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Pala mágico – por Pylla Kroth

Havia palavras que intrigavam aquele menino de 11 anos. “Proibido para menores de 18 anos”, “Cuidado”, “Perigo”, “Não entre sem ser convidado”, entre outras. Hiperativo, resolveu desvendar algumas destas.

Foi ao cinema na sessão das 14hs – ao matinê, como diziam – assistir “Ali-Babá e os 40 ladrões”, mas no Hall de entrada do cinema estava um cartaz encoberto com um pano em que ele conseguiu dar uma espiada ao ir comprar balas, e anunciava “Toda nudez será Castigada – Pornô Brasileiro”. Achou o filme da tarde um saco, queria mesmo era ver o proibido para menores de 18 anos, este sim.

Já havia pisado na grama da escola que tinha uma placa advertindo que não era permitido e achou uma delícia; por que proibiram de pisar ali? Entrou na sala da diretora da escola e sentou na sua cadeira fofinha e achou maravilhoso. Subiu na torre da repetidora de TV que mandava o sinal pra pacata cidade e de lá do alto dos mais de 57 metros avistara toda a cidade aos seus pés. Uma sensação indescritível. Por que proíbem tudo o que é bom? Subiu na escadinha pequeninha da torre da igreja, onde tinha uma placa advertindo “Perigo” e foi até o olho do sino enorme e de lá desceu pela corda achando aquilo fantástico.

Agora só faltava ver o filme proibido. Como fazer para entrar? Se pôs a pensar por dias, achou melhor não espalhar suas façanhas, pois poderia entrar nos ouvidos da família e isso levaria seus pais a uma decisão que já tinham inclusive ameaçado o garoto. “Se cometer novas proezas vamos te mandar pro ‘Internato dos padres’”, palavra assustadora para ele.

Entre os aprontes, tomara a garrafa de cerveja preta da avó, uma saborosa Malzbier, docinha, achou fantástica não só pelo sabor, mas também pelas risadas que dava sozinho depois em um mato ao lado de casa. Esse último fato lhe rendera um castigo, pois pra tentar enganar a vó, após tomar o liquido precioso, colocara dentro da garrafa um café preto bem forte e fechara a tampinha com todo cuidado, porém não obtivera sucesso e depois de algum tempo alguém descobrira.

Rondava um papo na cidade de um tal de comissário de menores chamado “Justo”. O temido, já tinha se deparado com o tal na festa da igreja e este não lhe fez cara boa, pelo contrário, não falou, mas “cafungou” mirando sua pessoa. Se caísse na mão dele estava “frito”, pois este levaria o menor até a casa dos pais e faria sérias advertências. Isso seria terrível pra toda família perante a sociedade. Com certeza iria ser “castigado”.

Contudo, por mais sensação de perigo que houvesse no fato, isso aumentava o desejo de assistir “Toda nudez será castigada”, pois todo castigo advinha de coisas prazerosas até o então. Foi ai que resolveu pedir ajuda ao “Seu” Lacerdão, o bolicheiro da esquina , ao qual ele havia flagrado no matinho praticando bigamia com a empregada do dito comissário e manteve em sigilo em troca de obter de vez em quando um punhadinho de balas. Resolveu então abordar: “‘Seu’ Lacerdão! Somos amigos, não somos?”,  ao que este lhe respondeu afirmativamente com o dedão “mata-piolhos”. O próprio já tinha dado nome aos dedos ao menino: “Seu minguinho”, “Seu vizinho”, “pai de todos”, “fura bolo”, e “mata-piolhos”, entre outros ensinamentos. “Posso lhe pedir algo mais que umas balas?”, prosseguiu. “Depende”, respondeu o bolicheiro surpreso. “É que eu gostaria de assistir um daqueles filmes que estão no cartaz lá no cinema e que são Proibidos”. “Pronto!” pensou o velho, batendo o “seu minguinho”, “seu vizinho” e “pai de todos” na cabeça. Pensou em silêncio e mirando o guri com o olho esquerdo aberto e o direito fechado. “Temos que pensar  em um plano, me dê alguns dias e te responderei ok?” E apontou o dedo “fura bolo”, fazendo sinal positivo com o “mata-piolhos” para o piá, que lhe devolveu o mesmo sinal. Pegou sua propina vitalícia de balas e foi embora cheio de esperanças.

Três dias se passaram e o menino já curioso pela resposta voltou ao bar. “E ai vai dar pra nós ir?”, “Bueno, moleque, temos que ser bem espertos por que, se algo der errado, coloco em risco toda clientela! Certo que ninguém vai me perdoar! Sábado terá sessão às 20h e depois as 22h, e é nesta última que vamos arriscar. Diga pra mãe que está com sono lá pelas 21:30, coloque uns panos e roupas embaixo das cobertas, pule a janela e venha correndo até o bar, estarei te esperando. Esperamos até não ter muito movimento na rua e lá ao lado do cinema te conto o plano”, “Feito!”.

Chegou o sábado e foi toda aquela euforia escondida. As horas demoraram a passar, naquele dia o relógio castigou o guri. Enfim anoiteceu. Tudo correu normalmente , janta servida no horário habitual, um pouco de sala e papo com a família ao lado do fogão a lenha e é chegado a hora do sono. “Sono? Mas tu não estás com cara de sono, menino!”, disse a mãe, “ mas se está dizendo, Deus te abençoe, vou te colocar pra dormir, pois está muito frio e vou colocar mais uma coberta na tua cama”. Pôs o menino dormir. “Boa noite meu filhinho querido, durma com Deus!”, “Boa noite mãe.”

Minutos de silêncio e ele levanta pé por pé, depois de fazer como aconselhado, abre a janela com cuidado, deixa a bola fazendo o suporte e…Vupt! Corre em direção ao bar do Lacerdão que já lhe aguardava vestindo um pala velho que mais parecia um cobertor, cobrindo-lhe do pescoço aos pés. Pega-lhe na mão e “vamos?” O Cinema situava-se na esquina e isso ajudava muito geograficamente. Dez metros antes de dobrar, Lacerdão olha pra ele e diz: “Na minha mão esquerda estou com meu ingresso, que já comprei meia hora antes, tu se pendura no meu braço direito que te cubro com meu pala, e vamos entrar, pois o filme já começou! Lá dentro dou um jeito, te agarra bem firme! 1 , 2, 3  e vamos!” Naquele instante nem respirar respirava o malazarte. Ufa…

“Boa noite, Seu Laça”! diz o bilheteiro com toda intimidade, “entre que já esta atrasado, o filme já começou!”. E lá se foram os dois na escuridão das cadeiras bem de trás;,por sorte estava com meia lotação e lá bem de trás, agora saindo de baixo do pala, como quem apareceu ao mundo quando nascera, viu pela primeira vez que o “Proibido” era bom demais! Por que todo esse engano? A cerveja da vó era doce, mas era na boca, agora sentira o doce nos olhos! Inesquecível doce sensação!

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