Instinto de sobrevivência – por Maiquel Rosauro
Quando vi o revólver apontado para o meu rosto, eu tomei a atitude mais idiota da minha vida. Empurrei o ladrão e gritei duas vezes “assalto na rua!”. Foi o suficiente para alguns vizinhos acenderem as luzes. O fato assustou o bando, que não me roubou nada e logo correu. Porém, minha atitude teve seu preço. Levei uma coronhada, socos e chutes. Meu nariz ficou jorrando sangue por dias.
Eu estava no primeiro semestre da faculdade, a uma quadra de chegar em casa quando a tentativa de assalto ocorreu. Já passava das 22h e não havia ninguém na rua no momento em que me vi cercado por cerca de oito jovens, um deles armado.
Eu sei que não se deve reagir em um assalto e que aquela noite poderia ter tido um final trágico. Lembro de ter na mochila apenas um desgastado celular Nokia, um caderno, canetas e, talvez, alguns trocados.
Então, por que fui reagir você deve estar se perguntando. Creio que o instinto de sobrevivência falou mais alto. Quando vi o bando se aproximar eu sabia que se não agisse primeiro, eu seria roubado e agredido de forma ainda mais violenta.
Cresci no bairro Patronato, estudei no Fontoura Ilha e no Cilon Rosa. Em pouco mais de 20 anos vi a região mudar por causa da violência e do tráfico de drogas. Todas as casas do bairro trocaram os gramados abertos por grades, os mercadinhos passaram a atender a partir da porta e andar a pé no entorno do ATC à noite era pedir para ser assaltado e espancado. Ou seja, eu respirava insegurança. Mas naquele instante, naquela esquina, eu decidi que não iria facilitar a vida de nenhum vagabundo.
Se eu tivesse uma arma, poderia ter matado um deles. Acho que até me arrependeria depois, mas descobri dá pior maneira que sob o estresse do momento não é possível raciocinar direito. Em momentos de tensão, no qual a integridade física está em risco, o instinto fala mais alto, seja para pedir ajuda ou revidar uma ameaça.
Acredito que desta forma tenham agido os brigadianos que enfrentaram e mataram quatro membros de uma quadrilha armada com fuzil e pistola em Porto Alegre, na sexta-feira passada. Os bandidos estavam destinados a matar os policiais, que souberam controlar a situação e agir em legítima defesa.
A sociedade gaúcha já não suporta o aumento da insegurança pública. A morte dos criminosos é motivo de comemoração. Da mesma forma, é preciso exaltar a coragem dos policiais militares que arriscaram suas próprias vidas para deter os bandidos. Só quem já teve uma arma apontada para sua cabeça sabe o quão arriscado é tomar uma atitude.
Só um detalhe: não seja um idiota como eu fui, não arrisque sua vida por objetos pessoais. Eu sei que ser furtado gera raiva e uma sensação de impotência, mas não é tentando revidar que você vai mudar esta realidade. O que temos de fazer é exigir mais investimentos em segurança pública.
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