Mais um fim de dia – por Alice Elaine Teixeira de Oliveira

Naquela noite ele decidiu que iria mudar. Mais uma vez, mais uma tentativa. Queria pôr um ponto final nos assuntos mal resolvidos e definir de uma vez aquela vidinha complicada que o acompanhava desde o começo da adolescência.

Enquanto martelava os pregos e pendurava as últimas frigideiras, ia traçando os planos para o futuro. Cuidadosamente organizava os utensílios da cozinha tentando fazer o mesmo com os seus pensamentos.

Entre luz e escuridão surgiam os problemas insolúveis e as ansiedades do dia a dia. Ao lavar sua xícara e pendurar no gancho, abaixo do aéreo, imaginou uma forma de arrumar suas emoções de forma tal a não precisar nunca mais chutar alguma delas para baixo da cama.

Tomando um pano de pratos nas mãos, pôs-se a secar os pratos do escorredor, deixando sua mente divagar, sonhar com outra vida que não a dele neste momento e no seu imaginário criativo e utópico ele queria ter nascido em outro lugar, na praia, talvez. Dentro de sua cabeça, ele achava que merecia ter recebido tudo que havia sonhado enquanto criança: uma família feliz, pais imortais, uma profissão recompensadora…

Um momento de lucidez e um prato balança e escorrega de suas mãos. Num golpe rápido de agilidade, ele agarra o prato e respira aliviado. Disse em seu coração: – Basta! Chega de tentar resolver o que está longe do alcance apenas com hipóteses. E concentrou-se nas atividades que fazia para não correr o risco de trabalhar mais do que já fosse o necessário.

Ligou o automático ao varrer o chão, apenas sentindo falta de algo, um pouco de música, quem sabe. Juntou o lixo e guardou a vassoura. Tudo estava limpo e organizado em seu apartamento, enquanto ele, por dentro, estava em cacos…

Apagou a luz.