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O machismo nosso de cada dia – por Luciano Ribas

Três acontecimentos midiáticos quase simultâneos mostraram que o machismo no Brasil está longe de ser um mito.

Primeiro, um ator de novelas quase setentão admitiu ter assediado uma figurinista da emissora a qual ambos estão ligados (mas apenas após a corajosa denúncia feita por ela, naturalmente). Logo em seguida, um dos barões da mídia mostrou a uma jornalista, pródiga por suas opiniões reacionárias, que ela era apenas “um rosto e uma voz bonita para ler notícias no teleprompter” e que as opiniões que valem são as dele, o dono da bagaça concedida pelo poder público. E, no mais recente lance, um homem maduro, bem estabelecido numa das profissões com maior projeção social, cometeu atos claramente abusivos e usou a imposição física e a intimidação para encurralar uma menina com metade do seu tamanho no reality show de maior audiência do país.

Nietzsche disse certa vez que “não existem fatos, apenas interpretações”, uma das tantas frases fundamentais do filósofo alemão. Admitindo o acerto da afirmação, longe de dar margem para o relativismo que a tudo embaça, penso que é exatamente nas interpretações que podemos encontrar o caminho mais acertado a seguir entre os tantos que surgem a partir de um mesmo acontecimento.

Diante da passada de mão, do rebaixamento da capacidade da mulher ou da intimidação física, a sociedade poderia escolher o caminho do “foi uma brincadeira”, do “foi apenas um jeito de falar” ou “do ela pediu”. Essas seriam interpretações “normais”, de quem não enxergava o abuso porque nunca o havia visto assinalado, porque achava conveniente deixar tudo como está ou por qualquer outro motivo que pudesse ser alegado.

Felizmente há um crescente número de pessoas, de todos os gêneros, que faz questão de interpretar de outra maneira acontecimentos como os relatados na abertura desse texto. Essa “interpretação” evidencia a violação da individualidade e da integridade física ou moral de alguém e a qualifica como deve ser qualificada: abuso e crime. Gostem ou não, isso só passou a ser assim após décadas de militância feminista onde, contra todos os preconceitos, dificuldades e, muitas vezes, violências, o mundo ficou menos pior. Sem essas mulheres corajosas, talvez ainda tivéssemos homens sendo absolvidos por “legítima defesa da honra” após assassinarem suas esposas e a sociedade achando isso muito “normal”.

Sem entrar nos detalhes de cada caso e nas eventuais ações de redução de danos à imagem que possam estar por trás das decisões e atos da emissora, num país onde a mídia tradicional, mesmo que cambaleante, ainda possui grande poder de influência, o momento é de grande importância para a luta civilizatória. Espero que a maioria tenha maturidade para compreendê-lo e aproveitá-lo, não deixando o esquerdismo infantil (no sentido absolutamente leninista da palavra “esquerdismo”) fechar caminhos para o diálogo com quem ainda pode ter a cabeça mudada.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra este artigo é uma reprodução de internet.

 

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