Por LUIS PRADOS, na versão brasileira do jornal espanhol EL PAÍS
A promessa do futuro. O sonho da ordem e progresso. A utopia da democracia racial. O Brasil há mais de um século busca seu destino em um futuro que acaba se revelando uma miragem enquanto parece que o passado e suas profundas cicatrizes marcam o caminho. Uma colonização puramente extrativista de recursos físicos – açúcar, café, borracha, diamantes, o que o mercado internacional demandasse – e humanos – a escravidão só foi abolida em 1888 – deixa sequelas, e dimensões continentais – ainda é debate entre os historiadores as causas que tornaram possível a manutenção da união do país – impõem algumas expectativas.
Razões geográficas, históricas, culturais criaram uma sociedade excepcional e, de certa forma, bipolar. A exuberância da sensualidade, a alegria do forró, a beleza das praias e até bem pouco atrás a magia de seu futebol, – a marca turística do Brasil – se contrapõe à timidez de seus habitantes, o sussurro e a melancolia da bossa nova e o infortúnio da pobreza e da desigualdade.
E nesse jogo de opostos, o sucesso como nação, forjada sem a violência da Europa e Estados Unidos, e o fracasso como Estado com instituições fracas e uma democracia ainda frágil. País racista sem segregação, como disse a esse jornal um de seus mais eminentes antropólogos, Roberto Da Matta, parafraseando o escritor Jorge Amado, com uma longa tradição de arrogância e corrupção de suas elites, educado no respeito à hierarquia e na reverência ao poder e construído sobre a exclusão, o Brasil tentou diversas vezes ao longo de sua história contemporânea inaugurar uma era de prosperidade e integração pelas mãos de presidentes que marcaram época, ainda vivos na lembrança de suas obras, da demagogia populista de Getúlio Vargas, que deixou o poder antes de ser expulso suicidando-se em seu escritório, até a Brasília de Juscelino Kubitschek passando pela imprudência esquerdista de João Goulart, – derrubado pelo golpe militar de 1964 –, até a racionalidade de Fernando Henrique Cardoso e a inspiração de Lula.
Com a chegada ao poder de Lula, o operário metalúrgico que perdeu um dedo na fábrica quando adolescente, o migrante pobre em São Paulo, o garoto que vendeu frutas nas ruas, o homem que falava de futebol e bebia cachaça, o político que representava dois de cada três brasileiros, parecia que desta vez sim, desta vez o Brasil iria se transformar na potência que o destino tantas vezes impediu. Há somente seis anos, com um crescimento econômico de 7,5%, com um país sede da Copa do Mundo de Futebol e dos Jogos Olímpicos, provavelmente não existia uma figura mundial, com a exceção de Obama, tão popular no planeta.
A oportunidade parece ter-se evaporado. A corrupção no poder, incentivada pelo próprio sistema político, a ausência de reformas e a permanência de disfunções estruturais, a perda da conexão com as ruas e a trágica incapacidade para satisfazer demandas sociais em crescimento exponencial, junto com causas exógenas relacionadas à economia global, lançaram o Brasil em uma profunda crise de solução incerta. A centro-direita volta ao poder, volta o PMDB, o partido que nunca saiu dos Estados e municípios, volta o ajuste com mãos de ferro. O País, como os brasileiros gostam de falar, precisava de um purgante, mas com a visão do espetáculo dado pela classe política para retirar Dilma Rousseff da presidência é uma incógnita saber se a democracia brasileira sairá ou não fortalecida desse transe. Espero que dessa vez o passado não volte a atropelar o futuro.”
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“Gegê” foi um ditador. Não podemos nos orgulhar disso.
Nação forjada sem violência é desconhecimento da história nacional. Guerra da Independência, muitas guerras civis, ditaduras civis e militares Só para citar um exemplo pode-se falar em Artur Bernardes, governou sob estado de sítio, com controle de imprensa e restrição de direitos. Dele se falava uma frase durante a campanha eleitoral que depois Lacerda chupinhou: não seria eleito; eleito não seria reconhecido, não tomaria posse, não passaria pelos umbrais do Catete.
Centralismo e federalismo sempre brigaram e ainda não se resolveu a situação. Tanto que o pacto federativo é discutido e precisa de modificação. Outro fato histórica ilustra os extremos a que se chegou: Getúlio Vargas, o positivista, promoveu a queima das bandeiras estaduais em cerimônia (nada fascista) no Rio de Janeiro. Gegê mandou queimar a bandeira do Rio Grande,
Muitas questões a serem respondidas e o sistema com 28 partidos no Congresso é instável. Deste jeito até a Constituição de 88 pode dançar.