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Blindados – por Orlando Fonseca

Desde quando ainda era um jornal, a grife Globo tem uma participação decisiva na história republicana do Brasil. Seja contribuindo para derrubar governos, seja blindando prepostos em altos cargos da República. A mídia, por si só, ainda que se jacte do título cabotino de “quarto poder” da democracia, não tem como entronizar ou defenestrar presidentes. Mas pode fazer grandes estragos. Enquanto se compra o silêncio de alguns, quem paga o alto custo da falta de informação é o povo, a massa ignara. Esta, historicamente, se contenta com as falácias do discurso oficial, seja pela elocução dos porta-vozes palacianos, seja pela troca de favores entre a propaganda governamental e a mídia amiga.

Em 1964, já com o sinal da TV, não apenas fez um esforço para que os militares e seus blindados ocupassem as ruas, mas também deu todo o suporte para que permanecessem duas décadas no poder. E faturou com isso. Cresceu e se tornou a maior rede de comunicação do país, ainda mais onipresente nos domicílios, nas mentes e nos corações dos telespectadores. Estes, cada vez mais espectadores da vida política. Não foi à toa que o Rei do futebol, mais realista que ele próprio, chutou que o povo não sabia votar. Nos estertores da ditadura, a Globo demorou a deixar de lado os blindados e dar cobertura para o movimento das ruas em favor da abertura política.

Na primeira eleição democrática, depois do fim do regime de exceção, ela também inflou a candidatura do Caçador de Marajás, com um discurso anti-funcionalismo público, populista à la Perón, em favor dos “descamisados”. O paroxismo de sua ação de blindagem foi a edição do último debate entre os candidatos Collor e Lula. Não durou muito o projeto, porque o seu apadrinhado aprontou demais, tanto em mexidas aventureiras na economia, quanto nas mexidas indevidas nos cofres públicos. Dois anos depois da posse, dava o maior destaque aos “caras pintadas”, na promoção do primeiro impeachment da república brasileira.

Durante o governo FHC, promoveu uma forte campanha pela blindagem dos atos desse que foi um governo privatista e pouco interessado das causas sociais, mesmo com uma proposta socialdemocrata no programa. Ao elevar as qualidades do Plano Real, não se constrangeu em construir ficções a favor de seu protegido. Vivia-se, naquela década de 90, a era da parabólica, e o ministro Ricúpero cunhou a frase emblemática desta relação entre o governo e a mídia: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde. Não havia internet, e só quem tinha a tal da antena pegou a inconfidência maneira do boquirroto.

Nos dias atuais, blindou Temer enquanto pôde. No entanto, as redes sociais, os blogs alternativos são uma fonte hoje poderosa. Mudou a tecnologia da informação, mudou a democracia – que se aperfeiçoa lentamente, e por vezes, aos trancos. A grande questão do momento é entender o que está por trás da mudança da maior rede televisiva do país, que agora descarta o seu preposto do Planalto, em campanha aberta pela sua remoção imediata? Assunto para os próximos capítulos. Quando o Temer chamou a força militar para dispersar manifestantes, semana passada, a sombra de um passado trágico assombrou os que cruzaram as quadras dos 60 e 70 do século passado. A era da blindagem já passou. Os blindados não são bem-vindos às ruas, que devem ser ocupadas pelo povo, no exercício efetivo e eficaz de sua força em um regime democrático. Não há mais lugar para telespectadores passivos diante da tragédia que se tornou a vida pública nacional. Não há como mudar de canal, mas dá para mudar de atitude cidadã.

DE FATOS E DIVERSÕES

– Mamarracho e Cocoliche – Segundo o que falou a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, estes são os adjetivos que cabem ao presidente do nosso país. Não sei o que querem dizer, mas – sabe – colam perfeitamente na cara do Temer.

– Depois de negar veemente, Aécio agora é obrigado a admitir que o aeroporto de Claudio em Minas Gerais é dele mesmo. Embora ainda na campanha eleitoral de 2015 tenham sido dadas pistas disso, só agora é que, apeado do cargo de senador, ele se vê obrigado a aterrissar na realidade.

– Defesa de Aécio afirma que referência a CX 2 em planilhas encontradas pela PF em batida feita em seus endereços – sim, a casa caiu em muitos lugares – não quer dizer Caixa Dois. Só faltou dizer que nós somos idiotas. E já devia avisar: se aparecer PROP, não quer dizer Propina; LAV-Liechtenstein, não quer dizer Lavagem de dinheiro naquele paraíso fiscal; GM tem a ver com montadora e não com ministro do STF, ODE é sobre poesia e não sobre empreiteira, e por aí vai.

– Também dizem que o Aécio vive uma lista de baixo astral: está deprimido, enfurnado em casa bebendo uísque e chorando. Todo mundo sabia que um dia a lista de Furnas viria cobrar a fatura.

– Segundo procurador da Lava Jato, foi o “coração generoso de Moro” que absolveu Claudia Cruz, isso porque ela já tem uma cruz pesada demais para carregar: o Cunha.

Segredos da injustiça: ainda que tenha conhecimento, o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, afirmou que não vai revelar quem são os financiadores do filme “PF – A Lei é Para Todos”. Na vida real, data vênia, o título da película não quer dizer muito para os justiceiros do país, ao menos em termos da Lei de Acesso à Informação, pelo que se pode deduzir.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra este texto é reprodução da internet.

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