Política

CRÔNICA. Orlando Fonseca e o sujeito que suspeita

“Já que está cada vez mais difícil falar em indignação – quanto mais em se indignar -, vou falar ao menos de suspeitar. O sujeito que se indigna – a forma correta do Português culto é elegante, e representa pouco o que se pretende; melhor, nesse caso é a forma oral popular: “indiguina” – coloca-se acima da situação. Em alguns casos, sem muita dificuldade, tal a baixeza do que o provoca. Em outros, faz um esforço de colocar a dignidade humana que lhe resta em um nível superior ao da bestialidade reinante. Já o sujeito que suspeita tem uma atitude precípua da qual não arreda pé: parte das suas convicções alimentadas por anos de experiência como observador. Fica na sua, diante de mais uma lição aprendida, a de que é comum nos dias atuais descer tanto, mas tanto que não é possível enxergar a saída, a luz no final do túnel, ou o fundo do poço. O sujeito que suspeita aprende quando se detém às sutilezas. Sofre porque ao apontá-las aos demais é incapaz de fazê-los ver o que ainda não é evidência, mas que há de se consolidar em breve, para surpresa e espanto geral da galera.

Foi tomando injeção na região glútea, ainda antes dos 7 anos de vida, que aprendi a suspeitar de quem diz “não vai doer nada”. Normalmente quem diz isso tem salvo-conduto para usar ferramentas pontiagudas ou cortantes, ao largo de nosso desespero e a despeito de nossos protestos – especialmente quando ainda somos crianças, sem responsabilidade sobre nossos atos, totalmente dependentes da conivência de nossos pais com tal violência. Aprendi a suspeitar de quem, em um debate com tempo cronometrado, anuncia, no início de sua fala, que vai ser breve, que nem vai usar todos os minutos disponíveis. Esse é justamente o que vai se alongar além do tempo convencionado, e ainda pedir alguns minutos mais. Simples: quem quer ser breve é, especialmente eliminando do discurso palavras dispensáveis, como dizer que vai dizer, ou que fazer o que faz…”

CLIQUE AQUI para ler a íntegra da crônica “Fim da História”, de Orlando Fonseca. Orlando é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura, PUC-RS, e Mestre em Literatura Brasileira, UFSM. Exerceu os cargos de Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e de Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados, foi cronista dos Jornais A Razão e Diário de Santa Maria. Tem vários prêmios literários, destaque para o Prêmio Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia, WS Editor; também finalista no Prêmio Açorianos, da Prefeitura de Porto Alegre, pelo mesmo livro, em 2002.

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Um Comentário

  1. Artigos desse colunista sempre provocam a suspeita … k k k …. que, nos “finalmentes”, a direção do pensamento levará para o “bem estar” da ideologia que ele defende, daquele jeito “vivo numa outra dimensão da existência”.

    Dito e feito. Faz uma boa introdução com estilo – afinal, é especialista em escrever tecnicamente bem -, mas escrito para convergir, em certo momento, na afirmativa que o presidente atual é ilegítimo…. k k k..

    Isso cansa.

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