Coluna

Tamanho não é documento – por Bianca Zasso

A última edição do Festival de Cannes rendeu, entre bons filmes e a premiação de uma mulher como melhor diretora, a maravilhosa Sofia Coppolla, uma discussão acirrada sobre a presença de filmes produzidos pela plataforma streaming Netflix em festivais consagrados.

Há quem defenda que apenas filmes feitos para serem exibidos no cinema poderia concorrer. Entre os chegados nesta conclusão, está o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, integrante do último júri de Cannes e um apaixonado pelos clássicos. Do outro lado estava o astro Will Smith, defendendo a plataforma e seus investimentos em novas produções. Picuinhas à parte, é preciso pensar: será que realizar produções para mais de uma forma de exibição que não apenas o cinema é uma espécie de fim da “Sétima Arte”?

Esta colunista acredita que não. Prova disso é que, entre seus leitores (e acredite, eles são mais de uma dezena!) estão vários entusiastas da Netflix e similares. Já perdi a conta de quantas vezes pessoas me pediram para escrever sobre produções presentes no catálogo da plataforma.

São momentos em que me sinto como os atendentes das (infelizmente) quase extintas locadoras, sempre trocando ideias com os clientes que iam muito além do “filme bom e filme ruim”. Não se pode negar o fato de que muitas pessoas que antes viam um ou dois filmes por mês, no máximo, encontraram na praticidade de escolher o que assistir sentado no conforto do próprio sofá um estímulo para apreciar mais filmes durante a semana.

Meu avô, um cinéfilo de respeito, teve um intervalo gigante após o fim das locadoras da cidade onde mora. Com a chegada do Netflix, ele pode rever os seus preferidos e ainda descobrir novos amores cinematográficos. Concordo com ele na queixa sobre a falta de clássicos e mesmo de cinematografias de outros países, em especial latino-americanos e do Oriente Médio, mas não há como negar que é uma delícia poder dividir sessões ao seu lado como nos velhos tempos.

Realizar um trabalho, para um cineasta, por mais apaixonado pelo ambiente cinema que ele seja, não é ficar matutando formas de prender o público em uma tela gigante ou minúscula. Boas histórias não precisam de um formato específico para serem…boas histórias. Se é para usar o exemplo da literatura, vale lembrar que a qualidade do papel não garante a maestria do texto. Já me emocionei com livros de bolso que custaram algumas notas e já joguei contra a parede livros com capas incríveis e nenhuma linha que prestasse.

Não vou negar que, se fosse há alguns anos, minha opinião seria mais parecida com a de Almodóvar. Há uma tendência quando se começa a gostar de cinema de endeusar a sala escura. Óbvio que é um lugar sagrado, dotado de magia até quando exibe um filme menor. Mas um Bergman é um Bergman até em uma TV de 14 polegadas (elas ainda existem?). Se toca nossa alma, não importa o tamanho e o lugar.

Agora saiam da frente de seus computadores e vão viver a magia. Em casa ou no cinema.

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