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Coluna

Garotos frágeis – por Bianca Zasso

Sorte de quem vive a experiência de, logo no primeiro filme assistido, se encantar por um cineasta. Isto porque alguns realizadores demandam tempo, vivências e até um humor na medida para serem apreciados por completo. O americano John Cassavetes é um deles e já se fez presente nesta coluna algumas vezes, quase sempre dirigindo sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Mas hoje a proposta é outra. Vamos discorrer sobre o Cassavetes ator. Ou seria improvisador o melhor termo para descrever sua performance em Os maridos?

Nada é o que parece em Cassavetes. A frase pode ser de efeito, mas clichê não tem espaço dentro de qualquer obra deste diretor, inclusive em seus filmes menos autorais, como Minha esperança é você e Um grande problema. Lançado em 1970, Os maridos destaca-se dentro de sua filmografia por ser o seu filme mais masculino, e não apenas pelo elenco principal, formado por Peter Falk, Bem Gazzara e o próprio Cassavetes.

Dentro da história, o inseparável trio protagonista Harry, Archie e Gus está abalado com a morte de um amigo. Para deixar o público a par da intensidade da relação entre os rapazes, Os maridos inicia com uma festa à beira da piscina, onde os quatro marmanjos dançam, canta, bebem e se divertem como crianças. Porém, é uma jovialidade feliz, bem diferente da que irá surgir ao longo do filme.

O desfalque na turma, que demonstra já ter vivido várias aventuras juntos, mexe com o psicológico a ponto dos três homens perderem suas máscaras. Desnudados do comportamento que a profissão e a família cobram, eles se mostram frágeis, inseguros e insatisfeitos. Embarcam para Londres com a roupa do corpo, sem saberem muito bem o que irão fazer em outro país. Agem como adolescentes que fogem de casa pelo simples prazer da liberdade momentânea. Ficam bêbados para esquecer as próprias falhas, mas todo porre tem seu fim e vem acompanhado de doses extras de culpa.

Os homens dirigidos por Cassavetes não aguentam o tranco da morte. Machões sedutores? Não por mais de uma hora. O baque é forte. E eles, por não conseguirem chorar, aprontam como se não houvesse amanhã. E suas esposas, onde estão? Encarando a vida no osso do peito, gemendo baixinho, mas sem fraquejar.

Como em quase todos os trabalhos de Cassavetes, que em Os Maridos aboliu os diálogos do roteiro, pode-se desfrutar o filme de duas formas: deixando-se envolver pelos personagens e as situações ou encarando tudo como uma série de esquetes de improviso. E mesmo que a química entre Peter Falk e Cassavetes seja imensa, quem brilha é Ben Gazzara.

Do meio para o fim, seu personagem torna-se o centro do conflito, mostrando-se o mais confuso e abalado dos três amigos. Seus improvisos, em especial na cena final, impressionam até quem não costuma prestar muita atenção no desempenho de atores. Ele parece tão à vontade em cena que há momentos que pensamos estar diante de um documentário de bastidores e não de uma ficção.

A amizade entre Cassavetes, Falk e Gazzara foi além das telas e a partida precoce do diretor de Os Maridos, aos 59 anos, foi sentida pelos dois atores e confirmada em dezenas de entrevistas. Se a liberdade do cinema se repetiu na vida real, permitindo uma catarse poderosa como a mostrada no filme, jamais saberemos. Mas que deve haver inspiração na vida real para a fragilidade de Archie, Harry e Gus, não restam dúvidas. Garotos são só garotos. Nos anos 70 ou no próximo século.

Os maridos (Husbands)

Ano: 1970

Direção: John Cassavetes

Disponível no box Cassavetes e a nova Hollywood, da Versátil Home Vídeo

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