Um corpo é um corpo – por Bianca Zasso
Esta que vos escreve, apesar de já ter vivido três décadas neste planeta, ainda deve conservar alguma inocência, já que ainda me surpreendo com coisas que, como diz minha mamãezinha querida, “existem desde sempre”. Visualize a cena: sala de cinema quase lotada, última sessão da noite, platéia formada majoritariamente por adultos. As luzes se apagam, começam os trailers e junto com eles um papo cerrado em alto e bom som. Acredito que os conversadores confundiram o conforto da poltrona da sala de exibição com o sofá da sala de casa.
Mudemos de cenários: museu, exposição onde, logo na entrada, fica especificado que a obra apresentada contém nudez. A tradicional família brasileira adentra no recinto, com a filharada pela mão. Mamãe indignada, papai aos berros acusando o local de fazer apologia ao sexo.
Minhas considerações: tanto o espectador de língua inquieta do cinema quanto o pai e a mãe do museu não podem exigir bons modos de seus filhos em nenhuma situação. Isto porque, está mais que comprovado que é a atitude e não o discurso que ensina a gurizada. Quase sempre, quem conversa sem preocupação durante um filme também costuma soltar risinhos nervosos durante cenas de sexo.
É daqueles momentos em que eu penso seriamente em olhar para o sujeito e perguntar o que é tão engraçado em duas pessoas (ou mais) transando. Talvez sejam os mesmos que ao se depararem com um corpo nu já pensam em sexo. Um corpo é um corpo. Eu tenho, você tem. Maiores ou menores, com peculiaridades, de todas as cores, de todos os formatos. Uma pessoa que só consegue associar um corpo nu a sexo e nada mais é que precisa que gritem por socorro por ela. Algo está errado.
Sim, esta é uma coluna de cinema, mas sei que tenho a liberdade (gracias, chefe Claudemir!) de manifestar outras temáticas por aqui. E corpos fazem parte da Sétima Arte desde que ela nem conhecia a cor e o som. Como esquecer as peles de Emmanuelle Riva e Eiji Okada se tocando desesperadamente em Hiroshima, Mon Amour ? São corpos que falam. E as vampiras de Jess Franco? Vestidas elas não seriam inesquecíveis. E Tinto Brass? E Russ Meyer? Carlos Reichenbach? Cinema, por mais fantasioso que seja, precisa de gente, de carne, osso, alma e sentimento. Caso contrário, é apenas uma seqüência de imagens bonitinhas. Se não marca, não nos muda. E continuar os mesmos nunca deve estar nos nossos planos. Experimente. Não gostou? Basta não repetir a dose. Ninguém vai obrigar você a ver um artista nu em um museu nem assistir uma cena de sexo. Você escolhe se quer ir ou não.
E, minha gente, um corpo é um corpo. A tal safadeza que alguns comentam está nos olhos de quem vê. Na tela e na vida.
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