Eleições 2020Política

ARTIGO. Luciano do Monte Ribas e uma crítica severa ao ‘vale tudo eleitoral’, que põe aliados contra aliados

O vale tudo eleitoral

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)

Quando decidi me tornar pré-candidato a vereador, eu sabia que passaria por experiências diversas, muitas delas negativas. O descrédito com a (e da) política e a lógica de um sistema eleitoral proporcional com lista aberta, como é o nosso, determinam uma realidade onde a regra é a competição predatória entre quem, em tese, teria ideias similares.

Mas há uma diferença entre ter consciência de algo e vivê-lo diretamente. O “choque de realidade” é grande, mesmo para quem, como eu, possui mais de 30 anos de militância política em movimentos sociais e em um partido político com influência de massas. Isso porque, ao invés da unidade em torno de um programa a ser comparado com os de outras visões políticas, esse sistema nos impele a danosa necessidade de “competir” com pessoas que têm compromissos convergentes com os nossos.

Isso cria o ambiente perfeito para um tipo de gincana que é, no máximo, uma imitação do que deveria ser a política. Nele, é preciso “chegar antes” para “fechar pessoas” como se elas fossem animais a serem “caçados”; a autopromoção a qualquer preço vira a regra e tudo se torna justificável, inclusive caridosamente “faturar” em cima da miséria e da desgraça de outros seres humanos, se isso render uma boa postagem; usar e abusar de causas, entidades e espaços institucionais passa a ser “importante”, como se donos deles candidatos e candidatas fossem; a deslealdade se torna o ethos dominante e a lei do mais esperto e da mais esperta cria a escala usada para medir quem é “bom” no ramo; sem falar em outras “tentações” e artimanhas, algumas que violam a decência e a honestidade.

Vale destacar, porém, que tudo isso decorre de um fenômeno basilar. Mesmo entre os partidos de esquerda, falar sobre política – no melhor sentido da palavra, ligado à ideia de polis – parece ter se tornado, para algumas pessoas, algo acessório, quando não pouco recomendável. Afinal, uma posição clara e minimamente coerente pode fazer algum voto “desgarrar” do rebanho, não é mesmo?

O resultado disso tudo é uma superficialidade constrangedora em boa parte dos candidatos e das candidatas, que se escudam em genéricas intenções (como “ajudar os outros” e “trabalhar pela comunidade”), aplicáveis a candidaturas que podem ir do “liberalismo” selvagem do Novo ao ultraesquerdismo (no sentido leninista do termo) do PSTU…

Quando expectativas são criadas, é fácil se contaminar com esse “vírus”. Como não quero fazer parte disso, uso esse texto para reafirmar que, para mim, a política se define por ideias e projetos coletivos. No meu caso, ideias e projetos que promovam a construção da igualdade, o respeito à diversidade humana e a busca da sustentabilidade. E será assim que enfrentarei a futura campanha porque, se para um fim exitoso for preciso usar todos os meios, preferirei a dignidade do “fracasso”.

Por fim, acho importante dizer que, na minha utopia ingênua, o sistema deveria ser outro. Nessa realidade alternativa, pessoas como Ricardo Blattes, Valdir Oliveira, Helen Cabral, Maria Rita Py Dutra, Werner Rempel, James Pizarro Filho, Daniel Diniz, Myrna Floresta, entre outros e outras com quem tenho proximidade e admiração pelos mais diferentes motivos, estariam comigo na mesma “chapa”, buscando apoios para a mesma proposta e sob a mesma bandeira, construída por consensos resultantes da boa política.

Por mais improvável que seja, tomara que a lógica do sistema possa ser quebrada e que possamos nos encontrar em 2021.

(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É presidente do Conselho Municipal de Política Cultural e um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema, além de já ter exercido diversas funções na iniciativa privada e na gestão pública.

Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

Observação do autor, sobre a foto uma causa em comum, a manifestação contra o fascismo bolsonarista, em Santa Maria (2018).

 

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

4 Comentários

  1. Realmente a relação de nomes que citaste são nomes que fazem a diferença pois entre eles tem quem se destaca mais outros menos mas todos acredito com muito a contribuir embora todos na mesma tempestade cada um em seu barco e torço para que muitos consigam êxito.

  2. Editor não defende lista fechada de graça também. Pessoas têm direito as suas utopias. Só não pode ser esquecido um detalhe, utopias consentidas também são uma forma de controle.
    Nenhuma decisão que afete o planeta é tomada no hemisfério sul. Acho engraçado os comunas falarem mal do ‘mercado’. Como se fosse causar preocupação.
    Enfim, platônicos é um problema que se resolve sozinho.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo