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Diretas Já – por Orlando Fonseca

Em 1984, o país vivia os estertores de um regime que significou atraso em todas as áreas.  Pelo rádio eu recebia as notícias dessas transformações e acompanhava a programação musical. O rock nacional revelava uma penca de novas bandas e hits, com a Blitz, Barão Vermelho, Lulu Santos, Ritchie, e os grupos infantis fazendo a alegria da garotada, com a Turma do Balão Mágico. Mas uma música que volta à minha mente, hoje, é de um nordestino que já vinha fazendo sucesso ao longo da década anterior: “Anunciação”, de Alceu Valença. A par do sentido romântico que a letra tem, agora os versos “Tu vens, tu vens,/ eu já escuto teus sinais” são envolvidos na minha mente por um novo sentido, envolvo nas lembranças de tudo o que eu lia nos jornais, via na televisão; enquanto caminhava pelas ruas acompanhado de uma multidão, gritava na Praça Saturnino Brito, ouvindo discursos inflamados, e cantores antenados: Diretas Já! Diretas Já!

Durante os vinte anos anteriores, não houve desenvolvimento econômico; a educação permaneceu parada no tempo – o projeto era manter o povo na ignorância, em alguns casos conseguiram; em termos de justiça social, só o que se percebeu, ao longo de duas décadas, foi a aguda distância entre mais ricos e mais pobres; por causa da censura, o projeto cultural se tornou um bem da elite; a ciência e a tecnologia se tornaram dependentes da produção externa; e a própria democracia ainda se ressente, na atualidade, de se alijar a população das decisões importantes para um projeto de nação. Daquela época, pouca coisa se pode querer de volta. Eu mesmo só quero resgatar a disposição dos brasileiros que foram à luta, para derrubar o regime e tomar as rédeas do país. Democracia, o som que me chega agora das ruas acende a minha esperança, porque “eu já escuto teus sinais”.

Ainda em 1983, o Senador Teotônio Vilela fez o chamamento, que de imediato repercutiu pelo país. O descontentamento era gigante: a inflação fechou aquele ano em mais de 200%, em uma profunda recessão, e as entidades de classe, os sindicatos não tiveram dificuldades em mobilizar a massa. Em janeiro de 84, num grande evento no Vale do Anhangabaú, na capital paulista, mais de um milhão e meio de pessoas se reuniram em torno do Movimento das Diretas Já. O ato era liderado por Tancredo Neves, Montoro, Quércia, Lula, FHC, Pedro Simon e vários artistas engajados – incluindo Fafá de Belém, conhecida então como a “musa” das Diretas. Em abril, a emenda das eleições foi a plenário, e foi derrotada, em uma manobra de políticos aliados ao regime. O resto é história.

Mais uma vez, é a vez da voz das ruas se erguer acima de interesses escusos que têm atuado contra a democracia. Imperfeita, frágil, imprevisível democracia, mas, para quem viveu aqueles anos sombrios, “bicudos” – como dizia Mario Quintana – que antecederam a primeira grande manifestação popular, somente um regime que emane do povo é digno de uma nação que pretenda ser livre e soberana. O movimento em todas as capitais, neste domingo, antecedida de uma decisão histórica da OAB, cujo conselho, por 25 votos a 1, resolveu protocolar o pedido de impeachment de Temer; a debandada geral da base parlamentar que deu sustentação ao golpe desse governo ilegítimo, a mudança de tom na cobertura política da mídia – tudo está a indicar que é a vez dos brasileiros conscientes, que já estiveram nas ruas, como nas jornadas de junho de 2013, exigirem que as instituições republicanas operem em favor do Brasil, e não de uma quadrilha que o tomou de assalto. Eleições Diretas Já!

DE FATOS E DIVERSÕES

– Fico imaginando como seria um diálogo entre o Primeiro Mandaotário e sua Bela-recatada –e-do-lar, que indaga:

– Bem, é verdade isso que estão dizendo no plantão da Globo?

– Humm, desculpe, Bela, estava guardando estes dólares aqui. O que foi?

– Disseram que você mandou pagar uma mesada pro Cunha.

– Esse pessoal não tem mais o que inventar.

– Que, nojo, em vez de continuarem inventando coisas do Lula!

– Calma, Bela, eu mesmo vou inventar algo pra dizer na mídia.

Conspiração doméstica

– A menos que esteja em curso um golpe dentro do golpe: a Bela, instruída pela babá do Michelzinho – que é contratada como assessora do Gabinete de Informação em Apoio à Decisão, vejam só – estaria traindo o Mandaotário (de recatada não teria nada), e o que pretende mesmo é deixar de ser do lar, para ser “do Planalto”.

Cortando na carne

– Pelo menos uma notícia boa com a bomba da delação JBS: Roberto Freire não é mais ministro da cultura.

– Temer faz pronunciamento, por enquanto, em cadeia aberta. Ou seja, já teve progressão de regime. Mas diz que não renuncia.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a foto que ilustra este texto é da Agência Brasil.

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