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Filosofia e Governamentalidade – por Liliana de Oliveira

Filosofia não se faz na solidão. É preciso do outro, é preciso compartilhar idéias, argumentar, contra-argumentar, defender o que se pensa por meio de razões. Por isso, para que possamos pensar o ensino da Filosofia temos que pensá-lo de dentro, de dentro das instituições que garantem este espaço para se ensinar Filosofia.  Pensemos a escola como um desses lugares. A escola reproduz os hábitos vigentes em circulação, isto é, a escola reproduz os valores vigentes de um determinado tempo em uma determinada cultura. Cultura que circula e se incorpora. E ao se incorporar vai constituindo os sujeitos. Significa dizer que as práticas pedagógicas são práticas de subjetivação, pois a partir delas o sujeito aprende a ver-se, pensar-se, nomear-se e narrar-se.

Se as práticas pedagógicas são práticas de subjetivação, as aulas de Filosofia acabam por moldar um tipo de sujeito. Quando estamos ensinando Filosofia dentro de uma instituição estamos conduzindo condutas, isto é, governando a conduta dos outros. Esta condução de condutas (governo) se dá dentro de uma racionalidade neoliberal, o que implica que determinadas formas de ser e estar no mundo atende a uma racionalidade neoliberal.

Tomando a definição de governamentalidade dada por Michel Foucault como “o conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas, os quais permitem exercer essa forma de exercício do poder que tem, por objetivo principal, a população”, poderíamos entender a necessidade de uma educação familiar e escolar para governar a população.

Dentro de um modelo neoliberal, quanto mais a escolaridade básica habilitar o sujeito para o desenvolvimento de habilidades e competências, quanto mais capacitarmos um sujeito para agir, tomar decisões, assumir responsabilidades, antever possibilidades, construir argumentos, dominar linguagens, etc., mais capacitado estará para competir dentro do mercado de trabalho. Uma das características mais marcantes dessa governamentalidade neoliberal é incentivar a competição. Competição presente e estimulada no interior das instituições.

Dentro dessa lógica neoliberal precisamos criar as condições para que os indivíduos comprem mais, consumam mais. Há uma íntima relação entre competição e consumo dentro do capitalismo, mas o consumo é secundário em relação à competição. As escolas investem no dispositivo do empreendedorismo, ou seja, no imperativo do auto-empresariamento. A escola privada e/ou pública é necessária para o neoliberalismo, pois ela vai preparar empreendedores,a medida que o aluno, a partir da educação recebida naquela instituição, se apresenta melhor, se empresaria melhor.

Quem é o aluno empreendedor?  Aquele que tem ambição, projetos, se arrisca, é criativo, inteligente, flexível, comunicativo, etc. O aluno empreendedor é aquele que parece ter as condições para vencer no mercado do trabalho. Para que tenha sucesso é preciso que possa competir com os demais e competindo com os demais, vença. Ao vencer, consuma.

As escolas conferem diploma de mérito àqueles que apresentam as características por elas promovidas. A questão do mérito se coloca aqui. Por entendermos serem os vencedores os melhores, valorizamos uma sociedade meritocrática. Uma sociedade que prima pela meritocracia é uma sociedade defensora da hierarquia baseada no conhecimento que cada um adquiriu por meio da educação. Assim, cada um dos indivíduos passa a acreditar que pode ocupar determinada vaga, determinado cargo ou função social porque merece. Aqui temos a valorização do indivíduo e a desconsideração de toda uma totalidade e complexidade que estão para além das capacidades individuais.

O ajustamento do indivíduo neste mercado competitivo e qualificado dependerá da sua formação geral.Quanto maior o investimento na formação do indivíduo, maior será a possibilidade de sucesso profissional. Dentro desse modelo que define a qualificação do trabalhador pelas competências, há uma articulação entre formação e trabalho. Dito de outro modo, dentro de um modelo neoliberal, a escola é a maquinaria essencial. E alguém duvidava disso!?

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