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REFLEXÃO. As mudanças por que passa a mídia, a chegada dos grandões da internet e o que pode sobrar

O experiente jornalista Luis Nassif monta um xadrez da crise da imprensa e do jornalismo. O que existe. E o que pode (ou vai) dançar
O experiente jornalista Luis Nassif monta um xadrez da crise da imprensa e do jornalismo. O que existe. E o que pode (ou vai) dançar

Por LUIS NASSIF, do jornal GGN, com fotomontagem de Reprodução

Nos últimos anos, a convergência digital aproximou grupos jornalísticos, mídia, telecomunicações e Internet. A Amazon se tornou um grande datacenter e um grande especialista em vendas virtuais e acabou engolindo o Washington Post; antes, Rupert Murdock avançou sobre redes sociais e canais de televisão; empresas de telefonia montaram portais, fabricantes de televisores passaram a explorar o acesso dos aparelhos à Internet. No Brasil, da Folha nasceu a UOL que se tornou um grande provedor de serviços e um shopping digital.

Depois da fase inicial de multiplicação de iniciativas na Internet e nas telecomunicações, ingressou-se em um processo crescente de concentração global. E as novas tecnologias, revolucionando as formas de produção, criaram o espaço para o surgimento das megacorporações globais.

Tudo isto se refletiu no Brasil, através dos seguintes eventos:

Peça 1 – A desnacionalização do setor

A cadeia produtiva da mídia é composta por anunciantes, agências de publicidade, assessorias de comunicação e os veículos.

Nos últimos anos observaram-se os seguintes fenômenos:

  1. Desnacionalização de empresas anunciantes.

O curto período de boom da economia brasileira trouxe para cá mais empresas estrangeiras e, no seu rastro, conglomerados de agências de publicidade e de relações públicas adquirindo as empresas brasileiras do setor.

Não se tratou apenas da desnacionalização dos diversos setores, mas da transferência dos sistemas de decisão para o exterior. Mesmo nas teles privatizadas, houve um período tocado por executivos brasileiros, muitos egressos do antigo sistema Telebrás, com redes de relações e foco no país. Esse quadro mudou. Hoje em dia há uma troca constante de executivos que têm como foco apenas a matriz.

Teve impacto grande no setor. Além da afinidade de negócios, essas empresas tinham papel central no mercado publicitário, como grandes anunciantes.

  1. Desnacionalização das agências de publicidade e de relações públicas.

Nos anos 90 era comum grandes publicitários em conselhos de empresas jornalísticas. Havia pactos tácitos, com a mídia glamourizando publicitários ou clientes e estes garantindo as verbas dos clientes nos veículos. Agora, os contatos se tornam cada vez mais impessoais.

  1. O fim da era do papel.

Os últimos dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação) são elucidativos da agonia dos grupos de mídia. A cada dia que passa minguam as edições impressas, sem serem compensadas pelas edições nacionais. As impressas ainda têm um modelo de faturamento tradicional, residual, e custos elevados; as digitais não conseguiram desenvolver seu modelo de negócios.

A rigor, o único grupo brasileiro de fôlego que se mantém são as Organizações Globo.

Peça 2 – A crise da imprensa

A decadência dos modelos de negócios tradicionais foi acelerada pela entrada do Google no mercado brasileiro, O Google já se tornou o segundo veículo em faturamento publicitário no Brasil e aprendeu rapidamente a se valer dos BVs (Bônus de Veiculação) dos grandes grupos. Nos últimos tempos, têm ocorrido o crescimento vertiginoso do Facebook, com um modelo ainda mais consistente que o do Google, pela interação direta com o usuário, através do preenchimento de dados de seu perfil e do acesso direto às suas opiniões.

Ao longo de décadas a publicidade consolidou-se em torno de duas estratégias centrais: a publicidade nacional, para bens de consumo de massa; a publicidade segmentada.

A publicidade de massa buscava as redes de televisão. A segmentada disponibilizava um naco importante para jornais e revistas, que ofereciam um público relativamente homogêneo e qualificado nos hábitos de consumo de produtos e de ideias.

Com a proliferação da Internet e das redes sociais, grandes grupos, como Google e Facebook, conseguiram montar modelos muito mais focados, com segmentação garantida por bancos de dados amplos e bem trabalhados.

