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(In)Justiça – por Pylla Kroth

“A impunidade tolerada pressupõe cumplicidade”. Esta frase é de autoria do Marquês de Maricá, um escritor, filósofo e político brasileiro da época do Brasil Império. Lembrei disso quando estava lendo as notícias recentes sobre o caso da boate Kiss.

Mais especificamente porque, para minha surpresa, às vezes me deparo por aí com pessoas que quando se toca no assunto, ou veem uma notícia na tv, ou ouvem no rádio, se mostram incomodadas e até irritadas, isso quando não declaram em alto e bom som que já não suportam mais ouvir sobre o assunto, que nem querem mais saber, reclamando que não se fala em outra coisa, ou algo parecido.

Algumas vezes me sinto até um pouco inclinado a concordar que quando um assunto é abordado com frequência demais, tende a cansar, encher o saco mesmo. Quem não sente isso, às vezes? Mas aí paramos para refletir e simplesmente esta é uma coisa de que não dá para fugir. E vemos que o assunto tem sim que ser intensificado, que a indignação não pode morrer; pelo contrário, ela tem que ser direcionada, e quem tem de ser incomodado são aqueles que não devem ficar impunes. “Não acha, senhor secretário de segurança do estado do Rio Grande do Sul?” Quatro anos se passaram, 242 mortos, de quem é mesmo a culpa? Dos meninos que estavam segundo a procuradoria que defende o município, “embriagados”? Tenhamos paciência, querem inverter a situação de culpa. Aquela arapuca não tinha saída, não tinha sinalização! Os seguranças demoraram pra abrir as portas por conta das comandas, o maldito lucro da casa. Essa pendenga tem de ser resolvida, senhores da Lei.

Em grossas palavras o que a frase do Marquês citada no inicio deste texto quer dizer é isso: que se nos acomodarmos, fecharmos os olhos e ouvidos e calarmos nossas bocas, só por um conforto individual e egoísta temporário, estaremos sim fazendo vista grossa, cobrindo o sol com a peneira, tolerando… E fazendo isso, nos tornando igualmente cúmplices na impunidade. E mais… estaríamos automaticamente abdicando do direito de cobrança, de reclamar pela justiça que é merecida.

O que mais eu posso dizer? É óbvio que eu gostaria de sentar em frente à tv e ter um telejornal feito apenas de boas notícias, calmas, confortáveis, agradáveis e divertidas. Nenhuma tragédia, nenhuma injustiça, violência, terrorismo, nada disso. Quem não gostaria, não é? Mas a realidade é diferente, e é com ela que temos que lidar, e é para o que ela nos oferece que devem servir nossos olhos, ouvidos e capacidade de protestar, refletir, indignar-se e cobrar. Mas para isso precisamos ser concessivos no sentido de conviver com toda a interferência em que ela implica em nossas vidas

Novamente a frase: impunidade tolerada pressupõe cumplicidade. E eu estou certo de que ninguém gostaria de ser cumplice em tamanha desgraça como é este caso aqui em Santa Maria.

Assim… Um pouco de paciência, de solidariedade, de compreensão, sempre. Não perder a indignação à medida que o tempo passa, mas a indignação que reflete a busca por resultado,  e não a indignação apenas pelo simples fato de indignar-se. Isso é importante. Passar pelo desconforto talvez nos deixe mais feridos. Mas lembrando de uma antiga música do compositor Bubuska: “cada vez que me ferem, me sinto mais gente”. E assim nos tornaremos mais gente, mais humanos, mais fortes, mais capazes de pouco a pouco combatermos a impunidade, pois está é, sim, também uma atividade que depende de cada individuo. Quem sabe assim atingiremos altitudes maiores para alçar voos mais longos e ambiciosos como erradicar o que não está certo não só na nossa aldeia, mas em todo país e por que não dizer todo mundo. Tarefa difícil, sonho talvez, mas é de pequenas ações que se fazem grandes revoluções.

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