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Os patrimônios material e imaterial – por Elen Biguelini

Tendo já decorrido sobre a memória, podemos nos voltar ao patrimônio em si. Um historiador da arte francesa colocou em termos bastante compreensíveis a importância deste: ‘[s]abemos o que é patrimônio diante do fato de sua perda eminente constituir um sacrifício para nós e por sua vez, a conservação dele, nos impor sacrifícios” (Andre Chastél, Apud, Camargo, 2005).

Em poucas palavras, então, define o que é normalmente um conceito complexo, como tudo aquilo cuja perda pode ser irreparável a uma sociedade é parte do patrimônio histórico.

Para isso, existem diversos tipos de patrimônio tanto imaterial quanto material.

O patrimônio material é aquele que é mais tangível, fácil de observar e descrever: uma ruina como os sete povos de missões: um campo arqueológico tais como os diversos encontrados em volta de Santa Maria, seja com dinossauros, pedras fossilificadas ou sambaquis; um prédio histórico tal como as Bibliotecas de Pelotas e Rio Grande; uma obra de arte de algum artista gaúcho ou um livro de muita importância.

Estes são visíveis, e mesmo aquele que é mais desinteressado por conhecimento ou memória histórica pode perceber seu valor intrínseco.

Mas é o patrimônio imaterial e cultural que por vezes é perdido sem consequências. Neste se encontram expressões culturais, tradições, danças, cerimoniais e, inclusive, a linguagem.

Este tipo de patrimônio histórico é mais abstrato e mais complexo. Como explicar para um religioso de uma religião contemporânea que os ritos das religiões indígenas são tão valiosos quanto o deles e não deve ser proibido ou destruído.

O choque cultural é inimigo da memória e da proteção do patrimônio imaterial, visto que a cultura ocidental é muitas vezes vista como superior. É devido a isso que as políticas governamentais de proteção a sociedade indígena são tão importantes. Enquanto nossa atual sociedade conhece algumas danças, vestimentas e linguagens indígenas; se nos mantivermos apagando a cultura destas sociedades, nossos filhos e netos não poderão conhecer este grupo rico de sociabilidade.

Camargo, Haroldo L. (2005). “Patrimônio e Turismo, uma longa relação”. Revista Patrimônio Lazer e Turismo. Revista online. Edição maio 2005. Acesso via https://www.unisantos.br/pos/revistapatrimonio/artigosdc19.html?cod=33

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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3 Comentários

  1. ‘[…] visto que a cultura ocidental é muitas vezes vista como superior’. Simplificação/generalização grosseira. Para começo de conversa teria que ser definido o conceito operacional de ‘cultura ocidental’. Os ianques são majoritariamente toscos, cheios da grana, mas toscos. Os britanicos são condescendentes com os ‘primos’, mas tem uma sofisticação (ao menos da classe media para cima) bem maior. Os franceses não gostam muito dos ianques, têm mais historia e culturalmente não gostam da riqueza/ostentação da (dá um tema, esquerda brasileira esta mais para gaulesa e a direita mais para Tio Sam). Alemanha até por conta da Reforma Protestante já tem diferenças importantes. Mais, tem todo o Oriente Medio e a Asia. Diria que o busilis aqui é ‘civilização é sofisticação’. Ou alguém vai comparar o Partenon e uma oca e dizer que têm o mesmo valor? Não tem como. Alas, grande maioria acha que construir uma oca é facil, na base do ‘isto ai eu consigo fazer’. Não, não consegue. Mais isto. Não é so assistir um video no Youtube.

  2. Busilis é simples. As pessoas têm que ter o direito a escolha. Se quiserem se integrar na sociedade moderna têm que ter esta possibilidade. Se quiserem manter as tradições (andando de Hilux e com iPhone no bolso) tudo bem. Ai que a porca torce o rabo. ‘a conservação dele, nos impor sacrifícios’. ‘políticas governamentais de proteção’. Dinheiro estatal facil. Onde aparece faz proliferar a picaretagem e o parasitismo. Gente que gosta muito de dinheiro, mas não gosta de ‘puxar o cabo da enxada’. Padrão Brasil.

  3. Por partes como diria Jack (que era estripador e não esquartejador). Os/as ‘intelectuais’ da aldeia estão para a ‘intelectualidade’ assim como os jogadores do Interzinho estão para o futebol. Falacia aqui, campeia solta nas torres de marfim da academia, é a mudança de contexto. André Chastel nasceu em Paris. Que leva este nome porque há mais de 2 mil anos atras era sede de uma aldeia do povo gaules chamado Parisii. Epoca do Julio Cesar. Questão toda é transferir o conceito da Europa para Terra Brasilis sem muita reflexao. O patrimonio por lá é o que ficou (parcela infima, grande parte se perdeu). Por aqui ‘patrimonio’ é o que um punhado de ‘especialistas’ no ar condicionado diz que é. Em alguns casos onde não existe patrimonio nenhum até inventam. Motivos varios, inclusive ideologicos.

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