Artigos

Fogo neles! – por Pylla Kroth

Os caras faziam um barulhão por todos os lugares em que passavam, eram uma Banda de Rock e como tal se comportavam. Anos 80, o rock brasileiro vivia seu tempo áureo. Porém, havia cidades do interior que achavam que o Rock ‘n’ Roll era uma coisa perigosa pra juventude. Aparecia aquele bando de cabeludos e tava feito o “furdunço”. O único cabeludo conhecido e aceito por consenso mesmo era chamado Jesus Cristo. E lá foram eles, abrindo cancha e fazendo barulho onde surgia a brecha.

A coisa foi andando e logo o estado do Rio Grande do Sul ficou pequeno. Agora já andavam por Santa Catarina e Paraná, e por vezes até São Paulo. Faziam disso sua profissão. Desbravadores, e porque não chamá-los de “Gauleses do Rock Gaúcho” –  isso rendeu até livro com este titulo “Gauleses Irredutíveis: causos e atitudes do Rock Gaúcho”, entre outros livros com a mesma temática onde eles figuram entre vários, tais como “Fragmentos do rock Gaúcho” e “Tá no Sangue, a história do Rock pesado gaúcho”.

Mas nos referidos livros ,as histórias são contadas de forma empírica, narrativas de fatos, dados, datas, acontecimentos, com poucas referências aos “causos” mais inusitados, pitorescos ou até bizarros que viveram essas bandas e seus componentes, que não pensavam em se misturar ao grande mainstream , onde o status de “Cult” era previamente ordenado, em lugar de acidental, e isso deixava os produtores furiosos , pois a qualquer momento tudo poderia acontecer, afinal a tríade Sexo, Drogas e Rock ‘n’ Roll caminhava junto , e isso era um perigo realmente, pois, pois… Há uma parte de mim que insiste até hoje em pensar que o Rock e de fato, a arte como um todo, tem um papel ocasional a exercer na arte cada vez mais difícil de nos fazer felizes por estarmos vivos. Raul dizia que o Pai de tudo isso era o Diabo, mas tenho cá minhas dúvidas.

Certa vez esta banda de Rock foi novamente contratada para voltar a uma pacata cidade catarinense, pois já havia, três anos antes, passado por lá como um furacão com sua apresentação, deixando um rastro de destruição. “Mas se chamaram novamente é porque gostaram!” Será? A agenda compreendia três shows, sexta em uma cidade, sábado e domingo em outras duas. Circo armado, a trupe pôs o pé na estrada. Logo ao chegarem na cidade do primeiro show  havia grandes cartazes nas ruas, “O Furacão voltou!”, “não percam!”, “Ingressos esgotados”… A alegria estava estampada na cara de todos integrantes, suas músicas tocando no rádio assim que o  motorista do ônibus sintonizou a emissora local. A ordem da produção era: sair do hotel, camarim, palco e hotel novamente, rigorosamente, pois era apenas a primeira de três, nada poderia dar errado! Os comparsas da equipe técnica, os mesmos há anos, bradaram, “que boas lembranças da última vez, hein?”, comentam dois roadies nos bancos de trás. Foi quando o produtor lhes disse: “não vão me sumir novamente!

Como na última vez que aqui estivemos e apareceram no hotel atrasados com o sol batendo no rosto, e todos dentro do ônibus preocupados à espera. Por onde estariam os meninos que nem no hotel dormiram?” Lembrando de um carrão chegando com os anjinhos “virados”da noite pro dia, sem dormir e o ônibus partindo atrasado por este fato, e de dentro saltam os dois felizes contando da farra que fizeram depois do show com duas lindas mulheres que  os levaram madrugada adentro até uma mansão na referida cidade e lá a noite se estendeu.

É chegada a hora do Show, concentração total no  camarim,  abrem se as cortinas, aquele momento mágico e que maravilha! Lá estava a casa lotada, a adrenalina “a milhão”, as quatro  primeiras músicas cantadas em coro pela multidão… realmente a banda estava “estourada nas paradas”, como diziam nos 80. Pausa pra cumprimentos e é chegada a hora da balada da banda, assim chamavam uma música lenta ou relacionada ao amor. Lá pela metade da música o cantor vê aquela língua de fogo vindo do meio da platéia!

Numa fração de segundos, pensou se tratar de algum tipo de brincadeira. Mas ai veio o segundo rastro de fogo. Olha para o lado e se vê sozinho, no palco, pois a banda, sem parar de tocar, arredou pro lado das caixas deixando apenas o cantor e o baterista que ficava praticamente escondido atrás dos pratos, tamanho era seu instrumento. Olha novamente pra frente e sente aquele clarão passar quente rente ao seu corpo. Sai em disparada pra coxia. “O que isso?”, “ É tiro, é tiro, vão pro camarim rápido!”.

Para o som. Acendem as luzes,  os seguranças entram em ação, derrubam e rendem o sujeito armado e desesperado no meio do salão. A banda, apavorada, sem entender o que estava acontecendo. É quando alguém entra no camarim e alerta: “escapem pela porta de trás, rápidos,  que o cara quer matar o cantor! O atirador anda com no mínimo três ou quatro capangas juntos!”

Já no hotel, ainda muito confusos e sem entender o motivo de toda aquela comoção, recebem o promotor do evento que chega meia hora depois,  para fazer às pressas o acerto do cachê com o produtor, e alertando que a banda toda pegasse a estrada imediatamente, pois o cara que queria matar o cantor era um “graudão” da cidade. E explica que na outra passagem da banda por lá, o dito cujo havia brigado com sua esposa e foi pra fazenda deixando ela sozinha na cidade, e foi ai que supostamente ela teria saído “com o cantor daquela banda” e passado a noite na mansão com as amigas e outros dois integrantes da banda, fato este que  a cidade inteira ficou sabendo do caso, deixando o marido traído no mínimo mal falado na cidade, para não dizermos “mal-chamado”.

E sabem quem era a mulher em questão? Pois, uma daquelas do tal carrão que chegou trazendo os roadies atrasados no hotel  pela manhã, quase perdendo o ônibus, na ocasião passada!  O fato é que naquela ocasião as moçoilas haviam chegado na festa após o término do show e a equipe técnica ainda estava no local e  ao verem a chance se apresentar,  se puseram a “beber todas” com as referidas, e para ganhar a atenção “meteram um grau” dizendo a elas que eles eram os músicos: o cantor, o guitarrista e o baixista.

E foi assim o boato se espalhou pela cidade sobre a traição da mulher do “graúdo”, que ao saber de onde lhe vinha a fama havia confidenciado a outras pessoas: “um dia eles voltam aqui e vou acertar essa parada é na bala!”. E dito e feito.

Vejam bem, vejam bem! O diabo pode ser o pai do Rock, mas desta  vez quem salvou a banda só pode ter sido aquele outro cabeludo conhecido na cidade: Jesus Cristo.

(Crônica baseada em fatos reais)

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo