Por JOÃO GILBERTO LUCAS COELHO, originalmente publicado no Feicebuqui do autor
1 – Senti-me o próprio colonizado nos últimos dias: a mídia brasileira fez uma cobertura do pleito nos EUA como se as eleições fossem no Brasil. Era um fato importante sim e tem repercussões para o mundo e para o Brasil. Mas, não se faz uma cobertura dessas, por exemplo, nas eleições argentinas, nossos maiores vizinhos e suas políticas seguidamente interferem por aqui; nem vejo o interesse todo por acontecimentos e processos em curso em outros lugares com repercussão em todo o mundo.
2 – A mídia brasileira tomou posição de torcedora no pleito norte-americano pela candidatura menos ruim. Posição razoável. Mas, esqueceu a obrigação de informar. Passava a sensação de eleição decidida para a candidatura democrata, quando os sinais indicavam um grande ponto de interrogação. Contaminaram a informação, com a sua preferência o que sempre prejudica a verdade e a capacidade de avaliação do leitor, ouvinte ou telespectador.
3 – Claro também tapei o nariz e torcia pelo mal menor. Mas, desde o sucesso nas prévias republicanas “contra todos, inclusive a máquina do próprio partido”, temia o candidato ensandecido.
4- A antipolítica e os candidatos de fora das regras e sistemas estão em ascensão. A saída do Reino Unido da Comunidade Europeia, a ascensão de partidos extremados por todo o Ocidente, o agravamento da tensão entre muçulmanos e cristãos, etc e etc são sinais de que nos aproximamos de tempos muito difíceis. Por aqui também cresce a possibilidade de um perfil desses ganhar um pleito nacional. As vanguardas radicalizam e se isolam e não parecem perceber isso.
5 – Estaria na hora de tentar salvar a política, hoje comprometida por maus comportamentos e por uma generalização primária que a mídia irresponsavelmente alimenta na opinião pública para depois chorar o leite derramado. Sem a política, as coisas ficam sempre muito piores.
6- No demais é apertar os cintos: o Boeing norte-americano vai voar pilotado por um maluco criativo, destemperado, imprevisível.”
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Veja a importância do texto do João Gilberto Lucas Coelho, levou o povo da direita a produzir um tratado sobre obviedades para desmerecer a nossa geração com adjetivos de mau gosto. Sobre o texto do João, nada a acrescentar, pois disse o que pensavamos e nunca foi tão atual e necessário. A voz de uma geração não se cala e se quem ouvir tiver a sensibilidade suficiente de aprender com ela podemos conviver numa sociedade mais democrática.
João Gilberto renasceu das cinzas.
1. “Somos colonizados”. Visão arcaica do tempo da Guerra Fria. Tem gente que não muda o discurso nunca, mesmo que não se traduza na realidade. Pensei que essa estória de colonizado já tinha virado cinzas, já que esse chavão morreu até entre os vermelhinhos. Da outra parte, dos “colonizadores”, esse país não existe para eles desde os tempos do Obama, nem como “colonizado”. “Somos um zero” agora. Por 13 anos, “muito à esquerda”, literalmente, que nos deixou do ralo. Fizemos de tudo por merecê-lo e os EUA não tem culpa nenhuma no cartório. Veja como crescemos. Não somos mais colonizados, somos independentes, quebramos por nós mesmos, pela nossa falta de educação, competência, inovação, falta de produtividade, com as contas públicas cada vez mais no vermelho.
Então, a nossa imprensa mostrar com mais tempo o que estava acontecendo lá, nesses dias, não fez mais do que obrigação. Quem não queria saber, desligou a tv.
2. Nas semanas passadas recentes, com o andar dos debates, se falava aqui que a dona Hilary estava a perder pontos, refletindo as pesquisas de lá. Dia 01 a Folha e outras divulgaram uma pesquisa que colocava Trump a frente, que repercutiu nos mercados do mundo inteiro. Depois vieram outras que colocaram Hilary somente 3 pontos à frente, logo, empate técnico. Logo, imprevisível. Na verdade a imprensa nacional refletiu a imprevisibilidade desse pleito nas últimas semanas igual ao sentimento que havia lá.
