Por AFONSO BENITES (texto) e RICARDO STUCKERT (foto/Fotos Públicas), na versão brasileira online do jornal espanhol EL PAÍS
“O Governo do Brasil se transferiu do Palácio do Planalto para o hotel Golden Tulip”. A afirmação feita pelo deputado federal Rodrigo Maia, do opositor Democratas, pode parecer exagerada para alguns, mas ganha ares de realidade para quem tem acompanhado os movimentos das últimas semanas em Brasília. É nesse hotel que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o articulador informal da presidenta Dilma Rousseff, tem promovido suas principais reuniões para tentar impedir que sua afilhada política sofra um processo de impeachment. Deputados, senadores e dirigentes partidários, que não são hóspedes do local, têm sido vistos com tanta frequência no luxuoso hotel que em alguns momentos é possível confundir o espaço com uma extensão da Presidência da República.
Nos encontros são discutidos quais serão as compensações para aqueles que resolverem votar contra o impedimento da presidenta no plenário da Câmara. A votação está prevista para ocorrer no próximo fim de semana. Cargos em ministérios ou autarquias federais, promessas de coligações nas eleições municipais e até a participação de Lula na campanha de 2018 – quando ele pode se candidatar à presidência – estão entre as promessas lulistas. “Que deputado não quer ter o apoio do Lula? Boa parte dos que estão aqui. Não dá para negar que ele tem um apelo muito grande com o eleitorado, mesmo estando sob ataque, como está nesse momento”, diz o líder do PT na Câmara, o deputado baiano Afonso Florence.
Apesar de ter sido um dos alvos preferenciais dos vazamentos da Operação Lava Jato (com direito a grampos telefônicos divulgados pelo juiz Sérgio Moro), a força política do ex-presidente fica evidente na última pesquisa Datafolha, divulgada neste sábado. Nos dois cenários propostos no levantamento para as eleições de 2018 – com o senador Aécio Neves ou com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como candidatos tucanos na disputa – Lula lidera com 21% e 22% das intenções de voto, respectivamente. Por enquanto, a única a fazer sombra sob o petista é Marina Silva, com quem ele empataria tecnicamente no cenário com Alckmin.
Dos 15 parlamentares que o EL PAÍS entrevistou nos últimos dias, apenas Florence nega que o ex-presidente esteja articulando para tentar derrubar o impeachment. “Não sei disso. Para mim quem age em nome do Governo é o ministro [Ricardo] Berzoini, da secretaria de Governo”. Todos os outros congressistas admitem que recentemente tiveram conversas pessoais ou por telefone com o ex-presidente e a pauta era única: as estratégias para evitar a destituição de Rousseff.
E por que é Lula, e não Dilma ou algum de seus ministros, quem mais se dedica a esse corpo a corpo com os parlamentares? Por conta de sua credibilidade com quem lhe é fiel, asseguram 14 deputados e senadores. “Ele não bate a porta na cara das pessoas. Não evita receber ninguém e, principalmente, faz de tudo para cumprir o que promete. Coisas que a atual presidenta não faz”, diz um congressista, ex-aliado de Dilma, que depois de conversar com Lula está pendendo a votar contra o impeachment…”
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Coisa mais certa do mundo é que o governo Dilma acabou. Mesmo não passando o impechment. Vai ter que pagar o PT pela permanência no cargo. Vão mandar ela sentar num canto e ficar quieta.
Pesquisa mostrou grande rejeição a Lula. Sua intenção de voto, ainda por cima, é abaixo da média histórica do partido, uns 30%.
E tem um detalhe, uma das escutas vazadas. Em chamada telefônica de 27/02, a transcrição da PF diz o seguinte: “ILS diz que quer que se fodam. LILS fala que o DATA FOLHA vai publicar amanhã que o LILS foi o melhor presidente do BRASIL”.
Ontem havia manifestação pró-governo no RJ. Canal Brasil, emissora “pública”, transmitindo ao vivo. Audiência baixa, mas mesmo assim.
Gente sem escrúpulos, sem limites morais, do “guerra é guerra”, com um certo desdém pela legalidade. Alguns ainda acham (e tentam fazer parecer) que é “normal”.