Homens não choram – por Maiquel Rosauro

Qualquer garoto aprende desde cedo que homens não choram. O conselho é levado adiante para toda a vida, mesmo sem entender o motivo. Não importa a situação, o fato, a perda, a dor, simplesmente, homens não choram.

Eu não lembro a última vez em que chorei, mas sei que não foi em 27 de janeiro de 2013.

Naquele dia perdi um de meus melhores amigos, João Carlos Barcellos. Parceiro de viagens, de festas, de trabalho, uma daquelas pessoas que só encontramos uma vez na vida.

No pior momento, quando entrei no CDM e a mãe do João correu para o meu lado e me abraçando, desesperada, disse “meu filho morreu queimado”, eu despenquei para o fim do mundo. Até hoje me sinto tenso quando lembro dela segurando meus braços com força e olhando fixamente em meus olhos. Eu suava e nada disse. Até hoje, não sei o que dizer. Mas lembro que segurei as lágrimas. E acho que seguro até hoje.

Em algumas horas, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deve anunciar a sentença de primeiro grau que define como os réus do processo da boate Kiss serão julgados. Será apenas mais um capítulo de uma história que ainda está muito longe do fim.

Eu consigo esconder a tristeza, mas não a minha indignação. Não considero que apenas quatro sejam culpados pela morte de 242. Da mesma forma, ainda não consigo entender como os órgãos públicos deixaram aquela boate aberta, mesmo com tantas irregularidades.