3. Ok.
4. A força dos candidatos “antipolíticos” é apenas reflexo das asneiras que os políticos andam fazendo no mundo inteiro, inertes, encastelados nos seus mundos ideológicos ignorantes, fora do tempo, buscando somente o poder, sendo populistas e fracos no comando, com medo de serem impopulares, cometendo erros crassos nas administrações que fazem. Já não era sem tempo dessa mudança acontecer (acontecer o fim do velho modelo de fazer política, feita para iludir a patuleia). Pena que o antipolítico de hoje ainda não leve à posse candidatos por competência. São apenas a opção “loteria”, do tipo “sorte”. Mudar e ver no que dá. Uma aposta.
5. O que nós precisamos não é salvar a política, essa já deu, porque até hoje feita por grupos ideológicos desqualificados de competências e conhecimento, que entram nos governos e só fazem piorar tudo a maior parte do tempo, quando não deixam como está. A gestão pública atingiu um patamar de complexidade que não pode mais ser campo de ação de leros-leros esquizofrênicos, fora da realidade. Esse tempo já foi, seu Gilberto.
É um absurdo, em pleno século XXI, termos uma consciência tão pequena que não enxerga que precisamos votar em candidatos pela competência deles, com educação formal mesmo, que deveriam ser auxiliados por pesssoas que são também competentes nas áreas às quais foram elencados. Hoje elegemos candidatos que nos fazem gostar de sermos iludidos por promessas de araque, pelo populismo, pelo descontrole das contas que prometem fazer (só prometem mais despesas), pela ideologia (ignorante da realidade) que se diz “salvadora”, mas não se salva ninguém sem conhecimento e qualificação. Não tem cabimento votar em pessoas cujo slogan é “luta” e “trabalho”. É ridículo. Só isso resolve os problemas? Vai saber resolver os problemas sem conhecimento de causa? A classe política tradicional vai absorver essa necessidade premente, entender e vai mudar, vai fazer filtro dos seus partidários para pegar os melhores e mais competentes? Nunca. Até mesmo porque gente boa que faria gestão qualificada está bem longe da politica e nem quer chegar perto dela. O que importa para o político tradicional é o poder, e para isso aceita até o Tiririca como candidato, pois sabe que o que está em jogo não é a competência do Tiririca e de um governo eficiente porque usaria conhecimento, são os milhões de votos dele que vão “puxar” poder para o partido. E depois “se dá um jeito”.
6. Há esse grande risco de acontecer, mas também sabemos que ele não é tão burro e inconsequente quanto o Bush. O resultado vai depender do nível, competência e responsabilidade dos seus assessores.
O que acontece lá fora tem pouco a ver com o que ocorre aqui. Reino Unido e USA cresceram 2,5% em 2015. Argentina andou de lado e Brasil encolheu. O busílis é a globalização e seus descontentes.
Economistas gostam de falar que o fluxo pessoas, de dinheiro, de posições de trabalho, etc. diminuiu a pobreza e aumentou a riqueza em todo o globo. Só que os benefícios não atingiram a população por igual. Era dever dos políticos corrigir este problema, preferiram fazer nada e ficar mostrando estatísticas. Descontentamento não vai para debaixo do tapete. Não é a toa que a nova primeira ministra britânica assumiu falando em “governo de uma nação que funciona para todos e não somente para alguns privilegiados”.
Política não precisa ser salva, mas terá que mudar. Até os americanos já comentam que Washington perdeu contato com a realidade.
A estratégia de Trump está ficando mais clara. Além de cooptar os descontentes (trabalhadores em manufatura cujos postos migraram para a China, pessoal do carvão que perdeu emprego por causa do gás e novas fontes de energia, jovens desempregados), trabalhou incansavelmente para diminuir a abstenção histórica dos republicanos. Pessoal da Hilary não notou isto a tempo. Deu no que deu.
Existe uma diferença óbvia de gerações. Para o pessoal da geração do autor tanto o colonialismo quanto o anti-americanismo eram tópicos importantes.
A economia americana é 10 vezes maior do que a brasileira. Além disto é muito mais diversificada, não é a toa que são potência. A economia brasileira é 3 vezes a Argentina. Grande parte do comércio com o país platino é devido ao acordo automotivo, o qual faz água há tempos. Aí aparece outra diferença de gerações, os contemporâneos do autor sonhavam com uma America Latina unida, uma “comunidade” igual a européia. A de lá entrou em crise, o Mercosul nunca decolou.
Midia brasileira tomou o caminho mais óbvio. Não existe interesse tupiniquim diretamente envolvido, logo os jornalistas ganham liberdade total. Jornalistas são, na grande maioria, de esquerda, em todos os lugares do mundo. Acabaram fazendo aqui campanha para uma eleição que acontece lá.