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MEMÓRIA. À espera do Adeus a Fidel, direto de Cuba

Ciudad Deportiva, no bairro Cerro, costumeiramente lotada aos finais de semana, recebeu poucos jogadores de baseball e futebol
Ciudad Deportiva, no bairro Cerro, costumeiramente lotada aos finais de semana, recebeu poucos jogadores de baseball e futebol

Por GUSTAVO DHEIN (texto e fotos), direto de Havana, Cuba, Especial para o Site

O show da banda cubana Metastasys foi interrompido pela organização do festival Ciudad Metal, em Santa Clara (260 km de Havana), ainda na primeira hora do dia 26, sábado. Um locutor subiu ao palco, anunciou o falecimento de Fidel Castro e o cancelamento do restante do evento, cuja programação se estenderia até a madrugada do dia 27.

O público, integrado quase em sua totalidade por jovens, saiu lenta e silenciosamente em direção ao centro da cidade. Os poucos televisores acesos e visíveis por meio das janelas abertas nas casas e restaurantes permitiam aos transeuntes confirmar a notícia.

Manifestação promovida por estudantes da Universidade de Havana, na escadaria da instituição: uma homenagem silenciosa
Manifestação promovida por estudantes da Universidade de Havana, na escadaria da instituição: uma homenagem silenciosa

No amanhecer de sábado, a vida em Santa Clara parecia pouco afetada pela notícia. Em razão de o anúncio ter sido feito à meia-noite, por Raúl Castro, muitos moradores acabaram recebendo a informação nas rodas de conversas formadas em esquinas e no Parque Vidal. Abel, 32, motorista do taxi coletivo que me conduziu a Havana, creditou a aparente apatia ao impacto do “golpe duro”, que desnorteou muitos cubanos.

Em Havana, desde o início da tarde de ontem, na Plaza de la Revolución, estruturas dispostas para o desfile previsto para o dia 2 de dezembro, em homenagem aos 60 anos Forças Armadas Revolucionárias (FAR), estavam sendo parcialmente recolhidas ou reordenadas para preparar a área dedicada à cerimônia que permitirá aos cubanos render o último tributo a Fidel, no Memorial José Martí, a partir de segunda-feira.

Na Plaza de la Revolución: aqui, no Memorial José Martí, a partir de amanhã, o ultimo tributo a Fidel
Na Plaza de la Revolución: aqui, no Memorial José Martí, a partir desta segunda-feira, o ultimo tributo a Fidel Castro

A imprensa noticia o evento como uma oportunidade para reforçar a lealdade aos princípios revolucionários defendidos pelo comandante. O movimento de gente e carros nas ruas da capital está sensivelmente menor – e o silêncio muito maior – do que o normal. A Ciudad Deportiva, no bairro Cerro, costumeiramente lotada aos finais de semana, recebeu poucos jogadores de baseball e futebol na manhã de hoje.

Bandeiras de Cuba e imagens de Fidel surgem em número cada vez maior em portas e janelas. Algumas manifestações pontuais, como a silenciosa promovida por estudantes da Universidade de Havana na escadaria da instituição, acontecem de forma respeitosa e pouco alardeada. O concerto de Plácido Domingo, previsto para sábado no Gran Teatro de Havana, assim como todas as outras programações culturais e festivas, foram canceladas na Ilha.

Fora isso, o comércio funciona normalmente, embora esvaziado. Os turistas continuam fazendo suas peregrinações pelos principais pontos da Capital. Não há qualquer tipo de desespero ou alvoroço. Há apenas uma expectativa grande para o início da cerimônia aberta ao público e, especialmente, em relação à caravana para o traslado das cinzas de Fidel a Santiago, no Oriente cubano. Desde 1h30 da manhã de sábado, a programação de cinco dos seis canais televisivos nacionais existentes na Ilha foi unificada. Passaram a ser transmitidos documentários sobre Fidel, intercalados com boletins noticiosos e programas especiais em homenagem ao filho de um rico proprietário açucareiro que preferiu a luta revolucionária à carreira de Direito.

A única emissora a manter a grade intacta foi a TV Educativa, retransmissora da Telesur, cujo conteúdo também privilegia, desde ontem, a despedida do líder político. A grade alternativa – “patriótica e histórica”, segundo o informe oficial – será mantida até o final do luto decretado pelo governo, no próximo dia 4.

Elián González, o menino que motivou a disputa entre Estados Unidos e Cuba por sua guarda em 2000, hoje um engenheiro industrial de 23 anos, emocionou os televidentes com uma entrevista sobre Fidel e a necessidade de manter a Revolução vigorosa. Personalidades cubanas, incluindo ex-combatentes da Sierra Maestra, esportistas, atores, cantores, jornalistas, escritores e diretores teatrais, revezam-se nos estúdios de TV locais para dar depoimentos emocionados sobre Fidel.

Repercutem amplamente, ainda, as mensagens enviadas por governos de outros países. As falas de populares anônimos também vão ao ar em largo número. Fala-se muito do “desaparecimento físico” de Fidel, mas da eternidade de seus ensinamentos. Exatos 60 anos depois que o Granma zarpou do México rumo a Cuba – e a uma improvável vitória do movimento revolucionário –, Fidel Castro deixou sua pátria para sempre.

A despeito do discurso antagônico ao regime cubano, proliferado especialmente além-mar, em Havana a perspectiva dos populares que se dispuseram a conversar informalmente é de manutenção – e, quiçá, fortalecimento – do Socialismo cubano. Muitos manifestam sua disposição em contribuir para isso, colocando em prática o exemplo do comandante-em-chefe “hasta siempre”.

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