O Leão e o impeachment – por Maiquel Rosauro

Desculpem minha indiferença, mas enquanto vossas excelências aproveitavam os dez segundos de fama no domingo, eu acompanhava os discursos resolvendo meus próprios problemas. Peguei a lista que a contadora havia me enviado e comecei a busca pela papelada, pois nunca é bom acertar as contas com o Leão nos últimos dias.

Eu odeio ter que fazer o Imposto de Renda. Todo ano é a mesma história, resgate de comprovantes, extratos… É pior do que se confessar na Igreja. Ao menos o padre eu conseguia enrolar e pagar em algumas Ave-Marias e Pais-Nossos, mas com o Leão não tem conversa.

A pior parte é encarar as finanças. Quando percebo o que paguei de juros ao longo do ano bate aquele rancor. “Por que eu fui entrar neste financiamento?”, me questiono para logo depois lembrar que não tem como viver sem uma residência e um veículo.

Analisando minhas contas é possível fazer um paralelo com o atual momento que o país vive. Se no Exercício 2015 mantive a vida financeira saudável, o mesmo não projeto para 2016. A perda de poder aquisitivo é real, algo comum para toda a classe média brasileira.

Durante a eleição pelo impeachment da presidente, diversos parlamentares afirmaram que o verdadeiro golpe foi ter deixado o país quebrar. Se esta fosse a verdadeira motivação pelo “sim”, eu até simpatizaria com a iniciativa. Todavia, não é a ineficiente gestão econômica que origina o impeachment, instrumento usado por Eduardo Cunha para salvar o seu próprio mandato na Câmara.

Finalizei a declaração, acertei tudo com a contadora e decidi pagar o imposto em duas parcelas. Agora é esperar para que este dinheiro tenha um bom uso, seja por Dilma Rousseff ou por Michel Temer. Independente de quem assuma o controle da nação, torço para que o país volte a andar nos trilhos.