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Suprema Natureza – por Pylla Kroth

Não é de hoje… estava na Internet e li um artigo que circula intitulado “Declaração do Bem Comum da Terra e da Humanidade”. Tomei conhecimento assim que existe atualmente um movimento incluindo mais de cem países que desejam mudar a configuração da Organização das Nações Unidas para que ela seja mais adequada à atual fase planetária da Terra e da Humanidade. Entre muitos estudos e debates e fóruns, esta Declaração foi redigida por vários autores que fazem parte deste movimento.

É um texto relativamente longo e seria difícil dividir com vocês aqui, em função do espaço, mas teve um dos artigos da declaração em particular que me chamou muita atenção e eu gostaria de compartilhar.

O artigo quarto diz o seguinte: “A Biosfera é um Bem Comum da Humanidade e é um patrimônio compartilhado por todas as formas de vida, das quais os seres humanos são tutores.”

Eu voltei a lembrar deste texto e deste fragmento em particular por ocasião de vários episódios que presenciei aqui na minha Aldeia. Primeiro, do casal de pombos que fez um ninho na decoração de um evento público no centro de Santa Maria, uns anos atrás, e a comoção que isto causou de um modo geral.

É louvável a atitude de respeitar e proteger estes pequenos animais e adotar a postura que os dirigentes da nossa cidade adotaram na época, bem como as manifestações de apoio e admiração que foram recebidas por isso por parte da população. E para aqueles menos informados que possam eventualmente achar uma bobagem dar tanta ênfase ao fato, saibam que não é nenhum exagero, pois existe inclusive uma lei federal prevendo este tipo de situação e medidas a serem adotadas.

Em alguns lugares muito específicos do mundo a educação ambiental e a consciência de que todas as formas de vida devem ser respeitadas atingiu um nível tão significativo que coloca-se até placas de alerta para que o cidadão distraído não pise sobre o caminho de trabalho das formigas.

Pode parecer engraçado, mas é sério, é verdade.

Lembro de como minha geração quando jovem preservava isso. Certa vez dividia um quarto com um amigo na década de oitenta, e  me acordei uma manhã com um barulho que meu amigo fazia ao lado da geladeira que estava perto da porta de saída, “Pssh pssh, pssh,xispam daqui suas danadinhas!”, fazia ele. Sem ter acesso visual levantei-me, e eis meu amigo tocando pra fora carinhosamente as formigas que tinham invadido a geladeira pela fresta da borracha desgastada da porta.

“Mata essas pragas ai desgraçado!!!”, gritei e joguei meu chinelo na direção das ditas cujas! Mas por quê! Ele se virou pra mim em fúria e mandou o chinelo de volta com mais força atingindo minhas costas, Que chinelada! E aos berros respondeu: Desgraçado é tu! Desta vez, não me venha com a desculpa de querer matar os bichinhos como fizeste com o pato da tua avó, que só por curiosidade em conhecê-lo detalhadamente deu-lhe uma paulada”! – Fazendo me recordar de um apronte que havia lhe relatado, sobre minha curiosidade quando guri, em pegar um pato, tocar suas patas, apalpar suas penas e bicos, prazer que ele não me concebia, saia sempre correndo.

Um dia, fiquei na campana e dei uma paulada no pato e fiquei por uma hora acariciando e admirando seus detalhes, depois é que fui me dar conta que havia lhe tirado a vida. Me pus a chorar! Tarde demais. Coisa de guri, mas só fui assumir a culpa trinta anos depois. Pra surpresa de meus familiares. “Ah é! Foste tu que mataste o pato da vó!” Este homicídio me persegue até hoje! – “Quem tu acha que é pra querer mata-las”? Completou ele.

Lembrei muito deste episódio um dia destes, assistindo ao filme “A vida secreta das abelhas”, em que uma personagem monta trilhas de migalhas de marshmallow e biscoitos para atrair as baratas para fora da casa para não matá-las – um filme aliás lindíssimo, recomendo!

Recordo também uma ocasião de um senhor que lendo um jornal diário aqui da cidade e que achou demasiado o espaço de contracapa dado pelo citadino a um fato ocorrido na zona leste, em que uma raposa ia buscar alimentos nas lixeiras de um supermercado distante cerca de 3 km longe de seu habitat, e deu o que falar. Dizia ele: “Ora vejam só que vergonha!!! Estão falando bem de uma raposa! Tem que matar! Elas só prestam pra comer galinhas no galinheiro!” e meu amigo que estava ao lado lhe interpelou: “e o senhor? Sabe qual é sua função aqui na terra?” Ao que o velho lhe respondeu : “vá te catar, guri!”

Por isso volto a frisar: acho que o caminho para o respeito pelas formas de vida grandes e mais evoluídas no sentido biológico da palavra, chegando ao próprio ser humano, que está no topo da cadeia alimentar, passa obrigatoriamente pelo respeito às pequenas, até as aparentemente mais insignificantes.

Se aprendêssemos desde cedo desenvolver uma consciência e senso de respeito pela natureza, pela vida e pelo nosso planeta, observando que temos o mesmo direito de ocupá-lo que as formigas, as raposas, os patos e até seres invisíveis aos nossos olhos, e que sendo os mais evoluídos, temos o dever máximo de cuidar de todos os outros, quem sabe não seríamos tão negligentes também com os indivíduos de nossa própria espécie. Quem sabe não mataríamos, nem sequer feriríamos voluntariamente uns aos outros.

Em mais um pedacinho da Declaração que citei no início, há ainda um parágrafo que sintetiza a grandeza de pequenos gestos como preservar um ninho de pombos e seus ovos, já que o pombo universalmente é tido como símbolo da paz: “Pertence ao Bem Comum da Mãe Terra e da Humanidade a busca permanente da paz, que resulta da relação correta consigo mesmo, de todos com todos, com a natureza, com a vida, com a sociedade nacional e internacional e com o grande todo do qual fazemos parte.”

Em sendo assim, por que não cuidar com o mesmo esmero das raposas, dos patos, e até das formigas?

Quem sabe… quem sabe… mas, quando?

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.

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