Por PATRÍCIA FAERMAN, do jornal eletrônico GGN
Ao explicar para os leitores britânicos o que o impeachment pode provocar no Brasil, o Financial Times falou em “caos”, nesta quinta-feira (14). Para os franceses, o Le Monde trouxe a perspectiva do pós, traçando um perfil de quem assumiria o comando do país: um “profissional das intrigas parlamentares”. Já os norte-americanos tiveram um de seus maiores jornais (New York Times) afirmando, nesta segunda (14), que a “Dilma é um dos raros políticos no Brasil que não são acusados de enriquecimento ilícito”. O mesmo alerta foi dado, ainda, pela revista Forbes.
Mas o leitor brasileiro, ao abrir ou acessar os três maiores jornais do país, nessa mesma data de hoje, vai encontrar as manchetes: “Chance de processo de impeachment passar na Câmara sobe para 92%” (Folha de S. Paulo), “O inconformismo de Dilma” (Editorial do Estadão), “Ação para barrar impeachment é apelação” (Coluna de O Globo).
Nos três veículos, as notícias que são do campo “objetivo” correm atrás dos números de deputados que votarão a favor do impeachment, neste domingo (17), mostrando que o cenário já é de derrota para a presidente Dilma Rousseff. As estimativas não são consensos: cada diário traz um dado distinto, seguindo suas próprias planilhas de contagens.
Mas algumas constatações são válidas de análise: a Folha selecionou para o destaque do seu impresso a reportagem “Após adesão do PSD ao impeachment de Dilma, oposição já fala em vitória“. Situação ainda endossada por outra que traz o número de 92% de certeza de que o impeachment passará para o Senado. Dado reproduzido por O Globo: “Líder do PMDB diz que 90% da bancada votará a favor do impeachment“. Nessa mesma linha trouxe o Estadão: “Debandada de parlamentares cresce e Planalto já reconhece situação crítica“, garantindo, ainda, o placar final: “Maioria do Senado apoia afastamento“.
Os números chamam a atenção por alguns motivos: as próprias estatísticas do Estadão dão conta que 30 deputados ainda não responderem como irão votar e 24 ainda estão em dúvidas. Para a oposição sair vitoriosa, faltam 10 deputados. E, para a presidente Dilma, 46. Os indecisos e omissos são cartas definitivas, que podem virar o jogo para qualquer um dos lados.
Nesse cenário de partidos, bancadas e deputados, o blog do Planalto trouxe um contraponto, que quase passou desapercebido nesta quarta (13): “Dilma recebe manifestação de apoio de parlamentares do PMDB, PR, PSD e PEN” – partidos até então apontados como garantias de voto pró-impeachment.
As conclusões dos números, que são passíveis de muitos erros, são ainda levadas à cabo pelos jornalistas, interpretando análises do Palácio do Planalto. “‘Acho que acabou’, diz ex-porta-voz de Dilma“, no Estado. Uma resposta óbvia a uma pergunta que não permitia outras respostas, levou jornais a publicarem: “‘Se ganhar, vou propor um pacto; se eu perder sou carta fora do baralho’, diz Dilma“, e que logo foi resumido e tornando-se: “‘Serei carta fora do baralho’, afirma Dilma“.
“Fico curiosa quando leio nos jornais preocupações de ministros do meu governo com a votação do impeachment. É o jornalismo mediúnico, vocês falam o que eu penso. Aí eu olho no espelho e digo: não falei”, foi a resposta da própria presidente para todas essas publicações.
E nesse mar de hipóteses que viram realidade, estatísticas para orientação que se tornam placares definitivos e editoriais que convencem, os meios de comunicação vão consolidando posicionamento nos leitores.
O contraditório veio da imprensa internacional, com o tradicional New York Times afirmando que “deve-se lembrar que Dilma é uma das raras figuras políticas no Brasil que não estão enfrentado acusações de enriquecimento pessoal ilícito”.
