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UFSM. Estudantes negros são alvo de mensagens racistas. Pichações trazem, outra vez, símbolo nazista

Esta é uma das três pichações encontrados na sala do Diretório Livre do Direito (DLD), da UFSM, na sexta-feira (15). Nas outras duas, constam os nomes de dois estudantes negros junto a ofensas racistas e o desenho de uma suástica. Foto Reprodução

Por Maiquel Rosauro

“O lugar de vocês é no tronco”, “fora negrada” e “negros fora”. As expressões de cunho racista, acompanhadas de uma suástica, foram encontradas nessa sexta (15), na parede da sala do Diretório Livre do Direito (DLD), no prédio da antiga reitoria, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). No mesmo local, em 17 de agosto, estudantes também encontraram o símbolo nazista desenhado na parede.

As mensagens anônimas dessa sexta foram direcionadas a dois acadêmicos da instituição. No total, são três pichações nas paredes, sendo que em duas constam os nomes dos alunos junto a ofensas racistas, e uma suástica.

Uma denúncia foi registrada na Polícia Federal, que investigará o fato. O Gabinete do Reitor Paulo Burmann se pronunciou, no Facebook, lamentando o ocorrido.

Suástica encontrada em agosto na sala do DLD. Foto Reprodução

“Repudiamos qualquer manifestação que incite o ódio e a violência contra um indivíduo ou grupo social, desrespeitando os direitos humanos universais, a exemplo do racismo”, diz a nota oficial.

Uma das vítimas das mensagens utilizou o Facebook para denunciar as ofensas. Segundo ela, os atos demonstram claramente o racismo e o ódio de alguns membros do curso de Direito. Todavia, a estudante afirma que não irá se intimidar.

“Lamentamos mais ainda aos que nos ofenderam, pois o seu propósito de nos colocar para baixo e tentar nos retirar do meio acadêmico FRACASSOU COM MUITO SUCESSO”, diz a publicação.

A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o desenho da suástica encontrado em agosto. As novas ofensas também devem se tornar alvo de uma investigação.

 

Confira a nota do Gabinete do Reitor da UFSM:
Lamentavelmente, registramos um novo episódio na sala do DLD do curso de Direito, com a escrita violenta que ataca dois estudantes negros.

Mais uma vez, expressamos publicamente nosso compromisso com uma educação transformadora, que seja capaz de conduzir e fomentar o respeito às diferenças étnicas, de gênero, de orientação sexual, de classe e geracionais. Repudiamos qualquer manifestação que incite o ódio e a violência contra um indivíduo ou grupo social, desrespeitando os direitos humanos universais, a exemplo do racismo.

A UFSM se solidariza com os estudantes agredidos e compromete-se a acompanhar firmemente o trabalho das autoridades federais no sentido da apuração das responsabilidades.

Conclamamos a cultura de paz e da tolerância.

 

Confira a publicação de uma das vítimas das ofensas:
Não, as imagens não são do século XV ou XIX. São do século XXI, ano 2017.

“O lugar de vocês é no tronco”, “fora negrada” e “negros fora”, acompanhadas de suásticas (símbolos do nazismo), foram as expressões utilizadas por pessoas COVARDES, que, por trás do ANONIMATO, resolveram xingar e atacar, de maneira direta, a mim e ao meu colega XXXXXX*. Elas foram escritas na parede da sala do Diretório Livre do Direito (diretório acadêmico do direito da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM) e demonstram claramente o racismo e ódio de alguns membros do curso. De fato, não representam a faculdade, mas chamam a atenção para o tipo de pessoa que está se formando dentro dos muros de uma universidade pública – um local que deveria ser acolhedor, plural e de apoio às diferenças.

Eu e meu amigo, sempre dedicados em terminar a curso, cada um com suas dificuldades, fomos pegos de surpresa por esse ato nojento e sem escrúpulos, na manhã dessa sexta-feira nublada. Por mais que nós, como dois negros, lidemos com o racismo todo santo dia, nunca esperamos por uma atitude tão preconceituosa como esta, que demonstra o PIOR do ser humano. Indignada é pouco para definir como me sinto nesse momento.

É chocante perceber que estamos incomodando pela COR DA NOSSA PELE em pleno 2017. Tem sido um ano muito difícil para o avanço dos direitos humanos e pudemos experimentar ao vivo o pior de um mundo que tem, cada vez mais, deixado transparecer discursos de ódio contra as minorias.

Essa postagem, porém, não tem o condão de instigar pena em que lê. Pelo contrário, é um grito de RESISTÊNCIA de duas pessoas que SE NEGAM a se calar diante de tamanha falta de respeito, humilhação e discriminação. Lamentamos fazer parte da estatística diária de casos incontestáveis de injúria racial – o que muitos ainda têm a audácia de chamar de “mimimi”, quando não aguentariam um dia sob nossa pele.

Todavia, lamentamos mais ainda aos que nos ofenderam, pois o seu propósito de nos colocar para baixo e tentar nos retirar do meio acadêmico FRACASSOU COM MUITO SUCESSO.

Nós não vamos voltar pra senzala, o tronco nos já colocamos no fogo e não temos a menor pretensão de nos tornarmos menos do que os melhores juristas que podemos ser.

Vocês vão ter que nos engolir. Sentimos muito (ou melhor, não).

“SE A CASA GRANDE QUER A SENZALA DE VOLTA, TALVEZ DEVAMOS LEMBRAR COMO SE COLOCA FOGO NO ENGENHO”.

* O site não divulgará o nome do estudante citado para evitar uma exposição indesejada.

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Um Comentário

  1. Não vou tomar esta história pelo valor de face. Desenho com linhas retas, proporcional, simétrico, sem sinais de borrões.. Algo que não se faz em cinco minutos. Diretórios geralmente ficam vazios no horário de aulas, mas é o tipo de lugar onde pode entrar alguém a qualquer instante, alguém deve ter ficado “vigiando”.
    Observando o contexto nota-se que os futuros bacharéis cuidam bem do patrimônio público. À direita da chave da porta um esboço de foice e martelo razoavelmente bem desenhado. Pensamentos “profundos”: “Coisas que detesto: 1- vandalismo, 2- ironia, 3- listas, 12- falta de continuidade, 3- não saber contar, 4- (borrão), 6- mistério”.
    As vítimas foram discriminadas e ofendidas, não há dúvida. Mas acho precipitado atribuir autorias a esmo. Melhor esperar a investigação.

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