximo à oposição desde 2011, o vice-presidente da República, Michel Temer, que estava em São Paulo, retornou a Brasília na manhã deste sábado. No Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-presidência, ele recebeu diversos parlamentares favoráveis ao impeachment de Dilma e indecisos.
No último dia antes de a Câmara votar o impeachment, Temer recebeu, no início da tarde, os deputados do PMDB Leonardo Quintão (MG), Osmar Terra (RS), Lelo Coimbra (ES), Carlos Marum (MS), Darcisio Perondi (RS) e Baleia Rossi (SP). Ao chegar ao Jaburu, os parlamentares se mostraram confiantes com o afastamento de Dilma e disseram ser “falacioso” que haja algum “movimento pró-Dilma” na votação deste domingo.
Nesta semana, vazou um áudio de Temer no qual o vice falava como se a Câmara já tivesse aprovado o impeachment de Dilma. Na gravação, ele “presta homenagem” ao Legislativo porque a Câmara analisou “amplamente” o processo, assim como o Senado, afirma, o fará.
O resultado do áudio foi uma intensa repercussão política. Um dia depois, ao participar de evento, Dilma se disse, sem citar nomes, vítima de “farsa e traição” e afirmou que o “golpe” do impeachment tem “chefe e vice-chefe”.
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