Do Dantro. Cerne da crise está na população. Na sua porção majoritariamente silenciosa
Recebi artigo assinado pelo bacharel em Ciências Sociais Dantro Guevedo. Nele, o autor reflete sobre a crise política. E tem opinião singular a respeito. Ninguém precisa concordar. Mas, com certeza, é importante ler. Confira a íntegra, a seguir:
Faz parte
Eu sei que, ao escrever o que penso, além de ter a certeza de que existo (é claro), também me comprometo. Mas viver requer comprometimento, e como ando bem vivo, não posso deixar passar o momento. Essa tal de Reforma Política é minha conhecida desde os longínquos tempos de faculdade, quando ainda elaborava projetos de pesquisa para as ciências sociais. E desde aquela época eu já ouvia falar dela, associada a uma coisa chamada de Crise do Estado.
Mas como a política é um mistério para a maioria, e tudo o que nela acontece parece tão distante do dia-a-dia do trabalhador e do cidadão comum, o obvio seria ignorá-la e nem fazer caso. Porém, nem sempre o que é mais cômodo representa a melhor escolha. Por isso não posso deixar passar o momento. Simplesmente porque corre sangue em minhas veias. E, é um compromisso meu expor e esclarecer as dúvidas da maioria da população, até para retribuir toda minha formação no ensino público, desde o primário até o terceiro grau.
Na essência o sistema político no Brasil é idêntico ao europeu, ou de qualquer país de primeiro mundo. Existem muitos políticos, eleitos pela maioria da população, que tomam decisões e definem os rumos dos recursos públicos, através de muita negociação e muitos conflitos pessoais e partidários, e que entre muitos acordos, defendem tanto interesses partidários quanto interesses de empresas ou da maioria da população e, isso tudo sempre acaba gerando resultados práticos, que são percebidos nos serviços públicos, como habitação, saúde, educação, segurança e obras de infra-estrutura.
A Reforma Política teria a função primordial de melhorar os resultados práticos, através de mudanças na forma de negociar, com mudanças nas regras do jogo, alterando a velha lógica do sistema político, a ponto de priorizar a defesa dos interesses da maioria da população (aquela que elege os políticos).
Basicamente existem seis propostas fundamentais para a reforma política, o 1) voto em lista fechada, flexível ou mista, 2) voto distrital ou distrital misto, 3) fim da reeleição em todos os níveis para o executivo, 4) financiamento público de campanhas, 5) fim das coligações para as eleições do legislativo, e 6) fidelidade partidária. Mas cabe a pergunta, quais os objetivos da reforma? Se essas mudanças pretendem apresentar uma resposta para a Crise do Estado então devemos primeiro entender o que isso significa.
O cerne da Crise do Estado está na população. Entre aqueles que não fazem política, na maioria silenciosa que não tem conhecimento, nem interesse, nem confiança, entre aqueles que estão distantes do processo decisório e, que não vêem perspectivas de inserção política. Para essas pessoas não há clareza entre as diferenças entre um procurador, senador, deputado, ministro, juiz, delegado, promotor, uma medida provisória, uma lei, um plano econômico, uma decisão do COPOM, da Casa Civil, do Supremo Tribunal Federal, ou de uma CPI. Por isso a população não sabe como agir, pois tem dificuldades de interpretar as mensagens que recebe. Um problemão herdado da Ditadura Militar, que alienou nossas escolas, nossos alunos e nossos cidadãos em geral.
O bom é saber que, pra tudo na vida há solução. No caso da crise e da reforma política, uma das melhores alternativas seria por em prática a fidelidade partidária através de 1) impedimentos para o troca-troca de partidos por parte de políticos eleitos, e o 2) engessamento das coligações nos três níveis federativos a cada eleição (valendo tanto para o executivo quanto para o legislativo). O resto, bem o resto, pode ser discutido mais tarde.
Isso facilitaria muito a vida da população, pois ficaria mais fácil de identificar as diferenças de projetos e programas políticos, e estimularia a tomada de posição e identificação ideológica. Além, é claro, do aumento da moralização política, pois a facilidade de identificação traria mais facilidade de responsabilização dos atos políticos.
Porém, até mesmo as mudanças que hoje são propostas requerem negociações, mas essas ainda seguem aquela velha lógica. Para superar essas barreiras só com mobilização popular. Para isso que existem movimentos estudantis, movimentos sindicais e movimentos populares, para apontarem a direção e fazer pressão. Aliás, faz tempo que não vejo o Calçadão do Salvador Isaias e a Avenida Acampamento fechados por movimentos sociais com motivações políticas.
Mas tudo isso faz parte do jogo político, o que precisamos mesmo é melhor entendê-lo para saber como atuar nele. Meu pai repetia com freqüência um ditado que dizia o seguinte, se você não sabe o que quer e nem mesmo sabe o que fazer, saiba que, existirá alguém que irá tomar essas decisões por você, por isso se mantivermos os olhos bem abertos, e ficarmos bem informados, saberemos compreender o que se passa e principalmente saberemos quando e como agir. Palavra de escoteiro!
Dantro Guevedo
Bacharel em Ciências Sociais
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