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Campos nativos – por Maiquel Rosauro

Sempre achei estranho seguir para o Oeste. Quanto mais me dirigia para a Fronteira, mais eu tinha a sensação de que estava entrando em outro Rio Grande do Sul. Durante a viagem eu me decepcionava com os milhares de hectares pouco aproveitados que encontrava pelo caminho. Gostaria de ver tudo tomado pela soja e outras culturas, assim como observava no trajeto para a Expodireto Cotrijal. Porém, ano passado, um livro mudou meu entendimento sobre a região.

De forma silenciosa e negligente, a biodiversidade dos campos nativos está em risco. É o que aponta “Os Campos do Sul”, obra que reúne contribuições de mais de 80 pesquisadores de diferentes universidades e instituições de pesquisa vinculados à Rede Campos Sulinos. O livro é editado pelo professor Valério Pillar, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da UFRGS e pela bióloga Omara Lange, associada aos laboratórios de Ecologia Quantitativa e Ecologia Vegetal no Centro de Ecologia da UFRGS.

Os campos nativos foram completamente eliminados em muitas regiões e nos locais onde restam importantes remanescentes campestres perdem-se alguns milhares de hectares a cada ano. Segundo o livro, o principal fator que tem causado a dramática perda de área de campo nativo é a conversão para áreas de agricultura (principalmente lavouras de soja, milho e arroz) ou de silvicultura (eucaliptos, pinus e acácia). Os campos existentes são suprimidos, seja com o uso de máquinas para lavrar a terra, seja com o uso de herbicidas aplicados para matar a vegetação campestre a fim de que as lavouras sejam implantadas.

O estudo aponta que os campos nativos são a casa de capins flechilhas, capim-caninha, barba-de-bode, santa-fé, grama forquilha, macegas, chircas, gravatás, carquejas, marcelas, vassouras e pega-pega e outras ervas, arbustos e árvores de muitos tipos. Também estão presentes borboletas, mariposas, formigas, aranhas, cascudos, ácaros, tatus, zorrilhos, emas, quero-queros, perdizes, perdigões, corujas, gaviões, chimangos, capivaras, graxains e muitos outros animais, incluindo bovinos, equinos e ovinos domesticados, e uma diversidade extraordinária e pouco conhecida de bactérias e fungos.

Após a leitura de “Os Campos do Sul”, tive a oportunidade de entrevistar o professor Pillar. Ele me explicou que diversas espécies de plantas campestres ainda resistem por algum tempo na forma de sementes ou estruturas subterrâneas (rizomas, bulbos), mas acabam morrendo se a área continuar sendo usada com lavoura. Já as espécies de animais com exigências ambientais mais restritas acabam se extinguindo localmente. Quantos graxains você viu no último ano?

Mesmo com uma realidade tão adversa, Pillar garante que é possível conservar a biodiversidade e, ao mesmo tempo e na mesma área, manter a atividade pastoril. Suas pesquisas indicam que através de um manejo pastoril mais adequado, é possível aumentar a produtividade da pecuária sobre campo nativo, tornando a atividade competitiva em relação a outras opções de uso da terra.

O avanço das lavouras sobre os campos nativos precisa ser discutido pela sociedade. Para ler “Os Campos do Sul” e se aprofundar no tema, acesse o link: http://ecoqua.ecologia.ufrgs.br/arquivos/Livros/Campos_do_Sul.pdf.

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