Noite em claro – por Bianca Zasso

É preciso valorizar a primeira faísca, o momento em que nossas paixões têm início. Uma notícia nada agradável abriu esta semana e me fez lembrar de um tempo crucial do início da minha cinefilia. A partida do diretor Wes Craven me trouxe noites insones. Não mais pelo medo da aparição de Freddy Krueger, mas pela importância dos pesadelos que ele me provocou.

Para os desavisados, Craven criou A hora do pesadelo, uma das franquias mais duradouras do cinema de horror. O filme original, lançado em 1984, é único. Diverte, é bem dirigido, marcou uma geração. E depois veio Pânico, com sua máscara sinistra e telefones que ninguém quer atender. Outro grande momento.

É preciso admitir que Craven não integra o patamar dos gênios. Se colocarmos sua filmografia na balança, há mais produções medianas que incríveis. Só que não podemos negar que seu trabalho é honesto, bem executado e criou ícones da cultura pop. Muitos por aí morrem de medo de Freddy e sua luva de garras afiadas sem nem sequer saber de onde ele surgiu. O personagem já esteve presente nas telonas nas mais variadas situações, nem todas agradáveis.

Mas nunca é tarde para apresentar A hora do pesadelo para alguém desinformado. Quando digo apresentar, falo de colocar o filme dentro do seu contexto, da sua época, da trajetória de seu diretor. Muitos esquecem que, ao indicar um filme que amamos para um amigo, não podemos parar em expressões como “é ótimo” ou “vale a pena”. Um papo longo, além de divertido, também ajuda o novo espectador a ter uma sessão mais agradável.

No fundo, este texto está tão confuso quando minhas ideias no momento em que soube da morte de Wes Craven. É sempre triste ter que dar adeus às pessoas que nos fizeram felizes, mesmo quando elas sequer sabem que existimos. Me resta agradecer à Craven pelas noites em claro que passei lutando para não deixar de lado um hábito e dormir com a luz acessa. Depois de muitos pesadelos, Freddy hoje integra minha lista de amigos. Das trevas, mas amigo.