POLÍTICA. A dificuldade de analistas pró-Temer para preservar a imagem dele. Sobra apenas para o PMDB
COM CORREÇÃO NO TÍTULO, ÀS 18H12
O jornalismo político nacional beira o surrealismo. Especialmente entre aqueles (e são muitos os grandões nessa condição) que apoiaram abertamente a derrubada da presidente Dilma Rousseff para colocar no lugar seu vice, Michel Temer.
Até as pedras sabem que ele está agindo, e muito forte e com contundência, para conter (isso se não der para liquidar a dita cuja) a operação Lava Jato. Blinda companheiro dando ministério, apoia parceiros para dirigir as duas casas do Congresso, nomeia advogado de Eduardo Cunha e Aécio Neves e dele próprio (no caso do “hackeamento” do cellular de dona Marcela), Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal – onde todos, sabe-se lá em que século, serão um dia julgados.
Mas os analistas politicos mostram perplexidade. Como se não soubessem de nada. E, pior, dando a entender que Temer não é do PMDB (embora tenha presidido o partido por mais de década), e talvez sequer seja brasileiro. Afinal, ele não é um santo – se bem que a palavra pode atingir outro líder nacional citado por delações premiadas.
Enfim, aqui o que interessa é mesmo a análise política dos jornalistas. E quem trata dela, com propriedade, é o jornalista e mestrando em Jornalismo e pesquisador na Universidade Federal de Santa Catarina, Evandro de Assis. Vale conferir o artigo que ele publica no portal especializado Observatório da Imprensa. A foto é de José Cruz, da Agência Brasil. A seguir:
“Quem conspira contra a Lava Jato?
A ofensiva do governo contra a operação Lava-Jato, agora indisfarçável, tornou complicada a vida de quem acredita em mocinhos e bandidos na política brasileira. De um lado, os que saudaram a ascensão de Michel Temer à presidência em nome da reorganização econômica, e da guerra ao PT, fazem contorcionismo para explicar o que acontece em Brasília. De outro, quem considerava a investigação antipetista e ironicamente concordaria com o ministro Gilmar Mendes sobre as “alongadas prisões em Curitiba”, agora vê-se na obrigação de defender a investigação. Veículos e profissionais da imprensa não ficam de fora, especialmente os que, se não endossaram Temer e companhia, relativizaram as intenções do grupo que assumiu o poder.
“O presidente Temer precisa deter a operação em curso no PMDB destinada a abafar a LavaJato se não quiser entrar p/a a lata de lixo da história” – Ricardo Setti (@ricardosetti)
O jornalista Ricardo Setti, que passou por algumas das principais redações brasileiras, sintetizou nesta frase um wishful thinking bastante presente entre analistas políticos brasileiros – não por acaso a afirmação foi retuitada por vários deles. A operação-abafa em curso precisa ser do PMDB, e não do governo. Ainda que, por obra da caneta presidencial, o eloquente Alexandre de Moraes, cuja gestão no Ministério da Justiça será lembrada por carnificinas medievais, esteja em pleno beija-mão de senadores encrencados com a Lava-Jato rumo ao Supremo Tribunal Federal. Ainda que Moreira Franco, o preferido dos delatores, tenha alcançado o foro privilegiado graças a uma medida engendrada no principal gabinete do Planalto. E ainda que existam menções explícitas a Michel Temer nas primeiras delações da Odebrecht vazadas à imprensa. Quem coordena o torniquete a Jucá são sombras peemedebistas inominadas. Nunca o presidente.
Chega a ser curiosa a surpresa de repórteres experimentados, como Gerson Camarotti, para quem “Brasília perdeu o pudor”.
“Como isso é possível? Dez dos 13 senadores investigados na Lava Jato estão na CCJ, que vai sabatinar indicado pelo STF”. – Gerson Camarotti (@gcamarotti)
Ou a reação de Ricardo Noblat à escolha do senador Edison Lobão (PMDB) para presidir a mesma Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que avaliará Moraes: “Foi exorbitância, desacato, desplante, sem-vergonhez, descaramento, ultraje, afronta, desfaçatez, cinismo, prepotência, atrevimento e arrogância a indicação feita pela bancada do PMDB do nome de Edison Lobão (MA) para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ)”.
No Estadão, Eliane Catanhêde repreendeu Moraes pela noitada com senadores em uma embarcação luxuosa. Não porque fosse absurdo e incompatível, mas porque ele poderia dar munição à oposição…”
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