Peça 3 – a crise do jornalismo

Em tese, jornalismo é serviço público. Desde que se formaram as sociedades democráticas, deveria ter papel essencial na organização das informações, na organização do mercado de ideias, inclusive captando tendências e mudanças, na fiscalização do Estado etc.

A crise do negócio da imprensa atingiu em cheio o jornalismo. E aqui se trata de separar a imprensa (os grupos jornalísticos) do jornalismo, duas atividades distintas que, vez por outra, se complementam.

Há um conflito histórico entre os objetivos públicos do jornalismo e os interesses comerciais dos grupos de imprensa. No caso do Brasil, nas últimas décadas houve um desvirtuamento amplo do papel do jornalismo, subordinando-o inteiramente aos interesses dos grupos de mídia, atingidos em cheio pelas novas mídias.

A busca de alternativas comerciais tem promovido um completo desvirtuamento do jornalismo.

– A instrumentalização política, na qual os jornais abriram mão das ideias e da isenção.

– Nas TVs fechadas, o loteamento de espaço para o desenvolvimento sustentável dos tempos evangélicos.

– Nos últimos tempos, publieditoriais (publicidade disfarçada de matéria) cada vez menos identificados como tal. Alguns canais de TV por assinatura têm produzido programas supostamente jornalísticos de divulgação de produtos ou empresas.

Peça 4:  os novos tempos digitais

Há dois tipos de mídia: as mídias nacionais que falam diretamente aos centros de poder; e a mídia sensacionalista, que se destina ao chamado leitor comum. Nos anos 20, H.L.Mencken, o grande cronista dos insultos, dizia que preferia a imprensa marrom sensacionalista, por ser menos hipócrita que a supostamente séria.

No recente plebiscito inglês sobre a saída da União Europeia, os tabloides conseguiram um peso maior do que os jornais dito sérios sobre a opinião pública inglesa.

É mais um sinal da completa desarticulação do mercado de ideias. Além da crise dos partidos políticos, não se tem mais a chamada mídia de opinião como articuladora. A pulverização das opiniões, nas redes sociais, vitimou partidos políticos e mídia.

No caso brasileiro, não se pode dizer que a perda de protagonismo da grande imprensa seja negativa. Mesmo nos anos de ouro, na década de 90, a imprensa pouco disseminou as grandes discussões nacionais, os temas centrais da nacionalidade, da competitividade. Hoje, menos ainda.

No entanto, para que se tenha esperança de, em um ponto qualquer do futuro, haver o renascimento de um projeto de nação, de alguma maneira haverá a necessidade de se buscar canais capazes de aglutinar as alianças em torno dos macrotemas.

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Um Comentário

  1. Muita cascata no meio. Primeiro porque jornais nunca foram isentos. Existe até uma cena no filme “Chatô, o rei do Brasil” em que a dona de um jornal fala para o personagem principal que se ele quer definir o que sairá escrito no periódico (ele está cheio de “idéias” sobre anúncios comerciais) teria que arrumar um para ele. Acaba conseguindo com empréstimos intermediados por Getúlio. Que também ajudou na fundação da Ultima Hora. O resumo é simples, quem paga a banda define a música que toca. Nassif não conseguiu contrato com a Empresa Brasileira de Comunicações devido às longas tranças louras.
    Segundo aspecto é que não contrariando os donos e nem os anunciantes rola qualquer coisa. O que rende “elogios” para jornalistas nas redes sociais tanto pelos erros como pelas opiniões.
    Nada disto é exclusividade tupiniquim. Outro dia uma importante jornalista da CNN teve uma escaramuça com um entrevistado importante a respeito do Brexit. Primeiro ela começou afirmando que ele teria afirmado algo a respeito de determinado assunto, no que foi contrariada pelo sujeito que refutou dizendo que nunca tinha dito aquilo e que tinha um livro publicado afirmando exatamente o oposto. Depois apresentou entrevistas com transeuntes, três para ser exato, com tendências “xenófobas”. O entrevistado chiou, óbvio, porque ela poderia ter entrevistado trinta pessoas e escolhido o que apresentar (o viés ficou óbvio). Ficou tão feio que a jornalista teve que publicar uma nota de esclarecimento meio que se desculpando.

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