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DO FEICEBUQUI. No “mundo invertido fofo”, a vida real é bem diferente para o PGB e o NSI. Conheça-os!

Por ATÍLIO ALENCAR, postado no perfil dele, há bem poucas horas

Enquanto na vida real o pau come todo santo dia, o seguinte diálogo trivial acontece no Mundo Invertido Fofo, durante um chá da tarde no escritório da multi-nacional Arco-Iro™:

Patrão Gente Boa (doravante designado apenas como PGB):
Namastê.

Candidato à Vaga de Emprego (doravante designado apenas como NSI a.k.a. Ninguém Se Importa): Namastê.

PGB: Quanto você gostaria de receber pelo seu trabalho, amigue proletário?

NSI: Olha, dando pra pagar as contas e sobrando algum pra cervejinha e pro churrasco no domingo, que a gente também não é de ferro, né?

PGB: Que isso, meu jovem. Não seja modesto. Pretendo que a minha empresa cresça muito, mas claro que não seria justo deixar de repartir os lucros com quem se fode oito horas por dia pra fazer essa joça funcionar. Diga aí seu preço.

NSI: Bom, sendo assim…o que o senhor acha de, sei lá, uns dois salários mínimos mensais?

PGB: Ah, esse povo tímido e sem brios para negociar. Eu vivo dizendo, assim vocês não chegam a lugar nenhum. Escuta aqui. Eu tô falando de trabalho duro. Das oito às dezoito é baixar a cabeça e produzir. Sério que você quer vender um terço da vida por essa miséria?

NSI: É, pensando assim…

PGB: Vamos, não é possível que você queira trabalhar só para me ver prosperar. Seja digno, homem/mulher! Como é que dizia mesmo aquele cara, esqueci o nome, aquele do bigodinho engraçado, “não sois máquinas” etecétera e tal.

NSI: Verdade, vi no cinema uma vez…

PGB: Falando em cinema. Sabe que a nossa empresa investe pesado em cultura, não é? Então pra justificar aquele monte de palavras bonitas que a gente exibe nos out-doors sobre educação e coisa e tal, todo o mês você terá direito a um vale para gastar em livros, ingressos para o teatro, shows musicais, essas coisas que elevam a alma e expandem a sabedoria. Não quero saber de empregado meu sendo chamado de ignorante nos saraus literários, viu? Tem que ler Machado, Borges, Proust. Tem que saber pelo menos o básico de Rosseau, Freud, Marx…

NSI: Marx???

PGB: Claro! Porque não!? Os grandes pensadores todos precisam ser lidos! Até os anarquistas antigos, por mais iconoclastas que fossem, sabiam da importância de ler os clássicos. Do que você está rindo?

NSI: O senhor vai me desculpar, mas é que ouvi dizer que esse Marx não falava muito bem de patrões (baixando a cabeça, com as faces ruborizadas).

PGB: Outros tempos, meu caro. Outros tempos. Hoje, com a livre negociação finalmente conquistada e sem as amarras daquelas leis trabalhistas que só serviam para reprimir nossos melhores instintos de solidariedade, o mundo mudou. E pra melhor. Eu, particularmente, não gosto da palavra Capitalismo. Prefiro chamar nosso sistema econômico de Deboísmo. Afinal, eu estou de boa, você não está?

NSI: Estou sim, senhor. Meio sem dinheiro, mas tô de boa sim. Confio na minha capacidade de superar obstáculos, e sei que o senhor mesmo passou por muita coisa pra chegar até aqui (ambos olham para a paisagem da cidade pela janela aberta, com olhar memorioso).

PGB: Pois então! Vamos falar de coisas boas, camarada. Fazemos assim: pegue este adiantamento por enquanto (sacando um maço generoso de cédulas da gaveta) e venha segunda-feira para começar no trabalho. O resto a gente vai ajeitando. O importante é você estar seguro de que aqui a remuneração é justa. Não quero ficar com nada que não é meu. Lucro, só o suficiente pra reinvestir na empresa e dar aquela forcinha pra mão invisível do mercado, mesmo.

NSI: Pôxa, nem sei como agradecer.

PGB: Não agradeça. Só quero te ver progredindo na vida (dando um soquinho amistoso no queixo do outro). Você vai ver que, em pouco tempo, dá pra economizar e garantir um futuro tranquilo pra você e sua família. Mas tem que ter foco, claro.

NSI: Namastê!

PGB: Namastê!

(Corta pra vida real com gás lacrimogênio na cabeça dos vagabundos que acham que o patrão tem obrigação de bancar as férias da gentalha preguiçosa)

NOTA DO EDITOR: a imagem que ilustra esta nota é uma colagem originalmente publicada no blogue Viomundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha.

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