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RESENHA. Geringonça: lindos, loucos, líricos e sátiros

“Do rap nacional ao brega da novela das oito, do pop descartável ao reggae de raíz, da tropicália ao clube da esquina, nada parece alheio ao radar desses ciborgues de pano”
“Do rap nacional ao brega da novela das oito, do pop descartável ao reggae de raíz, da tropicália ao clube da esquina, nada parece alheio ao radar desses ciborgues de pano”

Por ATÍLIO ALENCAR (texto e foto)

A Geringonça há tempos já é uma instituição sólida no cenário cultural de Santa Maria. Mais do que uma banda, e para além do repertório de canções líricas e satíricas, o que a trupe expressa em seu híbrido de música, teatro, poesia e artes visuais é uma abordagem afetiva da cidade, do ofício do artista, da vida.

Uma das pioneiras em abraçar o espaço público como cenário ideal para suas apresentações, na melhor tradição mambembe, a Geringonça costuma causar comoção ao anunciar novas aparições. E mobiliza, cada vez mais, um público amplo não só em quantidade, mas também em diversidade.

Engana-se quem imagina que na plateia de um show da Geri (código de intimidade adotado pelos fãs) estarão só os indefectíveis estudantes “de Humanas”. Prova disso – e também da versatilidade da banda – foi o Theatro Treze de Maio lotado com os mais diversos perfis na terça passada para a estreia do show ‘O Zé’, espécie de ópera-bufa que simula um programa radiofônico de auditório.

No palco – cuidadosamente produzido pela companhia Teatro Por Que Não? -, os músicos da Geringonça encarnaram novos personagens, exibindo figurinos esdrúxulos e coloridíssimos e se revezando no protagonismo cênico. Os temas da nova obra também são reflexo da essência mutante do grupo: como num desfile de pastiches, a Geringonça brinca com os clichês sem, no entanto, deixar de evidenciar o talento autêntico com que emulam cada estilo.

Do rap nacional ao brega da novela das oito, do pop descartável ao reggae de raíz, da tropicália ao clube da esquina, nada parece alheio ao radar desses ciborgues de pano. Uma vez codificado pelas antenas espertas da Geri e diluído em seu liquidificador, tudo é divino, tudo é maravilhoso. Tudo é também saudavelmente ridículo, despido da sisudez de quem se leva a sério demais.

E como bons palhaços que são, claro que fazem questão de dizer verdades brincando: denunciam, protestam, apontam para a nudez do rei sem desperdiçar o bonde da folia. Dublam a si mesmos, como numa infinita paródia circular, da qual ninguém, nem mesmo a própria banda, fica a salvo. Quase uma questão de ética clownesca: desconstruir a si mesmo para expressar com franqueza total o sublime e o patético de cada vivente.

Se o mundo acabar amanhã – se é que já não acabou ontem -, a Geringonça, em todo caso, já cantou a pedra. O que é o fim do mundo para uns, é o começo para outros. Mesmo que os outros sejam as baratas.

 

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