Quem Nunca? – por Alice Elaine Teixeira de Oliveira
Ele chegou em casa cansado e derrotado. A semana havia lhe pesado mais que dezesseis toneladas em seus ombros. Problemas no trabalho, com a família, com a vizinhança e com as suas economias. Sentia o fracasso bater em sua porta e dormir ao seu lado, todas as noites. Ele não vivia, apenas sobrevivia…
Ainda no começo da semana, notou uma bolinha de papel caída ao chão, no caminho do trabalho, e decidiu levar até um lixeiro próximo, colocou no bolso do paletó, e esqueceu. Hoje, ele repetiu a mesma roupa de segunda-feira e enquanto procurava as chaves da porta de casa, encontrou aquela folha de caderno amassada e descartada há mais de cinco dias.
Sentiu uma súbita curiosidade e sem pensar muito, enquanto ainda abria a porta e acendia a luz, começou a desdobrar e desfazer aquela bolinha, e sentando-se na poltrona, enquanto a porta batia começou a ler o que havia sido escrito à lápis e de forma trêmula…
“Quem nunca se decepcionou com alguém?
Quem nunca se chateou na vida?
Quem nunca se magoou no amor?
Quem nunca se entristeceu com um amigo?
Já parou para pensar, que sentimos isso por quem nós mais amamos?
Já percebeu que quando vem de alguém que não somos íntimos, ou talvez, não tenhamos tanto amor ou tanta admiração, por este, não dói tanto?
Já sentiu raiva de alguém e ao mesmo tempo sentiu que ama essa pessoa?
Já pensou alguma vez em se afastar de uma pessoa, mas, ao mesmo tempo quis estar perto?
Parou alguma vez para pensar, que às vezes, nos machucamos por esperar de mais das pessoas?
Parou alguma vez para pensar, que às vezes, achamos que os outros fariam por nos oque nós já fizemos por eles?
Parou para pensar em quantas vezes já se enganou com alguém? E que sempre acha que vai ser a última vez?
Parou para pensar e muitas vezes repensar como poderia ter sido diferente?
E quantas vezes nos arrependemos de dizer algo?
E quantas vezes pensamos que éramos importantes para alguém? Quando na verdade essa pessoa era importante apenas para nós?
E quantas vezes nos preocupamos tanto com alguém, ao ponto de ficarmos ansiosos por dias, com aquela ansiedade dentro do peito que machuca, deixando o coração acelerado e depois nos arrependemos por ver que essa pessoa não estava ‘nem aí’ para você?
Quantas vezes defendeu alguém, acreditando que este alguém faria o mesmo por você?
Quantas vezes se sentiu injustiçado, por ser acusado de algo que não fez ou falou?
Quantas vezes chorou no travesseiro ou no banho e se achou fraco por não conseguir esquecer tão fácil?
Quantas vezes sorriu e se fez de forte, quando seu desejo lá no fundo era abraçar a pessoa à sua frente, e chorar?
Quantas vezes sofreu por alguém que não acreditou em você? E quantas vezes quis provar algo para alguém?
Com toda certeza todos, ou mesmo alguns, já se perguntaram estas coisas, ou já passaram por situações assim e sentiram isso.
É algo terrível de se sentir, qualquer que seja a situação, e isso machuca muito mais que um tapa na cara. Um tapa literal.
Alguns dizem que o melhor e deixar para lá, ou esquecer, ou como alguns dizem: passar por cima de tudo e ser feliz.
Mas sabemos exatamente que não é tão simples assim!
As vezes pode durar horas, dias, semanas, meses ou até anos e ainda assim continuar lá. E não esquecemos.
Pode até parecer algo bobo ou algo banal, que se fossem outras pessoas até diriam que tirariam de letra. Mas para você é algo desgastante e te faz pensar e questionar em quem confiar, acreditar, se aproximar e se apegar.
Escutei muitas pessoas dizerem que é apenas uma questão de tempo. Que o tempo cura tudo.
Mas na realidade não é o tempo que cura ou ajuda. Não!
E você mesmo! Sim você!
Quando amadurece!
Quando aprende!
Quando vê as coisas de forma diferente!
Aprende a se amar em primeiro lugar. Aprende a se valorizar!
Acima de tudo, aprende a se RESPEITAR! Algo que nunca, nem ninguém será capaz de fazer por você! Até porque, somos humanos imperfeitos e falhos, e é impossível agradarmos a todos e muitas vezes não agradamos nem a nós mesmos.
Mas oque realmente podemos fazer de prático é tentar….
Tentar aprender. Tentar mudar. Tentar ajudar. Tentar amar.
E se no final nada der certo. Você terá a consciência de quem ao menos tentou fazer a coisa certa.
Nem sempre nossos esforços serão reconhecidos ou vistos com bons olhos. Nem sempre seremos amados e valorizados e nem respeitados. Mas poderemos olhar para o alto e estar nos sentindo em paz e leves e poderemos dizer este conhecido ditado popular: Eu Tentei!”
Apertou firme o papel, encorajou-se com as palavras que acabara de ler e devorar. Firmou seus pés ao chão e levantou! Olhou seu reflexo na televisor desligado e disse: eu também tentarei!!!
Perfeito .