E foi além: “incapazes de acusá-la por corrupção, seus adversários estão tentando impeachment por manipulação orçamental envolvendo o uso de recursos de bancos estatais para cobrir lacunas de orçamento”, que são as chamadas pedaladas fiscais. O jornal americano criticou, também, o discurso “triunfante” e de “salvação nacional” do vice Michel Temer, com o áudio vazado nesta semana.
Publicações desta quinta-feira de outros conceituados jornais estrangeiros reforçaram as críticas. “Pode a maior economia da América Latina reconciliar suas diferenças políticas significativas após um impeachment, para lidar com a aprodundada crise econômica, ou será que o processo trará mais instabilidade ou mesmo o caos para o país?”, foi o questionamento do britânico Financial Times.
“Enquanto as violações orçamentais são consideradas graves, o movimento pelo impeachment é essencialmente um julgamento político – um voto de não-confiança. Rousseff tornou-se uma das líderes mais impopulares da história democrática do Brasil, presidindo a pior recessão em um século do país e no contexto do escândalo de corrupção na Petrobras, a companhia estatal de petróleo”, explica o jornal, destacando: “Dilma não está acusada de qualquer crime”.
Também no lado europeu, o Le Monde desta quinta explorou uma preocupação pouco visível na imprensa nacional: quem é Michel Temer, personagem que assume se efetivado o impeachment de Dilma? “Os brasileiros mal o conhecem”, respondeu. O perfil feito pelo diário francês aponta o peemedebista como um “homem dos bastidores” e um “profissional da política e das intrigas parlamentares” e que pode se tornar o presidente do Brasil mesmo não tendo 3% das intenções de voto da população. Sobre o seu hábito de se comportar como se a batalha estivesse ganha, Le Monde afirma que Temer é considerado o “ejaculador precoce do Planalto”.
O jornal destacou, ainda, que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pretende transformar a última votação da Casa, marcada para este domingo (17), em um espetáculo midiático, transmitido pela Rede Globo, com o objetivo de pressionar os deputados a votar pelo afastamento da presidente. “Temer não é o homem que os brasileiros esperam, mas ele acredita em seu destino”, completa.
“É apenas uma intuição. Os processos abertos pela justiça federal contra dúzias de políticos brasileiros nos numerosos escândalos da Petrobras serão encerrados ou jamais solucionados assim que a presidente Dilma Rousseff for afastada. O maior desvio de verbas públicas na história do Brasil terá sido milagrosamente resolvido. Políticos serão absolvidos de seus crimes. Ou seu envolvimento permanecerá um mistério, algo para historiadores e teóricos da conspiração debaterem nos Starbucks. Enquanto isso, a mídia vai parar de resmungar e tagarelar contra a corrupção. Alguns editores e repórteres não saberão mais sobre o que tuitar. Dilma se foi. Não há mais corrupção. A Petrobras e todos os políticos associados a ela estão livres em casa”, foi, para concluir, a análise de Kenneth Rapoza, em publicação no site da Forbes.
Acompanhando algumas redes sociais, a intuição do colunista norte-americano não parece estar tão distante da realidade brasileira:
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LEIA TAMBÉM:
“NYT: Parlamentares envolvidos em escândalos perseguem Dilma Rousseff”, no Jornal do Brasil (AQUI)
Festival de bobagens. O pensamento de fundo é que existe um “povo escolhido” que é o único com capacidade de enxergar “a verdade” e o resto da população são inocentes enganados pela “mídia do mal”.
Se Dilma tivesse “enriquecido ilicitamente” responderia no judiciário, lugar de crime comum. Esta respondendo no Congresso porque teria desrespeitado a lei orçamentária que é crime de responsabilidade.
Bom, e a mídia? Não tem o mesmo impacto que tinha antes. Vide USA, ficaram meses batendo no Trump e o sujeito só fazia era crescer nas pesquisas e nos votos.
Pergunta que não quer calar: se Dilma cair (o que não é certo) o que acontece com toda esta mídia chapa branca?
Vão perder a boquinha. Um repórter faz um artigo/coluna de horóscopo, dando palpites pessoais, fazendo apostas e a esquerda diz que é mídia séria.