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OLHAR DE FORA. Gilmar, Frota, FH e a turma da “objetividade científica” – escreve o Moisés Mendes

moisés mendesPor MOISÉS MENDES (*)

O príncipe da sociologia brasileira provocou alvoroço internacional ao desistir de falar no congresso da Associação de Estudos Latino-Americanos, em Nova York. Fernando Henrique Cardoso assustou-se com os protestos anunciados por um grupo de cientistas e emitiu uma nota com explicações.

Diz a nota: “Os atuais ventos ideológicos que circulam em certos centros acadêmicos parecem misturar a postura de cientistas com a de ativistas”. E segue: “Aqueles que me conhecem sabem que eu fui formado como cientista social numa época que, a despeito de crenças e valores, intelectuais deviam manter a objetividade científica como um valor central em seus desafios acadêmicos”.

Você lê e fica pensando: de que objetividade científica fala FH? Por que, para desqualificar o direito de manifestação dos outros, ele recorre a uma pretensa ciência objetiva, requisitada como protetora de suas condutas?

Até em Nova York sabem que FH foi um dos primeiros ativistas do golpe, apesar das queixas de que tentaram golpeá-lo quando era presidente. Mas a anunciada participação no congresso, o recuo, a nota com desculpas – tudo parece incorporado à nova normalidade brasileira.

O líder tucano pretendia aparecer em Manhattan disfarçado de cientista centrado nas objetividades, para debater o futuro do Brasil de Michel Temer, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Alexandre Frota, Eduardo Cunha e seus coronéis do Congresso. Foi desmascarado antes da palestra.

O FH acadêmico, que quase não existe mais, parece não ter constrangimentos com a turma da política, apesar de uns e outros se misturarem. Tudo é normal para ele, para seus amigos cientistas e para um vasto contingente da imprensa.

Assim como parece normal aos liberais brasileiros que um ministro do Supremo, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, faça uma visita num sábado à noite ao presidente-interino-chalaça, em seu Palácio Jaburu, em meio à divulgação de grampos que podem destruir o PMDB e o próprio governo interino.

O visitador Gilmar Mendes vai julgar as contas da campanha eleitoral de Dilma-Temer. O vice na interinidade é parte interessada. Mas a postura do ministro é observada, avaliada e analisada, para que, na percepção média e mediana dos formadores de opinião, seja enquadrada apenas como algo estranho, mas dentro da normalidade. É esdrúxulo, é esquisito, é suspeito, mas é normal.

Assim como era normal a permanência de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, até o desfecho do golpe. Cunha só passou a ser uma aberração ao completar o serviço sujo. E tivemos então a publicação de textos retardatários indignados com a postura do chefe dos golpistas.

Também merece algumas observações à esquerda, mas profundo silêncio à direita, a existência da masmorra de Curitiba. A prisão preventiva-primitiva de quase um ano de empreiteiros corruptos que resistem à delação premiada seria normal, porque juridicamente sustentável.

Os liberais da imprensa e do Direito, com as exceções que raramente se manifestam, submetem-se aos comandos do juiz Sergio Moro com científica e obsequiosa concordância.

Assim como parece normal que os mesmos liberais se insurjam contra a ideia de eleições agora, para que se resolva a crise política, quando tudo o que eles queriam – até pelo menos um ano atrás – era a antecipação das eleições. É normal, com a degradação política e moral dos candidatos tucanos, que uma eleição agora seja um golpe.

Faz parte da mesma normalidade que um governo interino, tomado por corruptos grampeados, anuncie um suspeito déficit R$ 170,5 bilhões e cortes em saúde e educação. E que os analistas independentes reajam, com suas análises científicas, como neutros comentaristas da normalidade.

O FH que pretendia defender com fervor sua ciência objetiva em Nova York, o pato objetivo da Fiesp, o Paulinho da Força que ama o pato da Fiesp, o juiz que prende objetivamente para obter delações, o presidente interino que age em nome do mesmo pato da Fiesp, os grampos do Jucá, as visitas noturnas de Gilmar Mendes – tudo se incorpora à nossa normalidade. O ativismo a ser condenado é o dos outros.

Os estudantes, que assumiram a liderança da reação ao golpe nas ruas, sabem do desconforto de alguns líderes golpistas com a normalidade forjada. Pois empurrem esse pessoal contra a parede, testem suas resistências. Os estudantes têm a força para desmontar a farsa que sustenta as crenças e os valores dos cientistas do golpe – que não estão apenas no Jaburu e no Congresso.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O artigo do jornalista Moisés Mendes foi originalmente publicado no “Extra Classe”, informativo online do Sinpro-RS, sindicato que representa os professores gaúchos que atuam no ensino privado

OBSERVAÇÃO. Os créditos das fotos da imagem montada são (da esquerda para a direita): Divulgação / Carlos Humberto / Fabio Rodrigues Pozzebom / Alex Ferreira / Divulgação

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3 Comentários

  1. “O príncipe da sociologia brasileira provocou alvoroço internacional ao desistir de falar no congresso da Associação de Estudos Latino-Americanos, em Nova York.”
    Desistiu não é o termo correto, faltou tonéis de óleo de peroba para sua maquiagem.
    Fugiu, vazou,faltou coragem.

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